A apneia obstrutiva do sono atinge cerca de 2 a 9% da população adulta, sendo pouco reconhecida pelos clínicos e desvalorizada pelos pacientes. A sua correlação com estado inflamatório crônico, obesidade e hipertensão de difícil controle já são bem estabelecidos. Contudo, estudos recentes mostram a importância dessa condição para o risco de desenvolvimento de doença de Alzheimer (DA) e declínio cognitivo acelerado.
A doença de Alzheimer
Ela é caracterizada pela perda progressiva de memória e disfunção executiva. Sua base fisiopatológica é relacionada ao acúmulo de placas β-amiloide e neurofibrilas conhecidas como proteína TAU. Na sua palestra, professor Craig L Phillips descreve os possíveis mecanismos que a apneia obstrutiva do sono (AOS) poderia levar ao acúmulo de proteína β-amiloide e TAU no Sistema Nervoso Central (SNC).
Para haver um equilíbrio entre produção e clearance dessas proteínas, é fundamental ter um sistema glinfático funcionante (mecanismo alternativo de drenagem, visto não haver sistema linfático no SNC). Para isso, o ciclo circadiano, as variações entre produção de líquor e drenagem, assim como as oscilações normais de pressão arterial ao longo do dia, contribuem para um cérebro mais saudável. A AOS interfere em todos esses mecanismos, havendo ativação simpática, redução do clearance de proteínas, hipertensão noturna e ativação do córtex, gerando maior neurotoxicidade. Com isso, o acúmulo desse lixo neurológico prejudica a formação de memória e acelera o envelhecimento cerebral.
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A correlação entre memória e a AOS é evidenciado com os estudos de intervenção com o uso de CPAP (continous positive airway pressure). O professor Andrew William Varga trouxe dados de estudos recentes que mostram a reversibilidade da perda de memória com o tratamento da AOS, revelando que o uso crônico de PAP (positive airway pressure) pode restabelecer a formação de memória.
Mensagem prática
- Apneia obstrutiva do sono é muito prevalente e pouco diagnosticada;
- Alzheimer e declínio cognitivo são doenças neurodegenerativas sem cura. Logo, o foco deve ser na prevenção e identificação dos pacientes com risco dessas doenças;
- O tratamento com PAP permite reversão da perda de memória e desacelera a perda cognitiva.
Referências bibliográficas:
- Musso G, Cassader M, Olivetti C, et al: Association of obstructive sleep apnoea with the presence and severity of non-alcoholic fatty liver disease. A systematic review and meta-analysis. Obes Rev 14:417–431, 2013.
- Iliff JJ, Wang M, Liao Y, et al. A paravascular pathway facilitates CSF flow through the brain parenchyma and the clearance of interstitial solutes, including amyloid β. Sci Transl Med. 2012;4(147):147ra111. doi:10.1126/scitranslmed.3003748
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