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Nefrologia20 fevereiro 2025

KDIGO 2025: Atualização essencial para o manejo da DRPAD

Nova diretriz KDIGO 2025 consolida avanços na avaliação, manejo e tratamento da Doença Renal Policística Autossômica Dominante (DRPAD)
Por Ester Ribeiro

A doença renal policística autossômica dominante (DRPAD) é uma das principais doenças genéticas e a quarta causa mais comum de terapia de substituição renal. Desde o KDIGO de 2014, avanços ocorreram na compreensão genética e clínica da doença, incluindo novas ferramentas prognósticas e ensaios clínicos sobre tolvaptano e outros tratamentos. Com o crescente conhecimento, uma Diretriz KDIGO global para manejo da DRPAD tornou-se necessária. A nova diretriz KDIGO 2025 representa um marco na abordagem global da Doença Renal Policística Autossômica Dominante (DRPAD), consolidando avanços significativos na avaliação, manejo e tratamento dessa doença. Algumas mudanças importantes foram introduzidas, ao mesmo tempo em que aspectos essenciais das diretrizes anteriores permanecem endossados. 

KDIGO

Capítulo 1: Nomenclatura, Prevalência, Diagnóstico e Prognóstico

A diretriz orienta a definição de DRPAD, ressaltando sua natureza hereditária e suas manifestações renais e extrarrenais. Uma das mudanças centrais é a atualização na nomenclatura: agora, quando há confirmação de uma variante patogênica em PKD1, PKD2 ou em outros genes com evidência consistente, o diagnóstico é especificado (por exemplo, DRPAD-PKD1 ou DRPAD-PKD2). Pacientes sem teste genético ou com resultados inconclusivos permanecem com o rótulo genérico de DRPAD. Essa padronização facilita a estratificação prognóstica, visto que mutações em PKD1 geralmente implicam um curso mais agressivo. 

Capítulo 2: Manifestações Renais

Esta seção enfatiza o controle rigoroso das manifestações renais. O manejo da hipertensão é reiterado como fundamental, com metas específicas – por exemplo, ≤110/75 mmHg para pacientes jovens e <120 mmHg para indivíduos mais idosos ou com CKD avançado – medidas por meio de monitoramento padronizado em consultório e complementadas pelo MAPA ou medidas domiciliares com aparelhos eletrônicos. Além disso, o capítulo aborda o manejo da dor (incluindo intervenções não farmacológicas e procedimentos como aspiração de cistos), infecções císticas, hematuria, cálculo renal e a abordagem diferenciada para condições como a gota. 

Capítulo 3: Manejo da Doença Renal Crônica, Progressão, Insuficiência Renal e Terapias de Substituição

Os princípios gerais do manejo da DRC em DRPAD seguem os padrões das demais doenças renais, mas com nuances específicas da doença – por exemplo, a tendência à eritrocitose devido à hipóxia regional. São detalhadas as estratégias para a preparação ao transplante renal, com ênfase no transplante preemptivo e em abordagens específicas quanto à nefrectomia do rim policístico, que deve ser realizada apenas quando os benefícios superam os riscos, sempre considerando a experiência da equipe local e a individualização de cada caso. 

Capítulo 4: Terapias para Retardar a Progressão da DRPAD

O tolvaptan continua a ser o tratamento pioneiro e aprovado para retardar a progressão da doença, com evidências de desaceleração no declínio da taxa de filtração glomerular (TFG) e no crescimento do volume renal total. Este capítulo detalha a titulação, o monitoramento de efeitos adversos e as contraindicações relativas e absolutas ao seu uso. Além disso, novas terapias – incluindo moduladores do metabolismo celular e potenciais inibidores da via mTOR – estão em investigação, ampliando o leque de opções terapêuticas para um manejo mais personalizado. 

