Além da alta mortalidade que pode estar associada à infecção por SARS-CoV-2, outro grande problema associado aos casos de covid-19 são possíveis sequelas a longo prazo. Em uma das palestras do Fórum de Sepse 2022, realizada pela Dra. Jaqueline Ota, aspectos do acompanhamento ambulatorial de pacientes pós-covid foram abordados.
Abordagem pós-covid-19
Além de pontos relevantes abordados na literatura, a palestrante compartilhou suas experiências no atendimento de pacientes brasileiros e que estão em seguimento após alta hospitalar. Veja alguns pontos destacados:
- Na avaliação de seguimento ambulatorial de pacientes que tiveram diagnóstico de covid-19 e precisaram de internação hospitalar (tanto em leitos de enfermaria quanto em leitos de CTI), em 90 dias após a internação, 29% dos pacientes apresentavam CVF < 80% do valor previsto, 34% apresentavam capacidade pulmonar total < 80% do previsto e 54% apresentavam capacidade de difusão de monóxido de carbono (DCO) < 80% do previsto.
- Esses dados refletem uma alta prevalência de alterações na capacidade pulmonar funcional de pacientes que se recuperaram de covid-19 mesmo meses após a fase aguda da doença.
- Felizmente, estudos de outras coortes com tempos de seguimentos maiores (3, 6 e 9 meses) sugerem que ocorre recuperação da função pulmonar ao longo do tempo.
- Algumas coortes em que houve seguimento radiológico mostram que alterações em TC de tórax podem estar presentes até seis meses depois do diagnóstico inicial em pacientes com covid-19 grave. A persistência de anormalidades em exames de imagem esteve associada, entre outros fatores, a idade > 50 anos, maior comprometimento de parênquima pulmonar na fase aguda e presença de SRAG na fase aguda.
- Um grande estudo (DOI: 10.1183/23120541.00479-2021) envolvendo pacientes adultos com covid-19 confirmada por RT-PCR e/ou suspeita por apresentar clínica e TC com imagem típica e que ficaram internados por pelo menos 24h procurou avaliar o status desses indivíduos 4 meses após a alta hospitalar.
- Todos os pacientes que haviam sido internados em UTI e todos os que se declararam sintomáticos 4 meses em consulta telefônica realizada 4 meses após alta hospitalar foram convidados a participar de avaliações secundárias. Entre os sintomáticos, o sintoma mais prevalente foi dispneia (16,3%), sendo mais frequente em pacientes mais jovens, que apresentaram doença mais grave e nos que apresentaram TEP. Tosse foi o segundo sintoma mais comum (4,8%).
- Os pacientes também apresentaram lesões fibróticas detectadas em exames de imagem. Contudo, a maioria dos pacientes apresentava comprometimento < 25% e a presença de lesões não estava relacionada à presença de sintomas.
- Também foram identificadas alterações na DCO presentes mesmo após 4 meses. Entretanto, a presença de sintomas, alterações fibróticas e alterações de DCO em associação foi rara.
- Uma ferramenta importante na avaliação da dispneia pós-covid é o teste de exercício cardiopulmonar. Em muitos pacientes, as únicas alterações encontradas são padrões disfuncionais de respiração, sugerindo um componente ansiogênico como possível causa de sintomatologia.
- A palestrante sugere que o teste de exercício cardiopulmonar estaria indicado no contexto pós-covid nas seguintes situações: sintomas persistentes (independente da gravidade inicial), dissociação clínico-funcional e perda de performance em atletas.
- Os padrões que podem ser encontrados com suas possíveis causas seriam os seguintes:
Padrão | Possíveis causas |
Limitação cardiocirculatória | – Redução da utilização de O2: miopatia, descondicionamento
– Oferta de O2 reduzida: anemia, insuficiência cardíaca, disfunção de pré-carga, hipertensão pulmonar |
Limitação ventilatória | Fibrose pulmonar, hiper-reatividade, aprisionamento aéreo |
Limitação de trocas gasosas | Ineficiência ventilatória, hipoxemia induzida pelo exercício |
Disfuncional | Síndrome do estresse pós-traumático |
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