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Medicina Laboratorial30 maio 2025

Testosterona: aspectos clínico-laboratoriais das dosagens em mulheres

Em maio de 2025, a SBEM, a FEBRASGO e o DCM-SBC, emitiram uma nota conjunta sobre pontos relacionados ao uso e a dosagem da testosterona em mulheres

A testosterona é o principal hormônio androgênico circulante do nosso organismo, estando diretamente envolvida em vários e fundamentais processos biológicos. Nas pacientes do sexo feminino, a maior parte da testosterona é originada do metabolismo da androstenediona e, em menor grau, pelas adrenais e ovários.  

Sua determinação laboratorial no público feminino, apesar de ser largamente solicitada no dia a dia da prática médica, possui indicações clínicas restritas e pode ser susceptível a diversos interferentes analíticos, limitações metodológicas e dificuldades na interpretação de seus resultados.  

Nesse contexto, em maio de desse ano, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) e o Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DCM-SBC), emitiram uma nota conjunta sobre pontos relacionados ao uso e a dosagem da testosterona em mulheres.  

Logo em seguida, a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) ratificou essa publicação em um posicionamento oficial, aprofundando ainda mais o tema sob o ponto de vista técnico-laboratorial. 

Leia mais: Reposição de Testosterona: Como deve ser a avaliação médica detalhada?

Testosterona

Dosagem sérica de testosterona nas mulheres 

Diversos pontos e recomendações sobre a determinação laboratorial da testosterona nas pacientes do sexo feminino foram abordados nas publicações, dentre os quais podemos destacar: 

  • Métodos de dosagem: Embora os imunoensaios sejam mais baratos e amplamente disponíveis, eles apresentam uma maior propensão às interferências analíticas/reações cruzadas, além de carecerem de acurácia para a avaliação de excessos sutis de androgênios. Para mitigar essas limitações, quando necessário, recomenda-se a utilização da espectrometria de massas – método de referência (padrão-ouro) para a determinação da testosterona – a qual entrega uma melhor precisão e exatidão nas dosagens; 
  • Fisiologia e influências biológicas: Por apresentar uma variação dos níveis ao longo do dia (maiores concentrações matutinas), a coleta deve ser realizada pela manhã. De forma independente da menopausa, as concentrações séricas decaem sutil e progressivamente a partir da terceira década de vida. Seus níveis variam discretamente ao longo do ciclo menstrual, apesar de haver um pico relativamente moderado na sua fase intermediária; 
  • Valores de referência: Ainda não há um intervalo padronizado e bem estabelecido para faixas de referência femininas, nem tampouco existe um ponto de corte consensual para a caracterização de “deficiência androgênica feminina”; 
  • Controle de qualidade: Os Laboratórios Clínicos devem manter controles internos e participar de programas de avaliação externos da qualidade, a fim de garantir a reprodutibilidade e confiabilidade de seus resultados reportados; 
  • Limitações/interferências analíticas: O uso de altas doses de Biotina (Vitamina B7) pode interferir nas dosagens de testosterona por imunoensaios. Dessa forma sugere-se, à critério médico, a suspensão de suplementos que contenham Biotina por, pelo menos, 48 horas antes da coleta de sangue; 
  • Indicação clínica: A única indicação formal para a sua dosagem de rotina é no contexto da investigação e diagnóstico diferencial de hiperandrogenismo, como, por exemplo, na síndrome dos ovários policísticos, hiperplasia adrenal congênita, tumores ovarianos ou adrenais, síndrome de Cushing; 
  • Monitorização terapêutica: Mulheres que fazem uso terapêutico de testosterona no tratamento do Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (TDSH) na pós-menopausa, podem se beneficiar da sua determinação laboratorial a fim de evitar concentrações séricas suprafisiológicas. Nesse caso, o médico assistente deve-se atentar para a possibilidade de flutuação dos níveis a depender da forma farmacêutica, dosagem, local e horário de administração, além da necessidade da correlação dos dados clínicos e farmacológicos para uma adequada interpretação dos resultados. 

Veja também:  Como deve ser o uso da testosterona na mulher com desordem do desejo sexual hipoativo

 

Mensagem final 

À luz do conceito da medicina baseada em evidências (MBE), até o momento, a dosagem da testosterona não deve ser utilizada de rotina para rastrear “níveis baixos” como forma de justificar a prescrição de testosterona, além de não haver indicação da sua solicitação para o diagnóstico de deficiência androgênica em mulheres saudáveis ou com queixa de baixa libido.  

Quando indicada, sua dosagem deve ser realizada, preferencialmente, pela metodologia de espectrometria de massas, com um adequado preparo pré-analítico (coleta pela manhã e com a suspensão do uso de Biotina), além de uma correta interpretação clínica dos resultados. 

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Referências bibliográficas

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