Terapia dupla em marcadores inflamatórios e de reservatório como tratamento de HIV
Com o desenvolvimento de medicações mais eficientes, cada vez mais tem-se procurado esquemas terapêuticos simplificados, com o objetivo principal de facilitar a adesão e diminuir as chances de ocorrência de eventos adversos. Nesse contexto, a terapia dupla vem ganhando destaque. Embora já haja muitas evidências para seu uso como manutenção em pacientes estáveis, com bom controle virológico, a administração de terapia dupla como opção inicial ainda é debatida.
Uma preocupação é a possibilidade de a menor exposição a antirretrovirais com a terapia dupla poderia favorecer a persistência viral e inflamação crônica. Informações sobre o impacto de terapia dupla em comparação com terapia tripla sobre o reservatório viral e sobre biomarcadores inflamatórios ainda são escassas em pacientes que iniciam tratamento.
Baseado nisso, os investigadores do estudo DUALITY buscaram avaliar diferenças nos efeitos de terapia dupla com dolutegravir (DTG) e lamivudina (3TC) e terapia tripla com dolutregavir, emtricitabina (FTC) e tenofovir alafenamida (TAF) como esquema inicial em indivíduos que nunca haviam feito uso de terapia antirretroviral na evolução do reservatório e em biomarcadores de inflamação e de ativação e exaustão celular.
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Materiais e métodos
Um total de 44 participantes foram incluídos no estudo, conduzido em um único centro na cidade de Badalona, Espanha. Os participantes foram recrutados no período de 2019 a 2021. O estudo também incluiu indivíduos adultos sem exposição prévia ao HIV. Os principais critérios de exclusão incluíram qualquer doença definidora de AIDS ativa nas quatro semanas anteriores à entrada no estudo, carga viral de HIV > 500.000 cópias/mL, hepatites B ou C crônicas, TFG < 50 mL/min e tratamento concomitante com medicações que pudessem interagir com os antirretrovirais.
Os participantes incluídos foram randomizados na razão 1:1 para iniciar o tratamento antirretroviral com DTG + 3TC ou DTG/FTC/TAF. A randomização foi estratificada pelo tempo estimado de aquisição de HIV (< ou > 3 meses, baseado em análise de comportamentos de risco e/ou sinais e sintomas de infecção aguda pelo HIV) e pelo valor da carga viral inicial (< ou > 100.000 cópias/mL).
O objetivo primário do estudo foi comparar as alterações no total de DNA proviral em linfócitos T-CD4 da entrada no estudo até a semana 48 entre os dois braços. Os objetivos secundários incluíram comparações em mudanças em outros determinantes de reservatório, na contagem de linfócitos T-CD4 e na relação de linfócitos T CD4/CD8, marcadores inflamatórios solúveis em plasma e marcadores de superfície de ativação imune e de exaustão das células T CD4 e CD8. A proporção de participantes em cada grupo com carga viral < 50 cópias/mL e < 1 cópia/mL durante o seguimento também foi comparada.
Imagem de freepikResultados
Todos os 44 participantes com HIV foram homens cisgênero. A maioria era branca e a mediana de idade foi de 31,4 anos. Aproximadamente 23% dos participantes incluídos apresentavam carga viral de entrada > 100.000 cópias/mL e a contagem de células T-CD4 foi < 200 células/mm³ em cerca de 5%. O tempo estimado de aquisição de HIV foi de < 3 meses em 4 participantes em cada braço.
No geral, houve uma redução rápida na carga viral após o início da terapia antirretroviral, sem diferença estatisticamente significativa entre os grupos. Na semana 2 do estudo, 52% dos participantes alocados no grupo de DTG + 3TC e 41% nos alocados no grupo de DTG/FTC/TAF apresentavam carga viral < 50 cópias/mL. Na semana 4, essas proporções aumentaram para 76% e 73%, respectivamente.
Ao final do estudo, na semana 48, todos os participantes apresentaram carga viral < 50 cópias/mL, exceto um participante do grupo de terapia dupla que apresentou carga viral de 292 cópias/mL no contexto de sífilis secundária. Esse participante alcançou ressupressão viral, sem necessidade de alterar o esquema de tratamento. Blips isolados foram detectados durante o período de seguimento em um participante em cada braço. A proporção de participantes com carga viral < 1 cópia/mL na semana 48 foi de 45% no grupo da terapia dupla e de 14% no grupo de terapia tripla.
Houve redução em todos os parâmetros relacionados à avaliação do reservatório após o início do tratamento antirretroviral, sem diferença significativa entre os braços na semana 48. A redução nas células T-CD4 contendo HIV transcriptocionalmente induzível ou ativo foi mais pronunciada do que a detectada no pool global de células contendo DNA HIV integrado.
Em relação ao aumento na contagem de linfócitos T-CD4 da entrada até a semana 48, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos. O mesmo aconteceu quando se comparou as razões de células T- CD4 e T-CD8 na semana 48. Alterações em biomarcadores inflamatórios e de ativação e exaustão de linfócitos T-CD4 e CD8 também foram semelhantes nos dois grupos.
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Mensagens práticas
- Os resultados desse estudo mostraram respostas semelhantes na resposta virológica e na redução de marcadores de reservatório de HIV entre participantes, virgens de tratamento, que iniciaram tratamento com DTG + 3TC e os que iniciaram DTG/FTC/TAF.
- Também não houve diferença entre os grupos na redução de marcadores inflamatórios e de ativação e exaustão de linfócitos T.
- Esses resultados somam-se às evidências que apoiam o uso de terapia dupla com DTG + 3TC como terapia inicial para HIV.
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