A insuficiência cardíaca é, reconhecidamente, uma das principais causas de morbimortalidade no mundo. Nesse contexto, os peptídeos natriuréticos ganharam uma grande visibilidade e importância nas últimas décadas, devido, notadamente, às suas aplicabilidades clínicas.
Esses peptídeos possuem propriedades natriuréticas e diuréticas, sendo secretados, principalmente, pelas células musculares cardíacas, em resposta a um aumento das pressões de enchimento (principalmente do ventrículo esquerdo).
Fisiologicamente, uma proteína precursora, chamada de pró-BNP, é continuamente produzida e liberada pelos cardiomiócitos, em pequenas concentrações, na corrente sanguínea. Essa proteína possui uma cadeia de 108 aminoácidos, a qual sofre uma clivagem enzimática em dois produtos: o hormônio BNP (77-108) fisiologicamente ativo, e no fragmento inativo N-terminal, o NT-próBNP (1-76).
O laboratório do BNP versus o NT-próBNP
Sob determinados aspectos de desempenho analítico e de informações em bula, os dois exames devem seguir algumas recomendações: a metodologia deve ser a eletroquimioluminescência ou quimioluminescência, com imprecisão total dos ensaios ≤ 15%. Os limites superiores do valor de referência (percentil 97,5) devem ser estabelecidos e segmentados por idade e sexo.
Em termos analíticos, para se avaliar o BNP, os ensaios admitem apenas o plasma como material. O BNP possui uma curta meia-vida plasmática in vivo (cerca de 20 minutos), com baixa estabilidade in vitro (de apenas quatro horas em temperatura ambiente).
Já para a determinação do NT-próBNP, podem ser utilizados tanto soro ou plasma. Ele possui uma maior meia-vida in vivo (60 a 120 minutos) e estabilidade in vitro (até dois dias em temperatura ambiente). Sua sensibilidade analítica também é maior, apresentando uma menor imprecisão quando comparado ao BNP.
Principais aplicações clínicas
Os peptídeos natriuréticos possuem importantes aplicações na prática clínica. Dentre elas podemos citar:
- Exclusão/diagnóstico diferencial de insuficiência cardíaca no pronto-socorro (alto valor preditivo negativo);
- Diagnóstico, monitorização do tratamento e prognóstico de insuficiência cardíaca;
- Estratificação de risco em pacientes com síndrome coronariana aguda;
- Avaliação de internados de acordo com protocolos institucionais.
Considerações importantes
- Os testes de BNP e de NT-próBNP não são intercambiáveis e, portanto, comparações evolutivas diretas dos resultados desses diferentes exames não devem ser feitas.
- A neprisilina é uma enzima que degrada alguns hormônios, dentre eles os peptídeos natriuréticos. Dessa forma, a dosagem de BNP é afetada em pacientes que fazem uso dos inibidores da neprilisina (droga utilizada no arsenal terapêutico para o tratamento de Insuficiência Cardíaca). Consequentemente, o BNP não deve ser utilizado como um biomarcador nesses pacientes, já que a sua elevação pode não refletir de forma adequada o grau de disfunção cardíaca;
- Por outro lado, o NT-próBNP é um fragmento inativo que, por não ser um substrato da neprilisina, não é influenciado pelo bloqueio da degradação dos peptídeos natriuréticos. Portanto, os pacientes que fazem uso dessa medicação devem ser acompanhados exclusivamente pelo NT-próBNP.
Mensagem prática
O peptídeo natriurético tipo-B (BNP) e o N-terminal pró-peptídeo natriurético tipo-B (NT-próBNP) são grandes biomarcadores para a insuficiência cardíaca, com amplas aplicações na prática clínica.
Do ponto de vista laboratorial, devido a possibilidade da utilização de soro ou plasma para sua análise, sua maior meia-vida in vivo e estabilidade in vitro, melhor desempenho analítico (maior sensibilidade e menor imprecisão), e pelo fato de não ser afetado pelos inibidores da neprilisina, o ensaio de NT-próBNP apresenta algumas vantagens analíticas em relação ao BNP.
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