Logotipo Afya
Anúncio
Infectologia1 maio 2024

Zika no Brasil: O panorama da doença de 2015 a 2023

Relatório do Ministério da Saúde compila informações sobre casos da doença no país.

No primeiro trimestre deste ano, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde publicou o Boletim Epidemiológico: Situação epidemiológica da síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika: Brasil, 2015 a 2023 com todos os dados registrados e consolidados sobre a doença no período que abrange desde o início da epidemia brasileira de Zika até o final do ano passado. 

Retrospectiva 

Arbovírus da família Flaviviridae, a Zika é transmitida pela picada da fêmea dos mosquitos da espécie Aedes aegypti (o mesmo vetor da dengue). Contudo, a Zika também pode ser transmitido pela via sexual e por transfusão sanguínea. 

Entre as consequências da infecção pelo Zika vírus estão febre, exantemas e dores articulares. Sintomas comuns que podem ser confundidos com outras doenças. Entretanto, quando a infecção ocorre no período gestacional ela pode gerar a síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika (SCZ). 

A SCZ foi identificada em 2015, quando o Brasil registrou um aumento significativo do número de casos de recém-nascidos diagnosticados com microcefalia. Na época foi declarada Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin), o que durou até 2017. Mas isso só significou o fim do período mais grave da quantidade de casos, a SCZ afetou milhares de pessoas desde 2017 e por isso a importância da vigilância sobre a doença. 

Leia também: O impacto gerado por doenças com consequências neurológicas 

Dados do relatório

As informações apresentadas no Boletim mostram que de 2015 a 2023, foram notificados ao Ministério da Saúde 22.251 casos suspeitos de SCZ, desses, 15.381 foram nos anos da Espin, de 2017 até 2022 um número menor foi relatado a cada ano, com os anos da pandemia apresentando menos de 1.000 casos, mas em 2023 houve um novo crescimento, com 1035 casos notificados. 

Contudo, é importante notar a diferença entre casos notificados e os confirmados, do total de casos de 2017 a 2023, apenas 16,8% (3.742) foram confirmados para infeção congênita e entre esses, apenas 48,9% (1.828) foram classificados como SCZ, 261 resultando em morte (56 óbitos fetais, 42 abortos espontâneos e 162 óbitos pós-natais).  

Há ainda os casos que permanecem sob investigação, mesmo casos de 2015 ainda não foram definidos, 2% do total de notificações de 2015. Para 2016 esse percentual é de 5%, 9% para 2017, 14% para 2018, 24% dos casos de 2019, 27% em 2020, 31% em 2021, 42% em 2022 e 2023 apresenta 66% das notificações ainda sob investigação.  

O Nordeste, principal região afetada durante a Espin, continua como a que apresenta a maior parte dos casos com 75,5%. 

Atenção continuada 

O relatório também destaca a necessidade de acompanhamento do desenvolvimento das crianças afetadas pela SCZ, principalmente na atenção primária com “consultas de rotina, ações de promoção, proteção, detecção precoce, atendimento e reabilitação de alterações que possam repercutir em sua vida futura.” 

Além disso, embora a microcefalia seja a manifestação clínica mais marcante da SCZ, nem sempre ela está presente, outras anomalias congênitas cerebrais e oculares podem aparecer, assim como comorbidades como “epilepsia, paralisia cerebral, atraso no neurodesenvolvimento, alterações oculares e das capacidades de visão e audição, desproporção craniofacial e algumas deformidades de membros e articulações.” 

Há ainda, por parte do texto divulgado, um reforço sobre a necessidade de prosseguimento no acompanhamento devido ao desconhecimento sobre as consequências clínicas da SCZ no longo prazo. Sendo necessárias ações de inclusão e de garantia de um acompanhamento longitudinal com atenção especializada. 

Saiba mais: Estudo indica que infecção materna por zika aumenta risco de TEA 

Considerações finais do Boletim Epidemiológico 

O documento afirma que apesar do declínio do número de casos notificados e da complexidade do processo para confirmação da síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika (SCZ), o impacto da condição sobre a população e a alta circulação do vetor de transmissão no território brasileiro tornam importante a manutenção da vigilância, com monitoramento e análise das ocorrências e realização de ações de prevenção e cuidado da população afetada. 

Algumas das recomendações finais incluem o fortalecimento de protocolos de atendimento, capacitação das equipes médicas tanto para atendimento primário quanto para questões de acompanhamento e cuidado prolongado e investimentos em estruturas de serviços de saúde que, através do acesso oportuno por parte das populações afetadas, permitam que se diminua o percentual de casos ainda sob investigação e possa-se criar um cenário epidemiológico mais fidedigno da SCZ no país.

*Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal. 

Autoria

Foto de Augusto Coutinho

Augusto Coutinho

Jornalista formado pela Universidade Estácio de Sá (UNESA) em 2009, com extensão em Produção Editorial (UNESP) e Planejamento Digital (M2BR Academy).

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Infectologia