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Infectologia6 agosto 2025

Endocardite infecciosa: Escore de risco em infecções por enterococo 

Estudo buscou desenvolver um escore de risco para endocardite infecciosa que possa ser aplicado em pacientes com bacteremia por E. faecalis

Enterococcus faecalis é uma causa importante de endocardite infecciosa, sendo considerado um agente típico da doença. Consensos internacionais recomendam realização de ecocardiograma em todos os pacientes com bacteremia por E. faecalis. 

Entretanto, a realização de ECO pode não ser logisticamente tão fácil em todos os contextos. Por esse motivo, vários grupos têm procurado desenvolver escores de risco que permitam estratificar os pacientes com bacteremia por E. faecalis e indicar os que mais se beneficiariam desse exame. 

Um estudo publicado na Open Forum Infectious Diseases avaliou um escore baseado somente em critérios clínicos e laboratoriais para estratificar o risco de endocardite por E. faecalis. 

Materiais e métodos 

Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo com uso de dados derivados de um registro eletrônico com informações de pacientes atendidos em 43 hospitais públicos em Hong Kong. 

Foram incluídos pacientes adultos internados entre 2009 e 2019 com pelo menos 1 hemocultura positiva para E. faecalis, tanto em isolamentos monomicrobianos quanto nos polimicrobianos. O desfecho primário foi endocardite infecciosa (EI) por E. faecalis durante a internação em que houve a hemocultura positiva ou em até 90 dias após a alta. Desfechos secundários incluíram relapso ou bacteremia persistente, definida como detecção de EI ≥ 14 dias após o episódio inicial. 

Um algoritmo de machine learning desenhado especificamente para gerar escores de risco para aplicações clínicas foi utilizado para ranquear e aplicar as variáveis integrantes do escore. 

Resultados 

No período do estudo, foram identificadas 2.647 amostras de hemocultura positivas para E. faecalis, das quais 2.535 foram incluídas no estudo. A média de idade foi de 72,5 anos e 63,8% eram homens. A proporção de casos de EI foi de 3,39%. De todos os pacientes com bacteremia por E. faecalis, 3,83% realizaram ECO. 

A análise univariada mostrou os seguintes fatores preditores de EI como significativos: bacteremia de origem comunitária, presença de dispositivo cardíaco, história de doença cardíaca valvar, cardiopatia congênita, troca de valva cardíaca por valva protética, história de EI, ausência de história de neoplasia, hemoglobina anormal, bilirrubina total anormal, leucograma anormal e alterações de TGP. 

Dez variáveis foram selecionadas para compor o escore MEFIER, em ordem decrescente de importância: história de doença valvar (28 pontos), hemoglobina anormal (16 pontos), cardiopatia congênita (14 pontos), presença de dispositivos cardíacos eletrônicos (12 pontos), origem comunitária (11 pontos), idade (≥ 43 e < 65 anos: 6 pontos; ≥ 18 e < 43 anos: 3 pontos), albumina normal (3 pontos), sexo masculino (2 pontos) e contagem anormal de plaquetas (1 ponto). 

O escore é composto com a soma dos pontos individuais de cada parâmetro. Com um corte de 32 pontos indicando alto risco, o MEFIER teve uma área sob a curva ROC de 0,79 (IC 95% = 0,72 – 0,88), com uma sensibilidade de 0,71 (IC 95% = 0,52 – 0,90), especificidade de 0,74 (IC 95% = 0,70 – 0,78), valor preditivo positivo de 0,11 (IC 95% = 0,08 – 0,14) e valor preditivo negativo de 0,98 (IC 95% 0,97 – 0,99). 

A prevalência de EI foi significativamente maior no grupo de alto risco em comparação ao de baixo risco na amostra do estudo, na amostra de treinamento e na amostra de teste. A prevalência geral de relapsos ou bacteremia persistente foi de 5,76% com uma incidência maior no grupo de alto risco comparado com o de baixo risco (6,91% vs. 4,79%; p = 0,04). 

Endocardite infecciosa: Escore de risco em infecções por enterococo 

Enterococcus faecalis sob microscópio eletronico. Imagem de CDC/ Pete Wardell

Mensagens práticas: escore de risco em infecções por Enterococcus faecalis

  • O escore MEFIER apresentou um bom valor preditivo negativo para predizer EI em pacientes adultos com bacteremia por E. faecalis, mas um valor preditivo positivo subótimo. 
  • Uma das vantagens desse escore é o fato de ser baseado em critérios objetivos e de fácil obtenção. 
  • Uma limitação do estudo foi a baixa taxa de realização de ECO na coorte avaliada, o que pode comprometer a análise dos resultados, uma vez que casos de endocardite infecciosa podem não ter sido detectados. 

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Referências bibliográficas

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