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Infectologia21 novembro 2025

Risco de Sarcoma de Kaposi entre pessoas vivendo com HIV em uso de TARV

Estudo buscou compreender em que medida o risco de sarcoma de Kaposi é afetado pela resposta à terapia antirretroviral (TARV)
Por Raissa Moraes

A epidemiologia do câncer entre pessoas vivendo com HIV (PVHIV) nos Estados Unidos mudou significativamente nas últimas décadas. O uso eficaz da terapia antirretroviral (TARV) promoveu restauração imune e maior capacidade de combate a vírus oncogênicos, como o herpesvírus humano tipo 8 (HHV-8), agente etiológico do sarcoma de Kaposi — uma neoplasia fortemente associada à imunossupressão. Nos Estados Unidos e na Europa, trata-se de um câncer definidor de AIDS raramente diagnosticado fora do contexto de infecção pelo HIV, e o amplo acesso à TARV reduziu substancialmente sua incidência populacional. No entanto, o sarcoma de Kaposi ainda ocorre em indivíduos sob TARV efetiva.  

Estudo  

Um estudo recente publicado na AIDS, teve como objetivo avaliar a incidência e a sobrevida do sarcoma de Kaposi na era moderna da TARV entre PVHIV acompanhados em centros de pesquisa e cuidado vinculados à rede Center for AIDS Research Network of Integrated Clinical Systems (CNICS)entre 1996 e 2016. A pesquisa anterior do mesmo grupo (1996–2011) já havia demonstrado redução de 37% no risco de sarcoma de Kaposi a cada aumento de 100 células/ml no número de linfócitos T CD4+ após início da TARV. 

Na análise atual, envolvendo mais de 20.000 PVHIV, 344 foram diagnosticados com sarcoma de Kaposi. Contagem de CD4+ inferior a 200 células/ml no início da TARV esteve associada a um risco seis vezes maior da doença, e carga viral superior a 50.000 cópias/mL, a um risco três vezes maior. Cada aumento de 100 células/ml no CD4+ ou redução logarítmica da carga viral entre 12 e 18 meses após início da TARV resultou em diminuição de 11% e 7% no risco de sarcoma, respectivamente. Além disso, durante o seguimento clínico, cada aumento de 10% no tempo com CD4+ > 350 células/mL ou carga viral < 500 cópias/mL associou-se à redução de 24% e 26% no risco da doença. Todos os resultados foram estatisticamente significativos (p < 0,05).  

Resultados  

Os achados indicam que não apenas o início precoce da TARV, mas também a manutenção contínua da supressão viral e da restauração imune reduzem o risco de sarcoma de Kaposi. O efeito protetor foi mais pronunciado em indivíduos que iniciaram TARV com CD4+ < 200 células/mL, reforçando a necessidade de acompanhamento clínico rigoroso e adesão sustentada ao tratamento. 

Em termos prognósticos, observou-se que a sobrevida após o diagnóstico de sarcoma de Kaposi dependeu fortemente da condição imunológica. Pacientes com CD4+ < 250 células/mL apresentaram mediana de sobrevida inferior a seis meses, enquanto aqueles com CD4+ >500 células/ml alcançaram sobrevida média de quase quatro anos. Cada aumento de 10% no tempo pós-diagnóstico com CD4+ > 350 células/mL reduziu o risco de morte em 16%. Esses resultados corroboram evidências anteriores de que a reconstituição imune obtida com TARV efetiva melhora tanto a prevenção quanto o prognóstico do sarcoma de Kaposi.  

Risco de Sarcoma de Kaposi entre pessoas vivendo com HIV em uso de TARV

Mensagem prática: Sarcoma de Kaposi e TARV  

Apesar de limitações — como ausência de dados detalhados sobre a gravidade da neoplasia e variações nos esquemas de TARV —, o CNICS fornece uma amostra robusta e representativa da prática clínica real nos EUA. Conclui-se que a falta de controle virológico contínuo aumenta significativamente o risco e piora o prognóstico do sarcoma de Kaposi, ressaltando a importância de adesão sustentada à TARV e monitoramento regular. O estudo reforça que o controle duradouro do HIV é fundamental não apenas para a prevenção de doenças oportunistas, mas também para reduzir a mortalidade associada ao câncer entre PVHIV.

Autoria

Foto de Raissa Moraes

Raissa Moraes

Editora médica de Infectologia da Afya ⦁ Médica do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/FIOCRUZ ⦁ Mestrado em Pesquisa Clínica pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/FIOCRUZ ⦁ Infectologista pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/FIOCRUZ ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense

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