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Clínica Médica22 janeiro 2025

Enterococo resistente à vancomicina (VRE): uma abordagem para o clínico

O enterococo é um coco gram positivo comensal do trato gastrointestinal e urinário e pode ser resistente a vancomicina
Por Leandro Lima

As infecções por germes multirresistentes têm desafiado, cada vez mais, os médicos dedicados ao exercício da Medicina Interna ou Terapia Intensiva.  

Nesse escopo, um patógeno de destaque é o enterococo, um coco gram positivo comensal do trato gastrointestinal e urinário.  

As duas espécies mais proeminentes, no que concerne às infecções em humanos, são o Enterococcus faecalis e E. faecium, costumeiramente implicados em infecção do trato urinário, bacteremia, endocardite infecciosa, infecção intra-abdominal e do sistema nervoso central. As suas principais diferenças podem ser assim sintetizadas: 

 

Espécies 

E. faecalis E. faecium 

Virulência  

 

Maior 

 

Menor 

Risco de endocardite infecciosa 

Susceptibilidade à ampicilina 

 

enterococo

Enterococo sensível à ampicilina 

A ampicilina, uma aminopenicilina, é a primeira escolha para o tratamento das infecções por Enterococo multissensível, seguida pela penicilina G cristalina. Nenhuma das duas deve ser substituída, sem uma justificativa plausível, pela vancomicina, que é reconhecidamente menos bactericida do que os beta-lactâmicos. 

Uma condição que vale a pena ser destacada é referente ao escalonamento de antibioticoterapia.  

Para quem lida com a Medicina Interna, uma mudança corriqueira é a substituição de piperacilina-tazobactam por meropenem diante de quadros infecciosos estagnados ou em progressão. Apesar da conduta ampliar o espectro para os gram negativos produtores de beta-lactamase de espectro ampliado (ESBL), perde-se, em muito, a potência direcionada ao enterococo. O imipenem, contudo, é um carbapenêmico que conserva uma melhor ação geral contra os germes gram positivos, entre os quais o enterococo.      

Enterococo resistente à ampicilina 

A resistência à ampicilina foi descrita primeiramente em 1970 e é medida por modificações da proteína ligadora de penicilina (PBP). 

A opção mais pertinente nesse cenário é a vancomicina. Todavia, pode-se lançar mão da teicoplanina, daptomicina ou linezolida, principalmente quando há maior vulnerabilidade à nefrotoxicidade.  

Enterococo resistente à vancomicina (VRE) 

A emergência da resistência à vancomicina (VRE) foi identificada pela primeira vez na Inglaterra e França na década de 1980, estando associada a internações mais prolongadas, aumento dos custos hospitalares e das taxas de mortalidade. 

O mecanismo é de mediação plasmidial, tendo como carreadores os gene van, especialmente vanA e vanB 

Os redutos terapêuticos incluem a daptomicina, que não se presta ao tratamento de infecções pulmonares por ser inativada pelo surfactante; e linezolida, que apresenta como efeitos colaterais mais proeminentes as citopenias e risco de síndrome serotoninérgica.  

A teicoplanina, à semelhança da vancomicina, também é um glicopeptídeo. Dessa forma, não é a melhor opção para o tratamento do VRE, embora mantenha a atividade no genótipo vanB e possa ser utilizada na indisponibilidade ou intolerância às duas primeiras opções. 

 

VRE e os seus fatores de risco 

Colonização: 

  • Exposição à antibioticoterapia;  
  • Internações frequentes e/ou prolongadas, sobretudo as admissões cirúrgicas e as estadias em terapia intensiva; 
  • Imunossupressão; 
  • Presença de dispositivos invasivos.  

Infecções invasivas: 

  • Receptores de transplante de medula óssea; 
  • Neutropênicos; 
  • Desnutridos graves com hipoalbuminemia. 

 

A síntese do tratamento 

O tratamento escalonado das infecções enterocócicas, baseado no perfil de sensibilidade, pode ser assim sintetizado:  

 

Tratamento das infecções por enterococos 

Enterococo multissensível 

Categorias 

Primeiras escolhas 

Infecções habituais 

  1. Ampicilina 1-2 g 4/4h ou 6/6h. 
  1. Penicilina G cristalina 18-30 milhões UI/dia. 

Bacteremia ou endocardite infecciosa 

  1. Ampicilina 2g 4/4h + Ceftriaxona 2g 12/12h. 
  1. Ampicilina 2g 4/4h + Gentamicina 1 mg/kg 8/8h. 

Meningite 

Ampicilina 2-3 g 4/4h + Ceftriaxona 2g 12/12h + Gentamicina 5 mg/kg/dia.  

Enterococo resistente à ampicilina 

  1. Vancomicina 15 mg/kg/dose 12/12h. 
  1. Daptomicina 8-12 mg/kg 24/24h. 
  1. Linezolida 600 mg 12/12h. 
  1. Teicoplanina 6-12 mg/kg 12/12h (3 doses) → 6 mg/kg 24/24h.  

Enterococo resistente à vancomicina 

  1. Daptomicina 8-12 mg/kg 24/24h.  
  1. Linezolida 600 mg 12/12h. 
  1. Teicoplanina 6-12 mg/kg 12/12h (3 doses) → 6 mg/kg 24/24h (* Ressalta-se a ineficácia no tratamento do genótipo vanA).  

Por fim, é sempre pertinente a monitorização dos níveis séricos das drogas, saneamento de focos infecciosos mantidos e a remoção de dispositivos invasivos infectados, como acessos venosos centrais, cateteres urinários ou próteses articulares.  

Conclusão e Mensagens práticas 

  • As infecções por germes multirresistentes constituem-se em problema de saúde pública mundial.  
  • Em relação aos germes gram positivos, um grande destaque é o enterococo, sendo duas as principais espécies: E. faecalis, mais virulento; e o E. faecium, menos susceptível à ampicilina.  
  • A seleção de antibioticoterapia, de uma forma simplificada, pode ser assim realizada: enterococo multissensível, ampicilina; enterococo resistente à ampicilina, vancomicina; enterococo resistente à vancomicina, linezolida ou daptomicina.  

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Referências bibliográficas

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