Atualmente o glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível no mundo. A redução da pressão intraocular (PIO) é capaz de retardar ou prevenir a evolução da doença, porém há um grupo de pacientes, que mesmo após alcançarem controle da PIO ainda continuam a sofrer danos no nervo óptico e perda do campo visual. Há uma necessidade de identificar agentes neuroprotetores capazes de promover neurorrecuperação e neuroregeneração às células ganglionares da retina.
A vitamina B3 (niacina e nicotinamida) promove um aumento no nível da coenzima nicotinamida adenina dinucleotídeo, essencial para reações de oxirredução celular. Além disso, contribui para o aumento do fluxo sanguíneo e outros mecanismos fisiológicos que ainda estão sendo estudados. A vitamina B3 é um aditivo nutricional, que tem sido avaliada em outras patologias, como a prevenção de demência, doença inflamatória, câncer de pele, diabetes, depressão e ansiedade.
Quais evidências temos até o momento?
De Moraes et al. evidenciaram que a suplementação oral com 3 g/dia de nicotinamida e 3 g/dia de piruvato de cálcio por 9 semanas resultou em uma melhora no campo visual dos participantes em comparação ao grupo placebo. Hui F et al. Demonstraram que a suplementação com 3 g/dia de nicotinamida durante 12 semanas melhorou a função da retina interna, conforme avaliado por eletrorretinografia. Esses estudos clínicos demonstraram o papel da nicotinamida na neuroproteção do glaucoma.
Frente aos achados animadores encontrados, atualmente vários ensaios clínicos estão em andamento para avaliar o papel neuroprotetor da nicotinamida no glaucoma. Os principais são clinicaltrials.gov: NCT05275738, NCT05405868, NCT05695027, NCT06078605, NCT06333236.
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O que podemos concluir sobre isso para a prática clínica?
É importante observar que, embora a ingestão diária recomendada de nicotinamida seja de aproximadamente 20 mg/dia, a maioria dos estudos prescreve nicotinamida 3 g/dia. Apesar da dose elevada, dos mais de 300 participantes incluídos nos ensaios clínicos de glaucoma até o momento, apenas 2 tiveram lesão hepática induzida por medicamentos e tiveram que suspender a participação no estudo.
Outras reações adversas transitórias comuns com o uso são: desconforto gastrointestinal, náusea, inchaço, constipação e dor de cabeça. Há outros efeitos colaterais descritos em estudos laboratoriais, mas que não tem evidências nos estudos realizados em humanos.
Com base em pesquisas laboratoriais e ensaios clínicos, a nicotinamida demonstra potencial como um agente neuroprotetor no tratamento do glaucoma. No entanto, sua eficácia e segurança ainda estão em fase de investigação, e a dosagem ideal para uso prolongado permanece indefinida.
Posicionamento da Sociedade Americana de Glaucoma
Assim, a Sociedade Americana de Glaucoma – Academia Americana de Oftalmologia recomendam as seguintes diretrizes para o uso de nicotinamida:
- A nicotinamida ainda não é aprovada para o tratamento do glaucoma e sua segurança não foi totalmente estabelecida. Se o médico em conjunto com o paciente desejar prescrever doses <3 g/dia, é essencial que haja acompanhamento, incluindo testes regulares para avaliar a função hepática.
- Doses elevadas de nicotinamida (≥ 3 g/dia) podem estar associadas a danos hepáticos induzidos por medicamentos, por isso recomenda-se que essas doses só sejam prescritas em ensaios clínicos, nos quais os participantes são monitorados de perto.
- Os pacientes que não participam de ensaios clínicos e que forem iniciar o uso de nicotinamida devem ser informados sobre possíveis efeitos colaterais e orientados a reportá-los imediatamente a um médico ou, se necessário, buscar atendimento de emergência.
- Pessoas com histórico de doença hepática não devem tomar nicotinamida, pois seu uso pode agravá-los.
- A niacina e a nicotinamida são formas de vitamina B3, mas não são intercambiáveis. A niacina não está sendo estudada para neuroproteção no glaucoma e é conhecida por causar toxicidade hepática em doses elevadas. Por isso, a Sociedade Americana de Glaucoma e a Academia Americana de Oftalmologia desaconselham fortemente o uso de niacina no lugar da nicotinamida para esse fim.
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