Capítulo 5: Doença Hepática Policística (DHP)

Embora a maioria dos pacientes com DRPAD desenvolva cistos hepáticos de forma assintomática, alguns evoluem para uma DHP clinicamente significativa. As recomendações abordam o diagnóstico e a estadiamento por meio de imagem (ultrassonografia, TC ou RM) e enfatizam intervenções em centros de especialidade. Entre as estratégias de manejo, destacam-se o uso de análogos de somatostatina para reduzir a taxa de crescimento do volume hepático, intervenções minimamente invasivas e, em casos extremos, a indicação de transplante hepático ou combinado (rim-fígado). 

Capítulo 6: Aneurismas Intracranianos e Outras Manifestações Extrarrenais

Os pacientes com DRPAD apresentam risco aumentado para aneurismas intracranianos e hemorragia subaracnóidea. A diretriz recomenda o rastreamento – principalmente por meio de angiografia por ressonância magnética sem gadolínio – em indivíduos com histórico pessoal ou familiar relevante, bem como em contextos específicos (como pré-transplante ou antes de cirurgias maiores). Além disso, são abordadas outras manifestações extrarrenais, como complicações vasculares, cardíacas e hérnias abdominais, com orientações para manejo preventivo e terapêutico. 

Capítulo 7: Aspectos de Estilo de Vida, Psicológicos e Reprodutivos

Reconhecendo a dimensão multidimensional da DRPAD, este capítulo traz orientações sobre intervenções de estilo de vida, suporte psicológico e aconselhamento reprodutivo. São discutidas as implicações da doença na qualidade de vida, a importância de abordagens de compartilhamento de decisões e orientações reprodutivas que podem ajudar os pacientes a lidar com o risco de transmissão hereditária. 

Capítulo 8: Questões Pediátricas e de Início Precoce

Embora a manifestação clínica típica da DRPAD ocorra na idade adulta, há um reconhecimento crescente dos casos de início precoce. São abordados critérios diagnósticos específicos para crianças e adolescentes, bem como estratégias de monitoramento e intervenção precoce, com o objetivo de mitigar a progressão e melhorar o prognóstico a longo prazo. 

Capítulo 9: Abordagens para o Manejo Integral dos Pacientes com DRPAD

Este capítulo enfatiza a necessidade de um cuidado verdadeiramente multidisciplinar. Além do manejo clínico e farmacológico, destaca-se a integração de novas tecnologias – como inteligência artificial aplicada à análise de imagens – que podem refinar a estratificação do risco e orientar intervenções mais precisas. A tomada de decisão compartilhada entre profissionais e pacientes é fortemente incentivada para otimizar os resultados. 

Capítulo 10: Recomendações de Pesquisa e Perspectivas Futuras

Por fim, a diretriz identifica as lacunas no conhecimento atual e propõe uma agenda de pesquisas futuras e promissoras. São sugeridos estudos para aprimorar as ferramentas de diagnóstico, validar novos biomarcadores e explorar terapias inovadoras que possam, no futuro, transformar o manejo da DRPAD e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. 

Veja também: Classificação, diagnóstico e tratamento doenças císticas renais

Conclusão

Em síntese, o KDIGO 2025 estabelece um novo padrão de excelência para o manejo da DRPAD, integrando evidências robustas e inovações tecnológicas que transformam a prática clínica. Essa diretriz não só reafirma a importância da detecção precoce, do controle rigoroso da pressão arterial e do tratamento personalizado, mas também promove um modelo de cuidado multidisciplinar que capacita os nefrologistas a tomar decisões terapêuticas mais assertivas e a otimizar os resultados para seus pacientes. Com uma abordagem prática e inovadora, o KDIGO 2025 é uma ferramenta indispensável para a comunidade nefrológica, incentivando a evolução do cuidado e impulsionando uma nova era na gestão da DRPAD. 

Autoria

Foto de Ester Ribeiro

Ester Ribeiro

Graduada em Medicina pela PUC  de Campinas. Médica Nefrologista pelo Hospital Santa Marcelina de Itaquera. Título em Nefrologia pela Sociedade Brasileira de Nefrologia.

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