No primeiro trimestre deste ano, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde publicou o Boletim Epidemiológico: Situação epidemiológica da síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika: Brasil, 2015 a 2023 com todos os dados registrados e consolidados sobre a doença no período que abrange desde o início da epidemia brasileira de Zika até o final do ano passado.
Retrospectiva
Arbovírus da família Flaviviridae, a Zika é transmitida pela picada da fêmea dos mosquitos da espécie Aedes aegypti (o mesmo vetor da dengue). Contudo, a Zika também pode ser transmitido pela via sexual e por transfusão sanguínea.
Entre as consequências da infecção pelo Zika vírus estão febre, exantemas e dores articulares. Sintomas comuns que podem ser confundidos com outras doenças. Entretanto, quando a infecção ocorre no período gestacional ela pode gerar a síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika (SCZ).
A SCZ foi identificada em 2015, quando o Brasil registrou um aumento significativo do número de casos de recém-nascidos diagnosticados com microcefalia. Na época foi declarada Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin), o que durou até 2017. Mas isso só significou o fim do período mais grave da quantidade de casos, a SCZ afetou milhares de pessoas desde 2017 e por isso a importância da vigilância sobre a doença.
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Dados do relatório
As informações apresentadas no Boletim mostram que de 2015 a 2023, foram notificados ao Ministério da Saúde 22.251 casos suspeitos de SCZ, desses, 15.381 foram nos anos da Espin, de 2017 até 2022 um número menor foi relatado a cada ano, com os anos da pandemia apresentando menos de 1.000 casos, mas em 2023 houve um novo crescimento, com 1035 casos notificados.
Contudo, é importante notar a diferença entre casos notificados e os confirmados, do total de casos de 2017 a 2023, apenas 16,8% (3.742) foram confirmados para infeção congênita e entre esses, apenas 48,9% (1.828) foram classificados como SCZ, 261 resultando em morte (56 óbitos fetais, 42 abortos espontâneos e 162 óbitos pós-natais).
Há ainda os casos que permanecem sob investigação, mesmo casos de 2015 ainda não foram definidos, 2% do total de notificações de 2015. Para 2016 esse percentual é de 5%, 9% para 2017, 14% para 2018, 24% dos casos de 2019, 27% em 2020, 31% em 2021, 42% em 2022 e 2023 apresenta 66% das notificações ainda sob investigação.
O Nordeste, principal região afetada durante a Espin, continua como a que apresenta a maior parte dos casos com 75,5%.
Atenção continuada
O relatório também destaca a necessidade de acompanhamento do desenvolvimento das crianças afetadas pela SCZ, principalmente na atenção primária com “consultas de rotina, ações de promoção, proteção, detecção precoce, atendimento e reabilitação de alterações que possam repercutir em sua vida futura.”
Além disso, embora a microcefalia seja a manifestação clínica mais marcante da SCZ, nem sempre ela está presente, outras anomalias congênitas cerebrais e oculares podem aparecer, assim como comorbidades como “epilepsia, paralisia cerebral, atraso no neurodesenvolvimento, alterações oculares e das capacidades de visão e audição, desproporção craniofacial e algumas deformidades de membros e articulações.”
Há ainda, por parte do texto divulgado, um reforço sobre a necessidade de prosseguimento no acompanhamento devido ao desconhecimento sobre as consequências clínicas da SCZ no longo prazo. Sendo necessárias ações de inclusão e de garantia de um acompanhamento longitudinal com atenção especializada.
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Considerações finais do Boletim Epidemiológico
O documento afirma que apesar do declínio do número de casos notificados e da complexidade do processo para confirmação da síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika (SCZ), o impacto da condição sobre a população e a alta circulação do vetor de transmissão no território brasileiro tornam importante a manutenção da vigilância, com monitoramento e análise das ocorrências e realização de ações de prevenção e cuidado da população afetada.
Algumas das recomendações finais incluem o fortalecimento de protocolos de atendimento, capacitação das equipes médicas tanto para atendimento primário quanto para questões de acompanhamento e cuidado prolongado e investimentos em estruturas de serviços de saúde que, através do acesso oportuno por parte das populações afetadas, permitam que se diminua o percentual de casos ainda sob investigação e possa-se criar um cenário epidemiológico mais fidedigno da SCZ no país.
*Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal.
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