Nos últimos anos, o monkeypox vírus (MPXV) ganhou atenção mundial como agente de preocupação de saúde pública global, com a doença relacionada – mpox — tendo sido considerada como Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2022 e em 2024.
No contexto da disseminação do MPXV em 2022, a vacina de terceira geração contra varíola Ankara modificada (MVA-BN) recebeu autorização emergencial para ser utilizada como profilaxia pré e pós exposição contra mpox. Essa vacina é não replicante, podendo ser administrada em pessoas com alguma forma de imunossupressão. Além disso, estudos randomizados mostraram respostas humorais semelhantes entre pessoas vivendo com HIV e pessoas sem infecção pelo vírus após administração da vacina.
Embora o esquema vacinal com MVA-BN apresente uma eficácia de aproximadamente 81,8% na prevenção de mpox, a durabilidade dessa proteção após 1 ano é incerta, com relatos de infecções em indivíduos vacinados e evidências sugerindo diminuição nos títulos de anticorpos com o tempo. Ao mesmo tempo, a imunidade conferida após um episódio de mpox não é totalmente conhecida, com a possibilidade de infecções posteriores.
Baseados nessas questões, um estudo avaliando respostas de anticorpos até 2 anos após vacinação com MVA-BN e após infecção por MPXV e possíveis fatores que influenciem sua persistência foi publicado na Open Forum Infectious Diseases.
Materiais e métodos
Os participantes do estudo faziam parte de uma coorte nacional irlandesa que recruta pacientes adultos que procuram hospitais com condições relacionadas a doenças infecciosas. Para esse estudo, foram incluídos pacientes com história de vacinação com MVA-BN ou com infecção por MPXV clado IIb confirmada por PCR se houvessem amostras de sangue armazenadas.
As amostras dos participantes incluídos foram coletadas entre outubro de 2022 a dezembro de 2024. O tempo desde a vacinação foi calculado em meses a partir da segunda dose de vacina.
Resultados
No total, foram incluídos 122 participantes vacinados e 13 com mpox. As amostras de sangue foram coletadas e armazenadas com uma mediana de 22 a 25 meses, respectivamente. Todos os participantes com história de infecção por MPXV não foram vacinados. As características clínicas eram semelhantes entre os grupos. Todos os participantes eram do sexo masculino.
Os títulos de anticorpos IgG contra mpox foram significativamente maiores nos participantes com história de infecção natural em comparação com os vacinados. Após 2 anos do evento (vacinação ou infecção), 85% (11/13) permaneceram com títulos de anticorpos acima do valor considerado protetor. No grupo de participantes que foram vacinados, esse percentual foi de 32% (39/122), o que também mostrou diferença estatística.
Comparando-se os indivíduos que permaneceram com títulos protetores após 2 anos com aqueles que não permaneceram, os autores encontraram características clínicas semelhantes entre os grupos, exceto pelo status de infecção pelo HIV. O grupo com títulos protetores persistentes possuía menos pessoas vivendo com HIV em comparação com o grupo em que os títulos caíram abaixo dos níveis protetores (7%; 3/39 vs. 33%; 27/92, respectivamente; p = 0,01). Pessoas vivendo com HIV (PVHIV) também apresentaram menores títulos de anticorpos em relação aos sem infecção pelo HIV, mas essa diferença não foi estatisticamente significativa. As PVHIV foram 82% menos prováveis de manter soropositividade contra mpox após 2 anos (OR = 0,18; IC 95% = 0,04 – 0,60; p = 0,01). Não houve correlação entre os títulos de anticorpos e a contagem de linfócitos T-CD4.
Nos casos de indivíduos em que foi possível comparar amostras de sangue seriadas, a avaliação da cinética mostrou um declínio significativo nos títulos de anticorpos após vacinação, com queda abaixo dos valores considerados protetores em uma média de 15,5 meses após a administração da segunda dose. Além disso, a queda nos títulos de anticorpos de forma mais acentuada em PVHIV vacinados em comparação a pessoas sem HIV. Comparativamente, em indivíduos com mpox, os títulos de anticorpos mantiveram-se estáveis ao longo do período. Entretanto, os autores ressaltam que o número pequeno de participantes com mpox pode limitar a precisão desses resultados.

Conclusões: Persistência de anticorpos contra mpox
- Esse estudo demonstrou um declínio significativo com o tempo nos títulos de anticorpos contra mpox produzidos após vacinação, enquanto permaneceram relativamente estáveis nos participantes com história de infecção.
 - A queda nos títulos pós-vacinação foi mais rápida em PVHIV e a proporção de indivíduos que permaneceram com níveis protetores após 2 anos foi menor nessa população.
 - Apesar desses resultados, o real significado clínico dessa cinética ainda não está determinado, principalmente porque não houve avaliação de respostas de memória.
 
Autoria

Isabel Cristina Melo Mendes
Infectologista pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) ⦁ Graduação em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro
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