Um novo estudo publicado na CHEST avaliou os critérios para sepse grave do Sepsis-2 e Sepsis-3 e comparou o desempenho dos escores SIRS e qSOFA para prever a mortalidade.
Para o estudo, os autores compararam o desempenho dos dois escores em 8.871 pacientes admitidos no serviço de emergência com presumida infecção.
Os resultados indicaram que, no geral, o SIRS foi mais sensível para prever a gravidade da infecção, e o qSOFA foi mais específico, com similar utilidade geral:
- Para prever a disfunção orgânica, os escores tiveram desempenhos semelhantes (SIRS 0,72 e qSOFA 0,73); um escore SIRS ≥ 2 tinha sensibilidade de 72% e especificidade de 61% e um escore qSOFA ≥ 2 tinha sensibilidade de 30% e especificidade de 96%.
- Para prever a mortalidade, os resultados foram 0,71 para SIRS e 0,78 para qSOFA; em um corte de ≥ 2, SIRS tinha sensibilidade de 77% e especificidade de apenas 54%, enquanto qSOFA apresentou sensibilidade de 50% e especificidade de 91%.
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Dr. Ronaldo Gismondi, doutor em Medicina e professor de Clínica Médica na Universidade Federal Fluminense, comenta as novas definições de sepse e os resultados do estudo:
“Em fevereiro de 2016, a Society of Critical Care Medicine e a European Society of Intensive Care Medicine publicaram novas diretrizes para sepse, que vêm sendo chamadas agora de Sepsis-3. Os critérios tradicionais, de 1992 (“Sepsis-2”), procuravam chamar a atenção para a resposta inflamatória sistêmica, cuja causa mais comum são as infecções. Por isso, os critérios de SIRS (temperatura, frequência cardíaca, frequência respiratória e leucograma) são muito sensíveis, mas pouco específicos – isto é, captam muitos pacientes, incluindo alguns falso-positivos, mas com baixo risco de falso-negativo.
Com o passar do tempo, e novas evidências científicas, ficou claro que era o grupo com disfunção de múltiplos órgãos aquele com maior risco de morte e, principalmente, aquele que mais se beneficiaria de estratégias de intervenção precoce – reposição volêmica guiada por metas e antibióticos em até uma hora.
Por isso, os novos critérios de 2016 focam na disfunção orgânica, sendo o SOFA o escore padrão para uso. Como o SOFA é mais complexo e requer exames laboratoriais, pensou-se no Quick SOFA (qSOFA) como um escore mais simples, de beira de leito, que pudesse ser calculado imediatamente e serviria como triagem para abordagens intensivas (volume e antibiótico).
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O estudo publicado na Chest questiona esse raciocínio. Segundo ele, a sensibilidade do qSOFA para prever disfunção orgânica grave e morte foi ruim (30 a 50%) e inferior ao SIRS (70%). O estudo também avaliou os critérios para sepse grave do Sepsis-2 e do Sepsis-3 e observou que tiveram desempenho semelhante em prever a mortalidade. Desse modo, mais lenha foi colocada na discussão e o debate se os novos critérios vão de fato “colar” continuarão.
Para você leitor, nossa recomendação continua uma avaliação global do paciente. Quem é o paciente de maior risco, que se beneficia de maior vigilância, reposição volêmica guiada por metas e antibiótico em até uma hora? Aquele com:
- Alteração nível consciência
- Desconforto respiratório e/ou hipoxemia
- Hipotensão (atenção aos pacientes com PA “normal” que são previamente hipertensos)
- Oligúria e/ou azotemia
- Acidose metabólica
- Lactato elevado
- Trombocitopenia e/ou discrasia
- Aumento bilirrubina
- Íleo paralítico, distensão abdominal”
Referências:
- SIRS, qSOFA and organ dysfunction: Insights from a prospective database of emergency department patients with infection. Chest 2016 (https://dx.doi.org/10.1016/j.chest.2016.10.057)
- https://www.jwatch.org/na42992/2016/12/01/sirs-vs-qsofa-score-emergency-department?query=etoc_jwhospmed&jwd=000020039906&jspc=IM
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