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Neurologia20 outubro 2024

CBN 2024: Inteligência artificial e neurologia: considerações práticas  

Um exemplo de uso da IA na neurologia, é a possibilidade de monitoramento de sintomas, como o de sensores em pacientes com Parkinson.
Por Jesus Ventura

A inteligência artificial (IA) ganha cada vez mais espaço na atualidade, presente em várias esferas do nosso dia-a-dia. Na medicina, o desenvolvimento de novas técnicas de auxílio diagnóstico e terapêutico está intrinsecamente ligado ao uso da IA. Dentro da medicina, a neurologia é uma especialidade complexa, que lida com diagnósticos difíceis e muitas condições sem tratamento modificador de doenças. A IA diz respeito à habilidade do computador em executar tarefas que tipicamente requerem inteligência humana. São exemplos machine learning (ML), deep learning (DL) e natural language processing (NLP). Com relação a ML, alimentada por meio de banco de dados, permite que a máquina analise, aprenda e ajuste de forma autônoma a informação.  

inteligência artificial na medicina baseada em evidências

Possíveis aplicações da IA em neurologia

Em distúrbios do movimento, por exemplo, há por vezes grande dificuldade na definição da fenomenologia do movimento (p.e. diferenciar tremor de mioclonia cortical). Tal questão pode ser avaliada por meio de sistema de IA, onde a máquina se alimenta de dados, com criação de algoritmos e definição da etiologia do movimento. É necessário que, ao dizer qual tipo de movimento se trata, a máquina justifique a diferenciação de forma objetiva. Para isso, é importante que haja um input adequado, com alimentação de bancos de dados confiáveis. O sistema aprenderia com o homem, e o homem, com o sistema.  

Outro exemplo de uso da IA está na possibilidade de monitoramento de sintomas, por exemplo uso de sensores para monitorar sintomas de pacientes com Parkinson. Uma outra condição seria o acompanhamento de pacientes com transtorno comportamental do sono REM (TCSREM), condição clínica considerada prodrômica para conversão em doença de Parkinson e outras sinucleinopatias. Até o momento, não há biomarcadores objetivos que auxiliem no risco desses pacientes desenvolverem doença de Parkinson. Através de um sistema de roteador com sensor wireless, são utilizados bio sensores que monitoram características do dia-a-dia, como velocidade de movimentos, além de características do sono, como perda cíclica da fase REM, com chance de detecção de doença de Parkinson até 06 anos antes da conversão. Tal importância reside na possibilidade de diagnosticar e incluir tais pacientes em fases mais precoces em trials para drogas modificadoras de doença.  

No âmbito de tratamento, a IA já é utilizada no desenvolvimento de drogas, por exemplo na área da oncologia. Há alguns anos ganhou notoriedade o desenvolvimento de exoesqueleto humano, capaz de ajudar na sustentação e marcha em pacientes que não conseguem mais deambular. Em neurologia, utiliza-se a IA na implantação e ajuste de microeletrodos cerebrais para estimulação cerebral profunda (DBS), com foco em pesquisas para desenvolvimento de eletrodos auto ajustáveis de acordo com a demanda do paciente (ainda não disponível no Brasil).  

Veja também: Inteligência artificial na medicina baseada em evidências: como é?

Reflexões

Existe muita apreensão sobre o uso de novas tecnologias e qual espaço elas ganharão na assistência. Tanto pacientes quanto médicos esboçam esse receio. A qualidade de evidências com uso de IA para o auxílio em doenças neurológicas carece de boa qualidade de publicação e evidências mais robustas, sendo assim, alguns desafios se encontram pela frente: necessidade de manter alimentação dos sistemas com dados confiáveis e transparência na obtenção desses dados. Há necessidade ainda de melhorar a regulamentação de tais dispositivos no âmbito da saúde, uma vez que a comercialização de sistemas inovadores ganha espaço, por vezes sem comprovado benefício clínico. É importante definir como seria a utilização da IA na medicina, com ética e governança adequadas (com orientações publicadas em 2024 pela Organização Mundial da Saúde). Outro ponto é que a interpretação final da ML ainda se baseia na expertise clínica. Há discussão ainda com relação aos desafios no ensino da neurologia nos próximos anos, como as próximas gerações serão formadas e qual o impacto da IA nessa formação.  

Mensagens práticas

  • É preciso estar alerta para os avanços que a IA tem provocado no mundo da neurologia; 
  • Há grande discussão sobre como as próximas gerações de neurologistas serão formadas, diante do advento da IA; 
  • É necessário seguir e obedecer regras claras de ética e governança, sendo publicado tais orientações pela OMS em 2024; 
  • Aguardamos com cautela e expectativa os próximos avanços, sempre com objetivo de melhorar a assistência técnica e qualidade de vida dos nossos pacientes.  

Confira todos os destaques do Congresso Brasileiro de Neurologia aqui!

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