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Infectologia9 outubro 2024

Performance de exame de urina para diagnóstico de infecção urinária 

Estudo comparou o desempenho de diferentes parâmetros de exame de urina na predição de infecção do trato urinário (ITU).

Estando amplamente disponíveis e de execução fácil e rápida, o exame de análise de urina frequentemente é solicitado para investigação diagnóstica mesmo em pessoas sem sintomas de infecção urinária. 

Entretanto, a acurácia dos parâmetros da urinanálise para predizer a presença de infecção urinária e seu uso indiscriminado pode levar a aumento de solicitações de urinoculturas e prescrição inadequada de antibióticos quando alterações são detectadas. 

Baseados nesses fatos, um grupo norte-americano de pesquisadores investigou a performance dos diferentes parâmetros do exame de análise de urina, sozinhos e combinados, para predizer a presença de infecção urinária. 

Leia também: Análise de EAS em pacientes hospitalizados para predizer infecção urinária 

Performance de exame de urina para diagnóstico de infecção urinária 

Imagem de freepik

Materiais e métodos 

Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo conduzido em cinco hospitais em três estados dos Estados Unidos. Foram incluídos pacientes que foram atendidos em departamentos de emergência ou internados em um dos hospitais participantes entre 2017 e 2019 e que tiveram solicitações de exame de análise de urina e urinocultura com até 24h de intervalo entre elas. Foram excluídos os indivíduos com < 18 anos ou os com presença de cateteres urinários de longa permanência. Registros duplicados também foram excluídos. 

A partir de registros em prontuários eletrônicos, foram coletados dados sociodemográficos laboratoriais e radiológicos. A presença de sinais e sintomas foi avaliada a partir dos dados registrados nas 48h antes e após a coleta do exame de urinocultura. 

O desfecho de interesse foi a presença de infecção do trato urinário (ITU), que foi definida como crescimento bacteriano de > 100.000 UFC/mL na urina de indivíduo com sinais e sintomas genitourinários ou com pelo menos dois dos seguintes: febre, calafrios, hipotensão, náuseas ou vômitos, delirium ou obstrução urinária nova ou trauma resultando em sangramento. 

Saiba mais: Infecção urinária e inibidores do SGLT2 (iSGLT2)

Parâmetros do exame de análise de urina considerados relevantes — piúria, nitrito, esterase leucocitária e bacteriúria — foram avaliados em sua capacidade de predizer a presença de ITU por meio do cálculo de sensibilidade, especificidade, valor preditivo negativo (VPN) e valor preditivo positivo (VPP). O VPN de piúria, nitrito e esterase leucocitária também foi avaliado em diferentes grupos de acordo com idade e sexo: homens vs. mulheres e < 65 anos vs. ≥ 65 anos. 

Resultados 

Após remoção de duplicatas, 3.392 registros foram incluídos na análise. A mediana de idade na coorte foi de 67 anos (IQR = 54-79 anos) e 59,6% eram mulheres. Do total de indivíduos incluídos, 42,1% apresentaram urinocultura positiva (≥ 100.000 UFC/mL), 30,6% apresentaram urinocultura negativa ou com crescimento de microbiota normal do trato urogenital, 17,0% apresentaram crescimento polimicrobiano e 10,3% apresentaram crescimento entre 1000 e 99.999 UFC/mL. Das urinoculturas positivas, Escherichia coli foi a bactéria mais prevalente (44,1%). 

Na coorte, 21,3% dos indivíduos preenchiam os critérios para a presença de ITU. Nenhum parâmetro do exame de análise apresentou uma alta sensibilidade (≥ 95%) individualmente para ITU. Traços de esterase leucocitária e baixos níveis de piúria apresentaram ambos uma sensibilidade razoável (≥ 90%), mas a sensibilidade caiu com o aumento dos níveis desses parâmetros. 

Ausência de traços de esterase leucocitária e piúria tiveram um alto VPN (≥ 95%). Entretanto, o VPN de cada um dos parâmetros de exame de análise de urina diferiu por idade e sexo, com uma pior performance em mulheres com ≥ 65 anos. Em todos os parâmetros, o VPN foi maior em homens do que em mulheres. 

Avaliando-se modelos de parâmetros combinados, os modelos com piúria ≥ 10 células/hpf ou nitrito positivo e com esterase leucocitária +1 ou nitrito positivo foram os com melhor performance para excluir a presença de ITU quando comparados com piúria isoladamente. De acordo com as estimativas do estudo, se esses modelos fossem usados como marcador para solicitação de urinocultura, seriam evitados 46,6% e 47,6% exames em pacientes sem ITU, respectivamente, e < 5% de infecções não teriam sido detectadas, principalmente em mulheres idosas. 

Mensagens práticas: exame de urina e ITU

  • Os parâmetros de exame de análise de urina apresentaram, individualmente ou em combinação, baixo VPP para o diagnóstico de ITU.
  • A ausência de piúria apresentou bom VPN para excluir a presença de ITU. Contudo, a combinação de piúria e nitrito apresentou melhor performance para excluir ITU do que a piúria isolada, especialmente em homens e em pacientes com < 65 anos.
  • Tanto o VPN quanto o VPP de todos os parâmetros foram menores em mulheres idosas, possivelmente por colonização ou contaminação das amostras. 
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Referências bibliográficas

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