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Neurologia7 dezembro 2022

Efeitos do lecanemab na doença de Alzheimer precoce são positivos?

Os resultados sobre lecanemab podem ajudar a pavimentar um caminho para tratamentos e acompanhamentos para a doença de Alzheimer.

Os pacientes, amigos, familiares, profissionais da saúde que de forma direta ou indireta lidam com a doença de Alzheimer, já se frustraram com falsas esperanças, decepção e controvérsias no que diz respeito aos tratamentos propostos. Com uma estimativa de 55 milhões de pacientes em todo o mundo com demência, a necessidade de um tratamento eficaz é inegável. Mas os esforços para desenvolver um medicamento que possa modificar o curso da doença de Alzheimer, usando anticorpos contra a proteína beta amiloide (Aβ) do cérebro, sofreram inúmeros contratempos nos últimos 20 anos.

Leia também: Glaucoma e Alzheimer: qual é a relação entre essas doenças?

Há quase uma década, os primeiros anticorpos anti-Aβ testados em ensaios de fase 3, bapineuzumab e solanezumab, não melhoraram os resultados clínicos na doença de Alzheimer leve a moderada. As esperanças foram frustradas novamente em 2019, quando dois ensaios de fase 3 de aducanumab — anticorpos anti-Aβ que visam especificamente agregados de Aβ — foram interrompidos precocemente.

A ressurreição e a controversa aprovação do aducanumab em 2021 pela Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, despertou desapontamento na comunidade científica.

Efeitos do lecanemab na doença de Alzheimer precoce são positivos

Novo estudo

Neste contexto, em 29 de novembro, os resultados do aguardado estudo CLARITY AD de lecanemab — um anticorpo direcionado a oligômeros Aβ maiores, ou protofibrilas — foram apresentados na conferência de Ensaios Clínicos sobre a Doença de Alzheimer em São Francisco, Estados Unidos, e publicados simultaneamente.

Métodos

No ensaio, 1.795 pessoas com comprometimento cognitivo leve ou doença de Alzheimer precoce, além de evidências de amiloide em uma tomografia PET ou por exame de líquor (LCR), foram designadas aleatoriamente para receber 10 mg de lecanemab por infusão intravenosa a cada 2 semanas, ou placebo combinado.

Resultados do lecanemab na doença de Alzheimer

Após 18 meses de tratamento, o lecanemab reduziu o declínio cognitivo, conforme medido pelo Clinical Dementia Rating-Sum of Boxes (CDR-SB), que quantifica a gravidade dos sintomas em uma variedade de domínios cognitivos e funcionais, em 27% em comparação com o placebo (uma diferença de 0,45 pontos no CDR-SB).

A incidência de anormalidades de imagem relacionadas ao amiloide (ARIA), um evento adverso associado a anticorpos anti-Aβ e que se manifesta como edema ou micro-hemorragias, ocorreu em 21% do grupo lecanemab; a maioria dos casos foi assintomática e detectada incidentalmente.

Depois de uma espera tão longa e infrutífera por uma terapia bem-sucedida para a doença de Alzheimer, um estudo de fase 3 mostrando eficácia nos resultados clínicos é uma notícia bem-vinda. No entanto, uma diferença de 0,45 pontos no CDR-SB, uma escala de 18 pontos, pode não ser clinicamente significativa.

Um estudo de 2019 sugeriu que a diferença mínima clinicamente importante para o CDR-SB foi de 0,98 para pessoas com comprometimento cognitivo leve e suposta etiologia de Alzheimer, e 1,63 para aquelas com doença de Alzheimer leve. Além disso, o desenvolvimento de ARIA — visto em um em cada cinco pacientes que tomam lecanemab — poderia potencialmente levar ao desmascaramento, introduzindo viés.

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Comentários

Os ensaios em andamento estão avaliando a eficácia da administração subcutânea e se o lecanemab pode prevenir o início da demência em pacientes com patologia amiloide, mas sem sintomas clínicos.

Ensaios mais longos são necessários para determinar a eficácia e segurança do lecanemab no início da doença de Alzheimer. Uma decisão ainda não foi tomada sobre o custo, mas é provável que seja inviável para países de baixa e média renda — onde a maioria das pessoas com demência vive. Muitos sistemas de saúde não têm a infraestrutura para permitir a implantação generalizada de lecanemab, por exemplo: a disponibilidade de imagens PET para determinar a elegibilidade para tratamento assim como capacidade de avaliações regulares por ressonância magnética para detectar a ARIA é inviável.

Mensagem prática

Os resultados sobre lecanemab podem ajudar a pavimentar um caminho para tratamentos e acompanhamentos para a doença de Alzheimer, mas por enquanto, a principal mensagem de saúde pública para a doença de Alzheimer continua sendo prevenção, intervenção e cuidados com demência: controlar os fatores de risco modificáveis — como hipertensão, tabagismo, diabetes e obesidade — para manter a saúde do cérebro ao longo da vida.

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