A síndrome de Tourette é mais prevalente em homens, com prevalência estimada em 0,3-0,9% em crianças entre 4 e 18 anos e 0,002-0,08% em adultos.
Em San Diego, no Annual Meeting da American Academy of Neurology 2025, aconteceu uma aula sobre atualização de manejo em síndrome de Tourette.
Diagnóstico e algumas comorbidades
Segundo o DSM-5, o diagnóstico dessa condição é clínico e deve apresentar os seguintes critérios:
- Tiques devem ser iniciados em crianças abaixo de 18 anos;
- Indivíduos devem apresentar tiques por pelo menos 1 ano;
- Presença de pelo menos 2 tiques motores e 1 tique fônico.
É condição frequentemente acompanhada por outras comorbidades como: TDAH (60-70%), TOC (50%), ansiedade (20-30%), transtornos do humor (20-30%), dificuldades de aprendizagem (20-30%), transtornos de controle do impulso, distúrbios de sono, migrânea, entre outros.
Tratamento
O tratamento de Síndrome de Tourette deve ser individualizado, considerando não apenas a presença de tiques, mas o impacto funcional que eles causam.
A palestrante Dra Irene A. C. Malaty, da University of Florida, revela os 3 grandes pilares para guiar o manejo de tiques:
1) Priorizar os sintomas mais incapacitantes;
2) Ter expectativas realistas: o foco é reduzir os tiques e melhorar a qualidade de vida, e não os eliminar completamente;
3) Garantir um teste terapêutico adequado, com dose e tempo suficientes antes de concluir que a intervenção falhou.
Além disso, outras recomendações devem ser estimuladas, como:
- Educar pacientes e familiares sobre a evolução natural dos tiques;
- Avaliar prejuízo funcional;
- Discutir os riscos dos tratamentos;
- Prescrever sempre a menor dose eficaz;
- Monitorar comorbidades psiquiátricas, incluindo ideação suicida;
- Reavaliar periodicamente a necessidade de manter a medicação;
- Modalidades de tratamento
Há três diferentes modalidades terapêuticas: terapias não farmacológicas comportamentais, terapias comportamentais e cirurgia.
Entre as terapias comportamentais, foi destacado a CBIT (Comprehensive Behavioral Intervention for Tics), com maior nível de evidência científica nessa categoria no guideline da AAN 2019 para síndrome de Tourette. Trata-se de uma técnica estruturada em que o paciente aprende a reconhecer os tiques e seus precursores (as chamadas “sensações de urgência”), praticando uma resposta alternativa e incompatível com o movimento involuntário. São indicadas 8 sessões de 60 a 90 minutos em até 10 semanas.
O tratamento farmacológico, por sua vez, é indicado quando os tiques causam prejuízo importante. A escolha do medicamento depende da gravidade dos sintomas, comorbidades e perfil de efeitos colaterais.
Algumas classes foram pontuadas na palestra, como:
- Agonistas alfa-2 adrenérgicos (ex. clonidina, guanfacina): recomendados para tiques leves a moderados, especialmente quando há TDAH associado.
- Neurolépticos: haloperidol e pimozida são aprovados pelo FDA para Tourette. Aripiprazol é aprovado em casos pediátricos. São eficazes, mas exigem monitoramento rigoroso devido a efeitos adversos como ganho de peso, síndrome metabólica, distúrbios hormonais e prolongamento do QTc.
- Topiramato: indicado em casos selecionados, quando os benefícios superam os riscos.
- Toxina botulínica: útil para tiques motores localizados ou coprolalia graves, apesar do risco de fraqueza muscular e disfonia.
A cirurgia, por fim, é raramente indicada. A estimulação cerebral profunda (DBS) pode ser considerada em casos graves e refratários, após cuidadosa avaliação. A indicação geralmente segue 5 pilares: gravidade dos tiques, impacto funcional, falha de tratamentos, estabilidade psiquiátrica e idade. A gravidade e o prejuízo devem ser confirmados com escalas validadas, e a falha terapêutica precisa considerar adesão, tolerabilidade e acesso. Comorbidades psiquiátricas devem estar estáveis por pelo menos seis meses para evitar falsos refratários. O critério etário de 18 anos está em revisão, especialmente em casos graves na adolescência. Padronizar essa triagem e usar dados internacionais pode aperfeiçoar a seleção dos candidatos.
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Comentários finais
Atualizar-se sobre a síndrome de Tourette é fundamental para o médico reconhecer precocemente os sintomas, manejar comorbidades e indicar tratamentos eficazes. O domínio das abordagens terapêuticas atuais garante um cuidado mais resolutivo e centrado no paciente.
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