Logotipo Afya
Anúncio
Neurologia25 dezembro 2025

Como é a progressão da doença de Parkinson? 

Estudo buscou entender como a incapacidade motora evolui na doença de Parkinson e como o tratamento dopaminérgico interfere na percepção dessa progressão 

A Doença de Parkinson (DP) é frequentemente descrita como uma condição neurodegenerativa de curso lento e previsível, mas um artigo recente publicado na BMJ Neurology Open (2025) revisitou esse conceito e trouxe uma nova compreensão sobre a progressão clínica e biológica da doença.  

O que o estudo analisou?

O autor, Peter A. Kempster, do Monash Medical Centre (Austrália), revisou dados de dezenas de estudos longitudinais envolvendo milhares de pacientes e mais de 57 mil anos-paciente de acompanhamento. O objetivo: entender como a incapacidade motora evolui ao longo do tempo e como o tratamento dopaminérgico interfere na percepção dessa progressão. 

O trabalho destaca que a DP progride, em média, a uma taxa de 2% ao ano do escore máximo de incapacidade motora — um ritmo que corresponde à perda anual de neurônios dopaminérgicos da substância negra.  

Fases da doença e ritmo de progressão 

A revisão mostra que a velocidade da progressão não é constante: 

  • Fase pré-motora e diagnóstico inicial: antes do início do tratamento, o avanço é cerca de duas vezes mais rápido, com aumento anual de até 5% nos escores motores. Isso coincide com o período em que os mecanismos compensatórios neuronais começam a falhar. 
  • Após início da levodopa: o tratamento reduz a incapacidade em cerca de 40% do nível prévio, graças a dois componentes — o short-duration response (efeito imediato da dose) e o long-duration response (benefício cumulativo e sustentado). 
  • Fase avançada: caracterizada por quedas frequentes, alucinações e declínio cognitivo, que tendem a ocorrer em média nos últimos 5 anos da evolução. Nessa fase, a progressão pode tornar-se exponencial, possivelmente relacionada à disseminação cortical da patologia de Lewy.

Como é a progressão da doença de Parkinson? 

Mitos e realidades sobre a levodopa e a progressão da doença de Parkinson 

O estudo reforça que a levodopa não “deixa de funcionar” com o tempo — o que muda é o padrão de resposta. 

Mesmo após 10 a 15 anos de uso, pacientes continuam apresentando resposta significativa, embora as flutuações motoras e discinesias se tornem mais frequentes. A ideia de “fase de lua de mel” é um equívoco histórico: o medicamento continua eficaz, mas a doença segue progredindo.  

A importância do LDR (Long Duration Response) 

Um ponto-chave do artigo é o papel do Long Duration Response — uma melhora motora sustentada, que persiste mesmo após dias sem levodopa. Estima-se que o LDR represente 30-50% do benefício total e esteja relacionado à dopamina ainda produzida por neurônios remanescentes da substância negra. Esse fenômeno explica por que pacientes recém-diagnosticados podem permanecer estáveis por anos após o início da terapia.  

Implicações clínicas e científicas 

  • A taxa de 2% ao ano oferece uma referência objetiva para avaliar terapias modificadoras de doença. 
  • A constatação de progressão mais rápida antes do tratamento sugere que ensaios clínicos em fases precoces precisam considerar esse viés natural. 
  • A evidência de progressão quase linear reforça a utilidade das escalas motoras (MDS-UPDRS III) como indicadores clínicos confiáveis. 
  • A hipótese de aceleração exponencial nas fases finais da DP levanta questões sobre mecanismos prion-like e disseminação de agregados de α-sinucleína.

Conclusão 

A progressão da Doença de Parkinson ocorre de modo predominantemente linear, a cerca de 2% do déficit motor máximo ao ano, mas com aceleração nos estágios iniciais e finais. 

O estudo de Kempster lembra que compreender a progressão exige mais do que medir sintomas — é preciso distinguir os efeitos do tratamento dos processos degenerativos reais. 

Em resumo: a levodopa continua sendo uma aliada eficaz, e o desafio da neurologia moderna é medir, com precisão, o que é melhora sintomática e o que é neuroproteção verdadeira.

Autoria

Foto de Thiago Nascimento

Thiago Nascimento

Formado em Medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) em 2015. Residência Médica em Neurologia no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) Salvador - Bahia (2016-2019). Membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Mestrando em Ciências da Saúde pela UFBA (PPGCs - UFBA). Preceptor da Residência de Neurologia do HU- UFS - (Ebserh - Aracaju- SE). Médico Neurologista - Membro do Ambulatório de Neuroimunologia do HU- UFS - (Ebserh - Aracaju- SE). Professor na Afya Educação Médica.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Neurologia