Como identificar e tratar a SEPSE e o Choque Séptico?
Desde a última atualização pelo 3º Consenso de definição para Sepse e Choque Séptico (SEPSIS III) conceitos foram revisados e o tratamento atualizado. Saiba mais:
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Sepse é uma síndrome clinica heterogênea e caracteriza-se por uma resposta imune frente a uma infecção que cria efeitos nocivos que vão além da simples infecção. É definida como uma disfunção orgânica potencialmente fatal, cuja morbimortalidade permanece alta mesmo com os novos tratamentos. Por décadas esta síndrome vem sendo melhor compreendida, e fomos alterando nossa forma de enfrentá-la.
Recentemente, desde a última atualização pelo 3º Consenso de definição para Sepse e Choque Séptico (SEPSIS III) muitos conceitos foram revisados, e a forma do tratamento foi atualizada. No nosso portal você encontra uma revisão completa do assunto na matéria “Sepse: revisão clínica PEBMED”
Diagnóstico da SEPSE
O maior desafio do emergencista e do hospitalista é o reconhecimento precoce. Para ajudar nessa missão, propôs-se o uso do chamado Quick-SOFA (qSOFA) a beira do leito, que nada mais é do que a identificação rápida do doente grave com infecção.
qSOFA (Quick-SOFA) SEPSE |
Frequência respiratória maior ou igual a 22 ipm |
Alteração do estado mental |
Pressão arterial sistólica menor ou igual a 100 mmHg |
Lembrando sempre da necessidade de que este doente apresente sinal de infecção (história de febre por exemplo) para que seja aplicado o qSOFA de forma correta.
Pacientes com suspeita de sepse que se encontram fora do hospital, na admissão do pronto-atendimento ou mesmo internados em um hospital geral podem ser identificados rapidamente através de uma pontuação maior ou igual a 2 pelo escore qSOFA.
Para que a investigação de disfunção orgânica neste doente fique completa usa-se depois a classificação que deu origem ao qSOFA que avalia os sistemas respiratório, coagulação, hepático, Cardiovascular, neurológico e renal
SOFA score |
Respiração: baixa PaO2/FiO2 |
Coagulação: Trombocitopenia |
Hepática: Elevação das bilirrubinas séricas |
Cardiovascular: Hipotensão |
Sistema nervoso central: Alteração do estado mental |
Renal: Creatinina elevada ou diminuição do débito urinário |
*Esquema didático do SOFA. Para a versão completa, acesso nosso Whitebook
A depender das manifestações clínicas deste doente identifica-se pelo SOFA o paciente em choque, e por esse método desenha-se melhor a característica do paciente e a necessidade de suporte em UTI ou não. Alguns estudos, inclusive, compararam a acurácia de SOFÁ vs qSOFA e de outros escores, como o NEWS.
Diagnóstico do Choque séptico
O choque séptico é um subconjunto da sepse e é definido como a evolução do quadro do paciente com SEPSE para uma hipotensão persistente que requer o uso de drogas vasoativas para manter uma pressão arterial média (PAM) acima de 65 mmHg e um lactato sérico acima de 2 mmoL/L a despeito de ressuscitação volêmica. Está associado com maior risco de mortalidade, se comparado apenas à sepse. Essa associação está relacionada com taxa de mortalidade hospitalar > 40%.
Leia mais: Surviving Sepsis 2018: o que muda na sepse com essa atualização?
Tratamento da Sepse
Em até uma hora: restabeleça perfusão + atb em até uma hora
- Coleta de exames laboratoriais para a pesquisa de disfunção orgânica (gasometria e lactato arterial, hemograma completo, creatinina, bilirrubina e coagulograma);
- Coleta de duas hemoculturas de sítios distintos em até uma hora e cultura de sítios pertinentes conforme suspeita clínica ANTES da administração do antibiótico;
- Prescrição e administração do antibiótico na primeira hora visando o foco suspeito. Utilizando dose máxima para foco suspeito ou confirmado, com dose de ataque nos casos pertinentes, sem ajuste da função renal e hepática, tolera-se manter doses sem ajustes para função renal nas primeiras 24 horas.
- Pacientes hipotensos (PAS menor que 90 mmHg, ou PAM menor que 65 mmHg ou ainda redução da PAS em 40 mmHg que o habitual) ou com sinais de hipoperfusão (oligúria, sinais de livedo, tempo de enchimento capilar lentificado, e alteração do nível de consciência), entre eles lactato acima de duas vezes o valor de referência institucional deve-se inciar ressuscitação volêmica com infusão imediata de 30mL/kg e cristaloides. (Atenção: Cardiopatas podem necessitar de redução na velocidade de infusão, avaliar necessidade de vasopressores.)
- Se PAM ficar sustentadamente menor que 65 mmHg, configurando paciente em choque séptico, inicia-se como primeira escolha Noradrenalina mesmo em via periférica inicialmente até que seja puncionado acesso venoso central
Reavaliação de seis horas – ainda que seja algo controverso, já que o paciente é grave e necessita de cuidado médico mais agressivo, deve-se atentar sobretudo nos pacientes que evoluíram com choque séptico, hiperlactemia ou sinais clínicos de hipoperfusão tecidual.
- Reavaliar necessidade de continuidade da reposição volêmica;
- Sinais de hipoperfusão e níveis de hemoglobina menores que 7 mg/dL devem receber transfusão o mais rápido possível;
- Pacientes com choque séptico são melhor avaliados com pressão arterial invasiva enquanto usam a droga vasoativa.
- Caso paciente evolua com hipertensão após reposição volêmica e início da droga vasoativa recomenda-se o uso de vasodilatadores endovenosos como nitroglicerina e nitroprussiato de sódio para redução da pós-carga.
- Corticoterapia é algo controverso mas pode ser utilizado em pacientes com choque refratário, ou seja, alvo não alcançado na PAM a despeito de reposição volêmica e vasopressor.
- Ventilação mecânica não deve ser prolongada em pacientes com insuficiência respiratória aguda e hipoperfusão tecidual.
- Controle glicêmico rigoroso nos pacientes com meta abaixo de 180 mg/dL;
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Referências:
- Seymour CW, Liu VX, Iwashyna TJ, et al. Assessment of Clinical Criteria for Sepsis: For the Third International Consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock (Sepsis-3). JAMA. 2016;315(8):762–774. doi:10.1001/jama.2016.0288
- Gupta RG, Hartigan SM, Kashiouris MG, Sessler CN, Bearman GML. Early goal-directed resuscitation of patients with septic shock: current evidence and future directions. Critical Care 2015; 19:286 DOI 10.1186/s13054-015-1011-9
- Instituto Latino Americano para Estudos da Sepse. ILAS. Sepse: um problema de saúde pública [Internet]. Brasília: CFM; 2016. 90p. Available from: http://www.ilas.org.br/assets/arquivos/ferramentas/livro-sepse-um-problema-de-saude-publicacfm-ilas.pdf
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