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Infectologia12 julho 2024

Prevalência de esteatose hepática em PVHIV de acordo com IMC 

Estudo avaliou fatores de risco para esteatose hepática em uma coorte de PVHIV, realizando uma análise por subgrupos de IMC

Alterações metabólicas são uma importante causa de morbidade e mortalidade em pacientes vivendo com infecção pelo HIV (PVHIV), mesmo com uso de terapia antirretroviral. As doenças hepáticas se destacam, com a doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD) sendo agora a principal doença hepática em PVHIV. 

A MASDL é caracterizada pela presença de esteatose, que pode progredir para estetatohepatite, fibrose e cirrose. Embora classicamente associada com obesidade e síndrome metabólica, a esteatose também pode ocorrer em indivíduos com menores valores de IMC, o que pode ser uma condição prevalente em PVHIV. Esse fato é importante uma vez que esteatose em pessoas classificadas como magras está associada a aumento de doenças cardiovasculares. 

Além dos fatores de risco metabólicos tradicionais, a exposição aos antirretrovirais e outras características específicas relacionadas à infecção pelo HIV podem contribuir para o desenvolvimento e progressão de esteatose, mas estudos que procuraram avaliar essas associações mostraram resultados inconsistentes. 

Um estudo recentemente publicado avaliou fatores de risco para esteatose hepática em uma coorte de PVHIV, realizando uma análise por subgrupos de indivíduos magros e obesos/com sobrepeso. 

Prevalência de esteatose hepática em PVHIV de acordo com IMC 

Imagem de luis_molinero/freepik

Materiais e métodos 

O estudo utilizou os dados da coorte 2000HIV, um estudo longitudinal conduzido em 4 centros de tratamento de HIV na Holanda. Os participantes foram incluídos entre outubro de 2019 e outubro de 2021. 

Os critérios de inclusão foram infecção por HIV-1, idade ≥ 18 anos, uso de terapia antirretroviral (TARV) ≥ 6 meses e carga viral de HIV < 200 cópias/mL. Controladores de elite também puderam ser incluídos. Os critérios de exclusão foram DNA detectável de HCV ou HBV em exame de PCR, sinais e sintomas de outras infecções ativas e gestação. 

Para a análise, foram utilizados os dados referentes à visita de inclusão na coorte. Indivíduos foram classificados de acordo com seu IMC e os subgrupos de indivíduos magros foi composto por aqueles com baixo peso (IMC < 18,5 kg/m²) e peso normal (IMC ≥ 18,5 e < 23 kg/m²) e de indivíduos obesos/com sobrepeso, por aqueles com sobrepeso (IMC ≥ 25 e < 30 kg/m²) e obesidade (IMC ≥ 30 kg/m²). 

Já a presença de síndrome metabólica foi definida com ≥ 3 dos seguintes: obesidade abdominal, triglicerídeos ≥ 150,5 mg/dL ou uso de terapia hipolipemiante, HDL < 38,67 mg/dL em homens e < 50,27 mg/dL em mulheres ou uso de terapia hipolipemiante, pressão sistólica ≥ 130mmHg, pressão diastólica ≥ 85mmHg ou uso de medicação anti-hipertensiva e diagnóstico prévio de diabetes tipo 2. 

De acordo com o IMC e os resultados obtidos em exame de elastografia, os participantes foram classificados em magros com esteatose, magros sem esteatose, obesos/sobrepeso com esteatose e obesos/sobrepeso sem esteatose. A mesma distinção foi feita em relação à presença de fibrose. 

Resultados 

Foram recrutados 1895 participantes, dos quais 1050 foram incluídos: 505 classificados como magros e 545 classificados como obesos/sobrepeso. O grupo de indivíduos magros era ligeiramente mais jovem e apresentou menos mulheres, mais pessoas de ascendência europeia, mais tabagistas ativos. 

Em relação a características relacionadas à infecção pelo HIV e ao uso de TARV, os grupos diferiram na contagem de células CD8 (menor no grupo de indivíduos magros), histórico de TARV (maior exposição a indinavir e análogos de dideoxinucleosídeos no grupo de indivíduos magros) e regime atual de TARV (menor prevalência de terapia dupla entre os indivíduos magros). 

Leia também: Caracterização de histoplasmose em pacientes sem infecção pelo HIV 

Considerando toda a população do estudo, 37,7% (IC 95% = 34,7 – 40,7) tinham esteatose significativa. Os participantes obesos/com sobrepeso apresentaram uma prevalência de esteatose de 54,0%, mas a condição também foi comum entre os participantes classificados como magros (19,7%). 

