Logotipo Afya
Anúncio
Neurologia18 maio 2022

Metade da população mundial sofre de cefaleia, aponta estudo norueguês

Estudo revisou os números globais sobre cefaleia e concluiu que 52% da população sofre com a enfermidade, no mínimo, uma vez ao ano.

Por Úrsula Neves

Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU, a sigla em inglês) aponta que metade da população mundial sofre de cefaleia. O grupo revisou os números sobre ocorrência de enxaqueca na população global e concluiu que 52% dos indivíduos afirmam sofrer com a enfermidade, no mínimo, uma vez ao ano.

Vale ressaltar que essa porcentagem é consideravelmente maior do que é estimado (35%) pela iniciativa Global Burden of Disease (GBD), responsável por mapear o impacto internacional de diferentes doenças, servindo de referência para a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os achados foram publicados no dia 12 de abril na revista científica The Journal of Headache and Pain, do grupo Nature.

Metade da população mundial sofre de cefaleia, aponta estudo norueguês

Prevalência maior de cefaleia em mulheres e nos mais jovens

O trabalho buscou fazer uma análise mais detalhada dos números, reunindo 357 estudos epidemiológicos mundiais para analisar o cenário global atual. Depois de aplicar diversas correções estatísticas – principalmente visando compensar a falta de pesquisas sobre o tema em países mais pobres —, a estimativa cresceu substancialmente em relação aos cálculos da GBD.

Mas, apesar da revisão dos números gerais de prevalência, os percentuais conhecidos para as duas diferentes classificações do problema são equivalentes: A enxaqueca afeta 14% da população mundial. Já as cefaleias com alta frequência (por mais de 15 dias por mês) prejudicam a qualidade de vida de 4,6% dos indivíduos.

Leia também: Caso clínico de cefaleia: quais red flags procurar na emergência?

O levantamento, liderado pelo neurologista Lars Jacob Stovner, confirmou uma tendência já observada no GBD: de que a prevalência de enxaqueca e cefaleia frequente no sexo feminino é quase o dobro do masculino.

É importante destacar que geneticamente, homens e mulheres apresentam a mesma tendência a ter enxaqueca. Porém, a ocorrência do problema é facilitada pelo estrogênio, enquanto a testosterona age como uma ação protetora em relação aos homens. Por isso, a partir da puberdade, a mulher fica mais suscetível às crises.

Uma das conclusões mais interessantes do estudo foi a faixa etária de maior prevalência de cefaleia: entre 10 e 19 anos. Essa é a primeira vez que o grupo abaixo dos 20 anos aparece como o mais acometido pela enfermidade.

É fato que o aumento do número de casos de cefaleia já estava sendo observado em consultórios médicos nos últimos anos. E o cenário da pandemia de Covid-19 só agravou o problema.

“Ressalta-se que, de fato, entre os neurologistas foi bastante comentado o aumento da prevalência de cefaleia durante a pandemia, acreditando-se inclusive que essa queixa tenha sido subnotificada nos pacientes acometidos por Covid- 19, tanto pela própria infecção sistêmica da doença como, em sequência, pelo gatilho de estresse que seu diagnóstico e lembranças de tragédia global trazem a muitos pacientes”, constatou a neurologista do Hospital São Francisco na Providência de Deus, no Rio de Janeiro, Raquel Custódio da Silveira, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

Já era observada igualmente uma maior prevalência de enxaqueca no público feminino. Entretanto, em relação ao aumento em pacientes mais jovens, a especialista destacou que diversos fatores podem ser questionados, principalmente, em relação às mudanças de estilo de vida e ambientais, o que inclui atividade física e alimentação; contextos sociais e familiares; além de mudanças de comportamento de forma geral.

“Tudo isso propicia alterações no nosso equilíbrio hormonal, em nossos neurotransmissores, o que acarreta uma maior predisposição e aumento de doenças como a cefaleia”, explicou a neurologista Raquel Silveira.

Variações regionais

Também há variações regionais no estudo, com a América Latina e o Caribe tendo mostrado prevalência maior que a média (55%). A única região da OMS com índice maior é a que inclui o Oriente Médio e o Norte da África (60%).

Como os levantamentos epidemiológicos em países mais pobres são mais raros e menos detalhados, a margem de erro das estimativas é mais alta.

Para compensar as lacunas na disponibilidade de dados, os cientistas realizaram análises de diversos fatores para saber quais poderiam contribuir para distorcer dados. Foi levado em conta a época em que o estudo foi realizado, a região, os subgrupos incluídos e outros fatores.

Os números revistos apontam que, pelo menos, 15% da população mundial sofrem de um episódio de cefaleia uma vez ao dia. Incluindo estudos de 1960 até 2020, o grupo de estudiosos norueguês ainda ressaltou que a prevalência geral de cefaleia parece estar subindo em muitas regiões, mas a precisão dos dados não permite tirar conclusões definitivas.

Saiba mais: IM/ACP 2021: quais as novidades no manejo agudo das cefaleias primárias?

“O que está claro é que, no geral, os transtornos de cefaleia são altamente prevalentes no mundo todo e podem ter um impacto alto. É interessante analisar no futuro as diferentes causas e como elas variam entre os grupos para direcionar melhor a prevenção e o tratamento”, afirmou Lars Jacob Stovner, um dos autores do estudo, em um comunicado à imprensa.

Para a neurologista Raquel Silveira, um ponto importante é que em países mais pobres, como o nosso — onde o acesso a um médico especialista é mais demorado — a automedicação é muito frequente nas mais diversas enfermidades, incluindo a cefaleia.

“Nesse caso, com o passar do tempo, o abuso e o uso de diversos medicamentos pode tornar o efeito medicamentoso pouco eficaz, além de causar um tipo de cefaleia por abuso de analgésicos”, advertiu a especialista.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Neurologia