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Neurologia15 agosto 2025

Aneurismas Intracranianos Não Rotos: Como conduzir? 

Artigo discutiu o tratamento e riscos dos aneurismas intracranianos. A influência do tamanho, localização, morfologia e fatores como hipertensão, tabagismo e histórico familiar

Aneurismas intracranianos não rotos são dilatações anormais das artérias cerebrais que, embora frequentemente assintomáticos, representam a principal causa de hemorragia subaracnoide não traumática. Sua detecção incidental aumentou com a disseminação da angiografia por ressonância magnética e tomografia computadorizada, levantando dúvidas frequentes sobre conduta, especialmente diante de achados pequenos e assintomáticos.  

O artigo de prática clínica Unruptured Intracranial Aneurysms, recentemente publicado no periódico The New England Journal of Medicine, analisa criticamente a conduta frente ao diagnóstico dos aneurismas, integrando evidências recentes com recomendações práticas.  

Objetivo do estudo  

O artigo visa orientar a tomada de decisão, equilibrando risco de ruptura, características do aneurisma, fatores clínicos e preferências do paciente. Baseia-se em revisão narrativa com embasamento em estudos de coorte, metanálises e diretrizes atuais, e propõe estratégias individualizadas de manejo.  

Metodologia   

O texto integra dados de estudos prospectivos significativos, além de análises populacionais e sistemas de escore como UIATS (Unruptured Intracranial Aneurysm Treatment Score), ELAPSS (earlier subarachnoid hemorrhage, location of aneurysm, age, population, and size and shape of aneurysm) e PHASES (population, hypertension, age, size of aneurysm, earlier subarachnoid hemorrhage, and site of aneurysm). São discutidos os fatores de risco, critérios diagnósticos, opções terapêuticas e incertezas clínicas.  

Principais achados  

A prevalência global estimada dos aneurismas não rotos é de 3,2%, com maior incidência em mulheres, hipertensos e pessoas com histórico familiar. Os fatores de risco para ruptura incluem: sexo feminino, tabagismo, hipertensão, localização posterior, formato irregular, presença de “daughter sac” e diâmetro ≥ 7 mm.  Aneurismas < 7 mm em circulação anterior têm risco de ruptura < 1% ao ano; já aneurismas ≥ 10 mm podem atingir risco > 6% ao ano.  

A AngioRM ou AngioTC são preferidas na triagem inicial, com a angiografia digital permanecendo como padrão-ouro em casos complexos ou pré-operatórios. O tratamento conservador é indicado na maioria dos aneurismas pequenos e assintomáticos, com foco em cessação do tabagismo e controle pressórico. Aneurismas com maior risco são tratados com técnicas endovasculares (coils, flow diverters) ou cirúrgicas (clipping). 

O clipping tem maior taxa de oclusão, mas maior morbidade perioperatória, sendo a técnica endovascular menos invasiva, com recuperação mais rápida, mas maior risco de recorrência. 

Aneurismas Intracranianos Não Rotos: Como conduzir? 

Discussão e implicações clínicas 

O manejo dessa patologia exige abordagem centrada no paciente. A simples detecção de um aneurisma não implica indicação cirúrgica. A decisão depende da integração de fatores clínicos (idade, comorbidades, sintomas), anatômicos (tamanho, localização, morfologia) e do contexto emocional e social. Há impacto psicológico relevante: ansiedade e depressão são comuns mesmo em casos sob vigilância. 

O artigo reforça a necessidade de acompanhamento longitudinal com neuroimagem e aconselhamento estruturado. Ferramentas como o PHASES (ajuda a estimar o risco de ruptura em 5 anos) e o ELAPSS (orienta seguimento baseado no risco de crescimento) ajudam, mas não substituem o julgamento clínico individualizado. 

Orientações práticas sobre rastreamento familiar

Pacientes com formações aneurismáticas intracranianas devem ser questionados sobre história familiar de aneurismas ou hemorragia subaracnoide. Quando identificada história familiar positiva (≥ 2 parentes de primeiro grau afetados), o rastreamento de familiares assintomáticos com angio-RM ou angio-TC a cada 5 a 7 anos é recomendado pelas diretrizes da American Heart Association.  

Outros perfis considerados de alto risco e que devem ser rastreados incluem pacientes portadores de doença policística renal autossômica dominante, coarctação da aorta ou nanismo primordial osteodisplásico microcefálico.  

O rastreamento não deve ser indicado rotineiramente para a população geral. A avaliação do risco deve ser individualizada, considerando o impacto psicológico e os potenciais efeitos de achados incidentais.  

O papel do neurologista inclui:  

  • Identificar pacientes com história familiar relevante. 
  • Orientar familiares de primeiro grau sobre o risco aumentado.
  • Encaminhar para triagem adequada, considerando idade, comorbidades e preferências.
  • Aconselhar sobre sinais de alarme e importância da busca imediata por atendimento diante de cefaleia abrupta e intensa.

Limitações do estudo  

Na perspectiva de análise de risco e ferramentas de decisão clínica, o escore PHASES não inclui variáveis importantes como formato do aneurisma ou tabagismo ativo, além de que a estratificação de risco ainda é limitada por heterogeneidade populacional e viés dos estudos históricos.  

Faltam estudos prospectivos que comparem diretamente a vigilância vs intervenção em aneurismas pequenos, assim como o manejo dos aneurismas nos pacientes com doenças cerebrovasculares (ex: AVC isquêmico).  

Mensagem prática  

Este artigo reforça a complexidade do manejo dos aneurismas intracranianos não rotos, que vai além da simples métrica do tamanho.  

O neurologista deve considerar aspectos anatômicos, clínicos e psicossociais para definir conduta, de forma que o caminho mais seguro continua sendo o da decisão compartilhada, equilibrando riscos, benefícios e preferências do paciente. 

A vigilância estruturada é segura para a maioria dos casos, enquanto técnicas endovasculares ampliam o leque de opções nos cenários de maior risco. Ferramentas objetivas como PHASES e ELAPSS são úteis, mas o raciocínio clínico permanece insubstituível.

Autoria

Foto de Johnatan Felipe Ferreira da Conceicao

Johnatan Felipe Ferreira da Conceicao

Revisor médico do Portal PEBMED. Graduado em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Contato: [email protected] Instagram: @johnatanfelipef

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Referências bibliográficas

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