A FDA, departamento de regulamentação de medicações dos EUA, aprovou o uso da ciclobenzaprina sublingual, uma droga não opioide, para o tratamento da síndrome álgica em pacientes portadores de fibromialgia, uma doença que afeta 2 a 4% da população mundial, principalmente pacientes do sexo feminino, entre 30 e 55 anos.
A fibromialgia é uma síndrome de dor crônica generalizada de origem central, sem relação com danos teciduais identificáveis. Além da dor, frequentemente cursa com fadiga persistente, sono não reparador, alterações cognitivas como dificuldade de memória e concentração e sintomas somáticos como cefaleia, síndrome do intestino irritável e distúrbios do humor.
Atualmente o seu tratamento resume-se em medidas não farmacológicas como exercícios físicos regulares, terapia cognitivo comportamental e técnicas de meditação e relaxamento, e terapia farmacológica com antidepressivos, anticonvulsivantes, relaxantes musculares e analgésicos simples.
A ciclobenzaprina é um miorrelaxante, estruturalmente similar aos antidepressivos tricíclicos, com efeitos farmacológicos semelhantes, porém sem efeito antidepressivo, bastante utilizada em casos de dor aguda de origem músculo esquelética, acompanhada de espasmos neuromusculares.
O estudo em questão, teve como objetivo, avaliar a eficácia e segurança do uso dessa droga, de forma sublingual, à noite, com o objetivo de promover analgesia focando no fator do sono não restaurador em pacientes portadores de fibromialgia.
Método
Este ensaio clínico (FASE 3), duplo-cego, randomizado, multicêntrico e controlado por placebo, foi realizado no período de abril 2022 e novembro 2023, em 33 instituições dos EUA. O estudo separou 457 pacientes em dois grupos na proporção de 1:1 para receber ciclobenzaprina 2,8 mg uma vez à noite por 2 semanas, seguido de 5,6 mg por 12 semanas, ou placebo correspondente.
Os pacientes escolhidos tinham entre 18 e 65 anos, diagnóstico primário de fibromialgia, pelo 2016 Revisions to the 2010/2011 Fibromyalgia Diagnostic Criteria. Foram excluídos pacientes que apresentavam qualquer alteração clínica ou psiquiátrica que pudesse comprometer a avaliação pessoal das análises.
Como análise primária, foi avaliado a mudança em relação ao valor basal, na semana 14, na média semanal das pontuações diárias de intensidade da dor. E na análise secundária, incluíram avaliações baseadas na Impressão Global de Mudança pelo Paciente, nos sintomas e função do Questionário de Impacto da Fibromialgia, nos instrumentos do sistema de medição de resultados relatados pelo paciente para distúrbios do sono e fadiga, além das pontuações de qualidade do sono. Tudo anotado pelos pacientes em um diário de forma cotidiana.
Resultados
No total dos pacientes incluídos no estudo, 81% e 79,6% dos pacientes que receberam ciclobenzaprina e placebo, respectivamente, completaram o estudo. O tratamento com ciclobenzaprina sublingual, em comparação ao placebo foi associado a reduções significativamente maiores nas análises primárias da dor e em cada uma das outras análises secundárias.
Na análise da redução da dor em 30%, os pacientes que fizeram uso da medicação sublingual comparado com os pacientes placebos na semana 14, levaram vantagem, com uma proporção de 45,9% para 27,1% respectivamente.
O mesmo ocorreu na análise da redução álgica em 50%, com um comparativo de 22,5% no grupo que recebeu ciclobenzaprina sublingual contra 13,3% do grupo placebo.
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Essa diferença também foi significativa quando se considerava a análise dos grupos por subclasses, como por exemplo por classe de etnias e idade, os pacientes que fizeram uso da ciclobenzaprina sublingual, apresentavam melhora da dor de forma mais intensa que os grupos placebos.
Os eventos adversos sistêmicos mais comuns emergentes do tratamento com ciclobenzaprina sublingual e placebo foram covid-19 (4,3% vs 3,1%, respectivamente), cefaleia (3,0% vs 1,8% respectivamente) e sonolência (3,0% vs 1,3% respectivamente); os efeitos adversos mais comuns no geral foram reações locais no sítio de administração, incluindo hipoestesia oral (23,4% vs 0,4% respectivamente), relatos de gosto anormal do produto (11,3% vs 0,9% respectivamente) e parestesia oral (6,9% vs 0,9% respectivamente), porém foram transitórios e autolimitados. Os eventos adversos relacionados a covid-19 foram pelo fato de o estudo ter sido realizado no ápice da pandemia.
Conclusão: efeito do tratamento sobre a síndrome álgica da fibromialgia
A terapia farmacológica tem o potencial de proporcionar alívio e também de ajudar a investigar os possíveis mecanismos da dor nociplástica encontrada em pacientes com fibromialgia e possivelmente outras condições crônicas sobrepostas a síndrome álgica desses pacientes. Nesse escopo, o sono prejudicado tem uma grande influência no quadro em questão, tornando-o alvo da farmacoterapia da fibromialgia.
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Nesse ensaio clínico randomizado e controlado por placebo, o tratamento com ciclobenzaprina sublingual a noite, esteve associado a melhora significativa dos sintomas centrais da dor generalizada, do sono perturbado e da fadiga em pacientes com fibromialgia, sendo geralmente seguro e bem tolerado.
Os resultados desse estudo validam os achados de um ensaio clínico anterior de fase 3, que também demonstrou eficácia na redução da dor com o uso dessa medicação em pacientes com diagnóstico de fibromialgia.
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