Estafilococos coagulase-negativos são bactérias presentes na microbiota normal da pele. Seu isolamento em culturas, especialmente em hemoculturas, é frequentemente decorrente de contaminação. Uma exceção é o Staphylococcus lugdunensis, que apresenta um comportamento diferente, muito semelhante ao de S. aureus. Conhecimento sobre esse patógeno é importante na prática clínica para correto manejo dos pacientes.
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Características clínicas
- S. lugdunensis é um coco Gram-positivo, comensal da pele, que normalmente coloniza as áreas inferiores do corpo, como virilhas e períneo, mas podendo também ser encontrado em axilas e nasofaringe. As estimativas de colonização na população são altas (30 – 55%), com taxas elevadas em pacientes que realizam hemodiálise.
Pode ser agente de infecções invasivas, como infecções de pele e partes moles, osteomielite e infecções de prótese, e endocardite de valvas nativas e, menos comumente, de valvas protéticas.
Bacteremia
Embora a incidência de bacteremia por S. lugdunensis seja considerada baixa (< 1% de todas as hemoculturas positivas por estafilococos coagulase-negativos), as taxas de mortalidade relatadas estão entre 10 e 45%, o que é comparável às encontradas em bacteremias por S. aureus. Por esse motivo, isolamento de S. lugdunensis em hemocultura não deve ser considerado como contaminação devido ao risco de sepse grave e endocardite infecciosa. Nesses casos, recomenda-se consulta com um infectologista, a qual já se mostrou associada a redução na taxa de mortalidade em 90 dias e em 1 ano.
Endocardite infecciosa
- S. lugdunensis é uma causa incomum de endocardite em valva nativa (aproximadamente 1% dos casos). Entretanto, nos casos de endocardite causados por esse organismo, a maioria ocorre em valva nativa, o que difere de outros estafilos coagulase-negativos. A maior parte dos casos envolve o lado esquerdo, com predominância da valva mitral. Estudos mais antigos mostram um alto índice de complicações – como insuficiência cardíaca, abscesso perianular, embolia séptica e choque – e de necessidade de intervenção cirúrgica – com números entre 51 e 69%. A mortalidade associada também é elevada, com números que variam entre 40 a 78%.
Infecção de prótese articular
Essa espécie de estafilo é uma causa conhecida de infecções ósseas e articulares, a maioria relacionadas à presença de prótese articular. O acometimento de próteses de joelho é mais frequente do que a de próteses de quadril. Os estudos sobre o assunto são escassos, mas sugerem que as infecções por S. lugdunensis eram mais propensas a se apresentar com febre e com sinais inflamatórios locais quando comparadas com as por S. aureus e S. epidermidis. O tratamento com betalactâmicos parece ser superior ao com vancomicina, mas mais estudos são necessários.
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