Uma boa parte da sessão da tarde do terceiro dia do IDWeek 2023, congresso promovido pela Infectious Diseases Society of America (IDSA), foi dedicada ao roteiro de pesquisa e desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19 lançado pela ONU. Isso porque, embora várias delas tenham sido utilizadas na luta contra a pandemia, com o surgimento das novas variantes a eficácia dessas vacinas foi colocada à prova pela redução da função dos anticorpos neutralizantes.
Novas vacinas contra Covid-19
Esse projeto de pesquisa envolveu 50 especialistas do mundo e identificou os principais desafios, lacunas, objetivos, estratégias e prioridades nas áreas de virologia, imunologia, vacinas, modelos animais e humanos, políticas e finanças. Esse roteiro, ao identificar as questões chave, fornece orientação para campanhas de financiamento e investigação que promovam o desenvolvimento de novas vacinas contra o Sars-CoV-2 que sejam amplamente protetoras.
- Virologia:
- Necessidade de vigilância abrangente e mundialmente coordenada do Sars-Cov-2 para garantir que as vacinas estejam atuando contra as cepas circulantes e reconhecer rapidamente novas ameaças;
- Os dados de sequenciamento viral de vigilância na interface homem/animal precisam ser abertos, acessíveis e padronizados;
- Pesquisas sorológicas em populações humanas que vivem ou trabalham nessa interface humano/animal melhorarão a compreensão de quais coronavírus têm maior probabilidade de infectarem humanos;
- Determinar a gama de vírus que as vacinas devem cobrir: sarbecovirus (SARS-CoV-1, SARS-CoV-2 e pré-emergentes sarbecovirus), betacoronavírus (SARS-CoV-1, SARS-CoV-2, MERS-CoV e outros).
- Imunologia:
- Pesquisa em imunologia humana para catalisarem o desenvolvimento de vacinas amplamente protetoras contra o coronavírus;
- Identificar os fatores que aumentam a amplitude e a durabilidade da proteção imunológica;
- Melhorar a compreensão da imunidade em infecções e vacinações prévias;
- Identificar os correlatos de proteção para acelerar o desenvolvimento de vacinas.
- Vacinas:
- Características das vacinas que devem ser consideradas: proteção ampla, durabilidade da proteção e possibilidade de uso em larga escala;
- Necessidade de avaliar múltiplas novas tecnologias e novos alvos: nanopartículas, proteínas recombinantes, subunidades de proteínas, ácidos nucleicos, partícula envelopada e vacina atenuada;
- Necessidade de investigação de qual a melhor rota de administração (ou mesmo uma combinação delas): intranasal, oral, inalatória, transdérmica, intramuscular;
- Múltiplas tecnologias novas e antigas na produção de vacinas dificultam a comparação através de ensaios clínicos, entendimento da eficácia e análise regulatória.
- Modelos animas e humanos:
- Necessidade de um modelo animal que reflita a gama de respostas imunes e doença clínica;
- Necessidade de estudos de provocação em seres humanos.
- Políticas e finanças:
- Necessidade de incentivo para que se chegue a uma vacina amplamente protetora contra os coronavírus. Porém, os custos são elevados, a manufatura é complexa, existem incertezas sobre a demanda e o retorno financeiro, ainda faltam análises e econômicas dos benefícios de vacinas amplamente protetoras.
Novas tecnologias
Dentre as novas tecnologias mais discutidas, figuraram duas:
- Nanopartículas: foram criadas nanopartículas que agem como anticorpos neutralizantes ao interagir e bloquear três áreas patogênicas do coronavírus, impedindo a ligação do vírus com a célula humana.
- Sarbecovirus: com a mudança da proteína spike em cada variante, tornando a vacina menos efetiva, os pesquisadores retornaram na sequência genômica do ancestral viral e produziram uma vacina que tem se mostrado protetiva contra diversas cepas ao mesmo tempo (ChAd-36 sarbecovirus RBD) em modelos pré-clínicos.
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