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Infectologia22 janeiro 2024

Novo surto de gastroenterite assola o Rio de Janeiro

Diarreia prolongada por mais de três dias, quadro de náusea, vômito e dor de cabeça e estamos novamente em um surto de gastroenterite no estado do Rio de Janeiro nesse verão.
Por Rafael Duarte
A Secretaria Municipal do Rio de Janeiro confirmou que, desde dezembro, estamos diante de uma elevação de casos de diarreia aguda, associada a outros sinais e sintomas, especialmente em bairros como Copacabana e Botafogo. Até o dia 18 de dezembro do último ano, somaram-se 46 aos casos registrados de gastroenterite, sendo que 34 dos casos notificados ocorreram em Copacabana, também há de se há considerar os casos não relatados. Segundo o Secretário de Saúde, Daniel Soranz, os casos não apresentaram relação entre si, com investigação em andamento e possíveis diversos patógenos relacionados, o que pode estrar relacionado à má-conservação de alimentos e ao consumo de água não filtrada adequadamente. Alguns internautas sugerem a ocorrência de diversos casos concomitantes ao processo de manutenção do sistema Guandu, realizada pela Companhia Estadual de Águas e Esgoto (CEDAE), a partir de 05 de dezembro do último ano. Leia também: Diarreia aguda em crianças: principais recomendações para o tratamento Mas, então o que seria esse quadro de gastrenterite e quais as possíveis causas,  características desse surto e o que fazer diante desse cenáro?

A gastroenterite aguda

A gastroenterite aguda consiste em uma síndrome infecciosa, associada a vírus, bactérias ou mesmo parasitas intestinais, em que há ocorrência de, pelo menos, três episódios de diarreia aguda em 24 horas. Isso é, um quadro de diminuição da consistência das fezes (aquosas ou pastosas, possivelmente explosivas) e aumento do número de evacuações. Tal quadro clínico pode ser acompanhado de náusea, vômito, febre moderada a alta, e dor abdominal difusa, geralmente em cólicas ou tenesmo. Têm-se observado que o surto de quadros de gastroenterite, que se alastra no Rio de Janeiro desde dezembro de 2023, se caracteriza por diarreia líquida, geralmente explosiva, com inúmeros quadros de evacuações diários, sem tolerância a qualquer tipo de alimentação constipante. Alguns casos podem evoluir com a presença de muco e/ou sangue nas fezes, sugestivos de disenteria, e progredir com desidratação leve ou moderada, dependendo das medidas terapêuticos assumidas. A doença é autolimitada, usualmente sem necessidade de intervenção com antibioticoterapia, e a duração do quadro clínico pode ser prolongada, podendo ser de até 14 dias sem tratamento sintomatológico. Saiba mais: Desidratação e choque hipovolêmico em adultos Os agentes etiológicos possíveis mais frequentemente associados com quadros de diarreia aguda incluem: Bacillus cereus, Staphylococcus aureus, Campylobacter spp., Escherichia coli (ETEC, EPEC, EIEC, EHEC), Salmonella spp. não tifoide, Shigella spp., Yersinia enterocolítica, Vibrio cholerae, diversas viroses incluindo astrovírus, adenovírus, bocavírus, calicivírus, coronavírus, norovírus, phietavírus, rotavírus e sapovírus, e parasitas como Balantidium coli, Cryptosporidium, Entamoeba histolytica, Giardia lamblia e Cytoisospora belli. A transmissão pode ser horizontal direta (pessoa a pessoa ou animais para pessoas) ou indireta via ingestão de água e alimentos contaminados, ou objetos contaminados. Orienta-se para o tratamento da gastroenterite, após avaliação médica, usualmente com medidas terapêuticas e/ou fármacos incluindo:
  • Soro de reidratação oral;
  • Reduzir consumo de café, sorbitol e leite;
  • Evitar laxantes e similares;
  • Uso de probióticos oral como Saccharomyces boulardii;
  • Uso de agentes constipantes em SOS (ex. loperamida, racecadotrila, colestiramina), mas evitar em caso de sinais de disenteria;
  • Antibióticos ou antiparasitários na suspeita de diarreia infecciosa e sob avaliação, critérios e prescrição médica.

E a resposta das Concessionárias?

Mediante a ausência de publicações específicas referentes ao assunto no site da concessionária, apesar de citações e textos referentes a falhas de energia e sequenciais medidas de manutenção, e conforme referido em noticiário jornalístico, a “Águas do Rio” e o site da CEDAE informaram que “há fornecimento da água com tratamento assumindo os padrões de potabilidade estabelecidos pela Portaria 888 do Ministério da Saúde em toda a área de concessão, incluindo os bairros da Zona Sul, com cumprimento rigoroso do controle de qualidade, incluindo cerca de 12 mil análises mensais em diferentes pontos das redes, e aproximadamente 120 mil análises mensais nas saídas das estações de tratamento de água”. Há indicação de que os resultados dessas análises são disponibilizados mensalmente nas faturas. Adicionalmente, a concessionária relata que possui o suporte de um laboratório próprio credenciado pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente (INEA), o qual está apto à avaliação de 10 parâmetros de qualidade da água, incluindo cor, cloro, condutividade, turbidez, pH, fluoreto, coliformes fecais, odor, e outros. A empresa direciona, que na existência de dúvidas com relação a qualidade da água distribuída, que os usuários entrem em contato via o número 0800 195 0195 ou do site https://cedae.com.br/riomaissaneamento. E cita, ainda, que dispõe de um laboratório móvel diário, que pode atender a clientes pelo número 0800 400 0509.

Conclusões

Segundo as orientações da Secretaria Municipal da Saúde do Rio de Janeiro, frente a indefinição da fonte e etiologia dos quadros emergentes de gastroenterite no estado, a SMS recomenda ações individuais no intuito de prevenir casos da doença, dentre eles:
  • Lavar as mãos regularmente (antes, durante e após a preparação e ingestão dos alimentos); ao manusear objetos sujos; depois de tocar em animais; após utilizar transporte público; depois de ir ao banheiro ou após a troca de fraldas; antes da amamentação e sempre que voltar da rua);
  • Lavar e desinfetar as superfícies, os utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos;
  • Selecionar alimentos frescos com boa aparência e, antes do consumo;
  • Os alimentos frescos devem ser lavados e desinfetados; para desinfecção de frutas, legumes e verduras deve-se imergir os alimentos em uma solução preparada com 10 ml (uma colher de sopa) de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água tratada;
  • Tratar a água para consumo: filtrar, ferver, tratar com solução de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água (aguardar 30 minutos antes de usar);
  • Evitar uso de fontes alternativas de água como os carros pipa e/ou poços artesianos.
É importante assumir medidas preventivas de forma a evitar a propagação dos casos de gastroenterite no estado do Rio de Janeiro e em todo país, até que medidas mais específicas e direcionadas sejam sugeridas.
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Referências bibliográficas

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