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Infectologia28 junho 2024

Caracterização de histoplasmose em pacientes sem infecção pelo HIV 

A histoplasmose é uma doença fúngica endêmica no Brasil que pode causar doença invasiva

A histoplasmose é mais frequentemente estudada no contexto de imunossupressão, principalmente a infecção pelo vírus HIV, em que pode causar doença grave e disseminada. Entretanto, a histoplasmose também pode causar doença em imunocompetentes e em indivíduos com outras formas de imunossupressão e é importante manter um alto nível de suspeição para que o diagnóstico correto seja feito e o tratamento adequado seja administrado precocemente. 

Um estudo conduzido no México procurou avaliar as características clínicas e desfechos de casos de histoplasmose em indivíduos sem infecção pelo HIV, buscando trazer mais informações sobre a doença nessa população. 

Caracterização de histoplasmose em pacientes sem infecção pelo HIV 

Imagem de rawpixel.com/Freepik

Materiais e métodos

Trata-se de um estudo transversal e retrospectivo que incluiu todas as admissões consecutivas em um hospital terciário na Cidade do México, por histoplasmose provável ou comprovada, no período de 2000 a 2021. 

Foram considerados como outras formas de imunossupressão: doenças reumatológicas, diabetes, doença pulmonar crônica, doença real crônica, cirrose, neoplasia hematológica ou de órgãos sólidos ativa, quimioterapia, receptores de transplante de órgãos sólidos ou de células-tronco ou uso de medicamentos. 

Os critérios de inclusão foram idade a partir de 18 anos e diagnóstico de histoplasmose baseado em confirmação microbiológica, histopatológica ou por testes para antígeno de Histoplasma na urina ou no soro positivos. 

Os dados obtidos foram comparados com os de uma coorte publicada previamente, que descreveu casos de histoplasmose disseminada progressiva em indivíduos com infecção pelo HIV. 

O desfecho primário foi comparar as diferenças clínicas, diagnósticas e de desfecho em pacientes com infecção pelo HIV e em pacientes com outras formas de imunossupressão. 

Resultados: histoplasmose em pacientes sem infecção pelo HIV 

No período do estudo, foram identificados 199 casos, sendo 50 (25%) com outras formas de imunossupressão e 149 (75%) com infecção pelo HIV. A idade mediana foi de 39,5 anos no grupo de indivíduos com outra forma de imunossupressão e de 34 anos no grupo de pessoas vivendo com HIV (PVHIV). A proporção de homens foi maior no grupo de PVHIV (85% vs. 48%; p < 0,01). 

No momento do diagnóstico, 42 dos 50 pacientes sem infecção pelo HIV estavam em uso de medicamentos imunossupressores, com corticoides representando a maior parte dos casos (70%), seguidos de micofenolato (36%) e azatioprina (18%). As comorbidades mais frequentes foram doenças autoimunes (44%), doença renal crônica (24%) e receptores de transplante renal (20%). 

Entre os indivíduos do grupo de PVHIV, 57% eram virgens de tratamento antirretroviral. A mediana de células CD4 foi de 31,2 células/mm³ e 66% tinham contagem de CD4 < 50 células/mm³. 

Febre (99% vs. 76%), perda ponderal (92% vs. 28%), diarreia (53% vs. 32%), adenopatia (56% vs. 32%) e dispneia (56% vs. 32%) foram mais frequentes em PVHIV, enquanto esplenomegalia foi mais frequente no grupo de indivíduos com outras formas de imunossupressão (54% vs. 32%). Elevações de AST (54% vs. 27%) e de LDH (64% vs. 25%) foram mais frequentes em PVHIV. A presença de alterações pulmonares em exames de imagem (consolidações, nódulos, opacidades em vidro fosco, derrame pleural e adenopatia mediastinal) foi mais comum no grupo com outras formas de imunossupressão. 

Leia também: Nocardiose: como manejar essa condição?

No grupo com outras formas de imunossupressão, 49 dos 50 casos (98%) tinham histoplasmose confirmada e 46 dos 50 (92%) tinham a forma disseminada da doença. No grupo de PVHIV, 108 dos 149 casos (72%) tinham Histoplasmose confirmada. Todos os casos nessa população tinham a forma disseminada. 

O isolamento em cultura foi mais comum no grupo com outras formas de imunossupressão (96% vs. 64%), mais frequentemente no sangue (19/49), medula óssea (13/49) e pulmão (10/49). A confirmação histopatológica, por sua vez, foi mais comum no grupo de PVHIV (73% vs. 32%). 

Em relação ao tratamento, 41 dos 50 pacientes do grupo com outras formas de imunossupressão receberam algum antifúngico. Entre os indivíduos não tratados, 8 morreram antes do diagnóstico e 1 foi tratado com equinocandina devido à suspeita de infecção fúngica invasiva. A mediana de tempo de tratamento foi de 12 meses. Nessa população, 22 dos 50 casos (44%) morreram até a semana 6, a maioria (20/50) com forma disseminada. 

Mensagens práticas 

  • Neste estudo, indivíduos com histoplasmose e com outras formas de imunossupressão apresentaram menos manifestações clínicas e alterações laboratoriais do que indivíduos com infecção pelo HIV.  
  • Uma limitação importante no estudo são os dados ausentes em relação à mortalidade, o que impediu comparações entre os grupos em relação a esse desfecho.
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