Chama a atenção o fato de que apenas 18,2% dos participantes identificados com esteatose apresentavam essa condição registrada em seus prontuários médicos. Em indivíduos magros, o reconhecimento foi menor do que nos indivíduos com obesidade/sobrepeso (12,0% vs. 20,2%, respectivamente). 

A prevalência de fibrose na coorte foi menor do que a de esteatose: 9,0% (IC 95% = 7,3 – 10,8), sendo classificada como F2 em 6,0% (IC 95% = 4,5 – 7,5), F3 em 1,8% (IC 95% = 1,0 – 2,7%) e F4 em 1,2% (IC 95% = 0,5 – 1,9). Nos indivíduos obesos/com sobrepeso, a prevalência de fibrose foi de 12,0% (IC 95% = 9,2 – 14,9): 7,9% (IC 95% = 5,5 – 10,2) com F2, 2,4% (IC 95% = 1,0 – 3,7) com F3 e 1,8% (IC 95% = 0,6 – 2,9) com F4. A presença de fibrose nos indivíduos magros foi menor, correspondendo a 5,9% (IC 95% = 3,8 – 8,0). 

Em relação a fatores de risco, o consumo de álcool atual ou passado não diferiu entre os indivíduos com esteatose ou fibrose e os que não apresentavam essas condições. Também não houve diferença entre os subgrupos de PVHIV magros e os obesos/com sobrepeso. 

Idade, IMC e espessura da camada de gordura mostraram associações semelhantes com a presença de esteatose entre os diferentes grupos. Entre os indivíduos com obesidade/sobrepeso, mulheres e negros tiveram as menores chances de esteatose hepática. 

Tratamento para dislipidemia, história de infarto do miocárdio e DM2 estiveram associados a maiores chances de esteatose em indivíduos magros, mas nenhuma comorbidade apresentou associação com essa condição no grupo de indivíduos com obesidade/sobrepeso. Em ambos os grupos, concentrações elevadas de TGP e TG estiveram significativamente associadas com esteatose, assim como altas concentrações de LDL e colesterol total e baixas concentrações de HDL. Níveis mais altos de glicose sérica também estiveram relacionados com maiores chances de esteatose hepática, porém a associação só foi significativa no grupo com obesidade/sobrepeso. 

Maiores contagens de células T-CD4 e CD8 estiveram relacionados a maior chance de ocorrência de esteatose em indivíduos magros. Em indivíduos obesos, houve tendência semelhante, mas sem significância estatística. O histórico de TARV também apresentou associação somente em indivíduos magros, com ≥ 1 ano de exposição a inibidores de integrase e uso de raltegravir, estavudina e indinavir estando associadas com maior chance de ocorrência da condição. Já tratamento atual com terapia dupla esteve associado com menores chances de esteatose em indivíduos magros. 

Saiba mais: Nocardiose: como manejar essa condição?

Para a ocorrência de fibrose hepática, IMC, espessura da camada de gordura, DM2 e história de infarto do miocárdio foram fatores de risco identificados no subgrupo de indivíduos obesos/com sobrepeso, mas não em indivíduos magros. Em relação a exames laboratoriais, valores reduzidos de colesterol total, LDL e HDL estiveram associados à fibrose, com tendências similares entre os grupos, enquanto glicose elevada e valores de LDH reduzidos apresentaram associação somente em indivíduos obesos/com sobrepeso. Diferente do encontrado com a ocorrência de esteatose, nenhum fator relacionado ao HIV ou à TARV apresentou correlação com a presença de fibrose. 

No modelo final de análise multivariada, IMC elevado, triglicerídeos, idade, contagem de células T-CD4 e infecção prévia por HBV permaneceram como estando associados com esteatose na população total incluída no estudo, enquanto contagem de células T-CD4 e exposição a raltegravir permaneceram no subgrupo de PVHIV magros. 

Para fibrose hepática, valores elevados de TGP permaneceu como fator associado em ambos os grupos na análise multivariada. HDL baixo e IMC elevado também permaneceram associados na população total, enquanto LDL baixo apresentou associação nos indivíduos magros e HDL e LDH baixos, em indivíduos obesos/com sobrepeso. 

De forma interessante, correlações entre fatores relacionados à infecção pelo HIV e ao uso de TARV foram mais fortes e mais frequentemente significativas em PVHIV magros do que no subgrupo com obesidade/sobrepeso. Os antirretrovirais que estiveram significativamente associados com esteatose no subgrupo de indivíduos magros também estiveram associados com síndrome metabólica, DM2, terapia com hipolipemiantes e história de infarto do miocárdio nesse subgrupo, com somente correlações menores no subgrupo de obesos/sobrepeso.

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Referências bibliográficas

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