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Infectologia19 novembro 2025

Espondilodiscite infecciosa: evidências clínicas e diagnósticas  

Estudo buscou descrever a epidemiologia, o diagnóstico, os achados microbiológicos, as características clínicas e os desfechos da espondilodiscite infecciosa
Por Camila Rangel

A espondilodiscite infecciosa é uma doença grave e de difícil diagnóstico, caracterizada pela inflamação dos corpos vertebrais e as estruturas ao seu redor. Apesar de sua baixa incidência, a doença pode evoluir com complicações significativas, como formação de abscessos, comprometimento neurológico e risco de instabilidade vertebral. A etiologia pode ser piogênica, tuberculosa ou indeterminada. O diagnóstico baseia-se em critérios clínicos, laboratoriais e radiológicos. A ressonância magnética é o método de imagem de escolha, com alta sensibilidade e especificidade. O objetivo do estudo foi analisar os principais agentes etiológicos, as complicações clínicas e os desfechos terapêuticos em pacientes com espondilodiscite infecciosa, por meio de uma abordagem abrangente que incluiu dados epidemiológicos, métodos diagnósticos, manifestações clínicas e evolução dos casos ao longo de um período de 14 anos. 

Metodologia 

Estudo retrospectivo em um único centro localizado no nordeste da Itália (University Hospitals of Trieste), com dados dos casos coletados entre 1º de janeiro de 2010 e 31 de dezembro de 2023. Foram incluídos 98 pacientes com diagnóstico confirmado de espondilodiscite infecciosa por critérios clínicos, radiológicos e microbiológicos. Foram excluídos os pacientes menores de 18 anos, pacientes com cirurgia prévia na coluna ou com história de trauma recente neste sítio. Os dados analisados incluíram características demográficas, sintomas, exames laboratoriais, métodos de imagem, resultados microbiológicos, complicações e desfechos clínicos. 

Resultados 

Foram incluídos 98 pacientes no estudo, resultando em uma taxa de incidência de 3,04 casos a cada 100.000 habitantes. A distribuição etiológica revelou predominância de espondilodiscite piogênica (54%), seguida por formas tuberculosas (10%) e etiologia indeterminada (36%). Os sintomas mais prevalentes foram dor lombar (79%) e febre (72%), reforçando o padrão clínico clássico da doença. O PET/CT apresentou acurácia de 83% e a cintilografia de 54%. As principais complicações observadas foram: dano radicular (51%), abscessos (45%), endocardite (14%) e necessidade de abordagem cirúrgica (8%), com sequelas neurológicas persistentes em 3%. A mortalidade relacionada ao quadro infeccioso foi de 6%. 

Espondilodiscite infecciosa: evidências clínicas e diagnósticas  

Mensagem prática 

O estudo reforça a importância da abordagem multidisciplinar nos casos de espondilodiscite infecciosa. A positividade limitada das culturas, especialmente após antibióticos empíricos, destaca a necessidade de coleta precoce de amostras e uso de técnicas moleculares. Staphylococcus aureus se mantém como o principal agente etiológico bacteriano em casos de espondilodiscite piogênica. O PET/CT mostrou-se superior a cintilografia, sendo útil na complementação da ressonância magnética em casos inconclusivos. A localização da infecção mostrou-se como prognóstico relevante: acometimentos lombares tendem a evoluir melhor, enquanto infecções nas regiões cervicais e torácica possuem risco aumentado de complicações (OR 4,76 e OR 3,89, respectivamente). A decisão por cirurgia deve considerar instabilidade, compressão medular, fraturas e drenagem de abscessos. Por fim, o manejo empírico permanece necessário em até um terço dos casos, exigindo protocolos institucionais bem definidos e acompanhamento rigoroso.

Autoria

Foto de Camila Rangel

Camila Rangel

Médica graduada pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 2018. Infectologista pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais de 2019 a 2022. Mestra pela Faculdade de Medicina da UFMG em 2025. Infectologista do Controle de Infecção Hospitalar do HC-UFMG e Auditora Médica da Unimed Federação Minas.

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Referências bibliográficas

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