Segurança de administração simultânea de vacinas de Covid-19 e Influenza
Um dos maiores avanços para a prevenção de covid-19 foi o desenvolvimento de vacinas contra a doença. Apesar da segurança comprovada e reconhecida em diversos estudos, preocupações em relação a possíveis eventos adversos ainda são causa importante de hesitação vacinal. A administração simultânea de mais de uma vacina é uma prática comum, que permite maior adesão e reduz os riscos de perdas de oportunidade de imunização. Além disso, pode ser utilizada como estratégia para otimizar a prevenção de doenças com riscos epidemiológicos semelhantes e que podem ser alvo de campanhas de vacinação. Nesse contexto, a administração concomitante de vacinas contra covid-19 e influenza pode significar uma estratégia interessante em termos de saúde pública. Entretanto, dados em relação à segurança dessa prática ainda são relativamente escassos na literatura.
Um estudo conduzido nos Estados Unidos e publicado recentemente na JAMA Network Open procurou avaliar a ocorrência de eventos adversos com a coadministração das duas vacinas.
Materiais e métodos
Trata-se de um ensaio clínico multicêntrico, prospectivo, randomizado, controlado por placebo, conduzido entre outubro de 2021 a junho de 2023.
Os critérios de elegibilidade incluíram intenção de receber vacinação contra influenza e covid-19 (de acordo com as recomendações do CDC e do Advisory Committee on Immunization Practices) e idade ≥ 5 anos para a vacinação primária com vacina de mRNA contra covid-19 ou ≥ 12 anos para doses de reforço dessa vacina. Gestantes, indivíduos com alguma forma de imunossupressão ou com contraindicação a qualquer uma das duas vacinas foram excluídos.
A vacina de mRNA contra covid-19 (monovalente ou bivalente dependendo da época da inclusão do participante) foi administrada no dia da inclusão no estudo (D1). Os participantes foram randomizados na razão 1:1 para receber, no mesmo dia, vacina de influenza ou placebo no braço contralateral. Em uma segunda visita, entre o D8 e D15, aqueles que receberam a vacina contra influenza no D1 receberam placebo e os que receberam placebo receberam a vacina. A randomização foi estratificada por idade, se era vacinação primária ou dose de reforço e por local do estudo. Somente os profissionais que administraram as vacinas sabiam da alocação de cada indivíduo. Os participantes e demais profissionais envolvidos no estudo eram cegos para os resultados da randomização.
O desfecho primário foi a ocorrência de eventos relacionados com reatogenicidade, definidos como febre, calafrios, mialgia e/ou artralgia classificados como moderados (grau 2), graves (grau 3) ou potencialmente ameaçadores à vida (grau 4) entre os dias 1 e 7 após cada uma das visitas do estudo.
Resultados
Foram incluídas 335 pessoas no estudo: 169 no grupo que recebeu as vacinas de forma simultânea e 166 no grupo que as recebeu de forma sequencial. A maior parte dos voluntários era mulher (63,0%) e a mediana de idade foi de 33,4 anos.
A proporção de participantes com algum evento de reatogenicidade no período de uma semana após as visitas 1 e/ou 2 foi não-inferior, mas não estatisticamente superior quando se comparou o grupo que recebeu as vacinas de forma simultânea com o que teve a administração sequencial. Após a visita 1, 40 participantes no grupo que recebeu as vacinas concomitantemente (23,8%) e 47 no grupo sequencial (28,3%) relataram eventos de reatogenicidade. Após a vacina 2, as porcentagens foram menores em ambos os grupos, mantendo-se semelhantes: 5 (3,0%) e 9 (5,4%), respectivamente.
Nenhum evento adverso reportado foi considerado como potencialmente ameaçador à vida. No geral, mais participantes relataram eventos de reatogenicidade locais e sistêmicos após a primeira visita do que a segunda. Para a visita 1, a proporção de participantes com qualquer reação local à vacina covid-19 ou sintoma sistêmico foi semelhante em ambos os grupos. Entretanto, quando comparados com os que receberam placebo, uma maior proporção de voluntários que receberam a vacina de Influenza apresentou dor no local da injeção e edema e/ou desconforto axilar.
No geral, aproximadamente 10% a 25% dos participantes relataram dor no local da injeção, febre, calafrios, fadiga, mialgia ou cefaleia classificados como moderados ou graves com a administração da vacina contra covid-19. Após a visita 2, uma maior proporção de participantes recebendo a vacina contra Influenza relatou algum dos eventos de reatogenicidade, quando comparados com os que receberam placebo.
Conclusões: administração simultânea de vacinas de Covid-19 e Influenza
Não foram observadas diferenças entre os grupos em relação a sintomas sistêmicos moderados ou graves em nenhuma das visitas, independente de tratar-se de vacinação primária ou de reforço contra covid-19. Também não houve diferença entre os grupos, para ambas as visitas, na porcentagem de participantes com eventos locais graves ou reatogenicidade sistêmica.
Uma limitação importante é que, por problemas logísticos, o estudo não alcançou o número estimado de participantes para se avaliar não-inferioridade. Além disso, por ter uma amostra relativamente pequena, o estudo pode não der detectado eventos mais raros.
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