O setor laboratorial vêm experimentando, nas últimas décadas, enormes e progressivas transformações técnico-científicas, melhorando assim sensivelmente a rastreabilidade e a confiabilidade dos resultados dos exames de análises clínicas. Apesar de toda essa evolução e da implantação de sistemas de garantia da qualidade por parte dos laboratórios, inadequações ainda podem acontecer em qualquer etapa do processo (pré-analítica, analítica ou pós-analítica).
Atualmente, a fase pré-analítica é a que possui o maior foco para melhoria, tendo em vista que ainda é sujeita a vários processos manuais, concentrando a maior parte dos erros laboratoriais (46% a 68%). Essa etapa pré-analítica dos exames laboratoriais corresponde àquela fase que engloba todos os procedimentos adotados até que o material chegue a área técnica, passando pela solicitação do exame pelo médico assistente, orientação e preparo do paciente, cadastro, identificação, coleta, armazenamento e transporte do material, até que ele seja efetivamente processado na área técnica.
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As eventuais não conformidades nos exames geram um impacto negativo gigantesco a todo o sistema de saúde já que, além dos custos financeiros e operacionais implicados, podem levar a diagnósticos incorretos e, por conseguinte, a tratamentos desnecessários e potencialmente prejudiciais.
O estudo
A melhoria da qualidade geral dos exames é uma demanda crescente dos médicos e pacientes, tanto do setor público quanto do privado, o que faz aumentar os gastos globais. Para a sobrevivência no mercado, os Laboratórios Clínicos devem manter em perfeito funcionamento seus processos de qualidade e gerenciamento de custos.
Com a finalidade de se avaliar os gastos gerados pelos erros pré-analíticos nos laboratórios clínicos, foi analisado o banco de dados de um laboratório de grande porte na cidade de Porto Alegre (RS), por um período de 19 meses (janeiro de 2013 a julho de 2014). Os dados de recoleta, custos operacionais e de materiais diretos foram extraídos e tabulados, com posterior análise crítica das informações coletadas.
No ano de 2013, a média mensal de recoletas foi de 81,92, com custo de material de R$ 231,82 e operacional de R$ 995,29, resultando em um gasto total de R$ 13.525,32. Já em 2014 (primeiros 7 meses), a média das recoletas mensais foi de 83,43, enquanto que o custo com material direto foi de R$ 318,70, com um custo operacional de R$ 1.082,07, totalizando R$ 9.805,39.
As seguintes médias mensais durante todo o período do trabalho foram assim contabilizadas: 33.826,47 atendimentos, com 82,47 recoletas, custo de material de R$ 263,83 e custos operacionais de R$ 1.027,26. Dessa forma, o custo mensal total com essas recoletas foi de R$ 1.291,09, totalizando assim, no período de 19 meses, um valor de R$ 23.330,71.
Mensagem final
Grande parte da inadequações laboratoriais por erros pré-analiticos podem ser evitadas através da implementação de medidas simples. Com o acompanhamento de indicadores como a quantidade/proporção de recoletas, podemos avaliar se os processos estão bem solidificados nos colaboradores.
O impacto negativo dessas novas coletas é muito significativo, seja do ponto de vista econômico (como demostrado por esse trabalho) ou do grau de satisfação e fidelização dos pacientes e médicos. O valor considerável dos custos apurados — referente aos erros pré-analíticos — deve ser alvo de preocupação e de tomada de ações por parte das diretorias do Laboratórios Clínicos, fazendo parte do programa de gerenciamento de custos.
Referências Bibliográficas:
- Santos PR, et al. Impacto nos custos por erros pré-analíticos em laboratório de análises clínicas. J. Bras. Patol. Med. Lab.2021;57(1):1-5. doi: 10.5935/1676-2444.20210023
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