Iniciou-se, hoje, o European Congress of Clinical Microbiology & Infectious Diseases (ECCMID 2021), um dos principais congressos de infectologia da Europa. Um dos primeiros painéis abordou infecções urinárias e genitais, trazendo alguns aspectos interessantes.
A primeira apresentação do painel discutiu estratégias de diagnóstico de ISTs em homens que fazem sexo com homens (HSH). Infecções por clamídia e gonococo estão entre as mais frequentes ISTs, podendo ser diagnosticadas por meio de testes moleculares em amostras de urina.
Entretanto, rastreio em amostras de outros locais além do trato genitourinário podem ter um impacto positivo na identificação precoce de indivíduos com infecção assintomática. Diagnóstico e tratamento precoces são importantes para interromper a cadeia de transmissão e prevenir novas infecções.
Um estudo de coorte prospectivo conduzido com HSHs em Israel avaliou a capacidade diagnóstica de uma estratégia de testagem de infecções por clamídia e gonococo em amostras de swabs faríngeos, retais e de amostras de urina auto-coletados. Estudos prévios mostraram que a performance diagnóstica com auto-coleta foi semelhante à de amostras coletadas por profissionais de saúde.
O estudo
Os critérios de inclusão foram ter tido uma relação sexual anal desprotegida nos 90 dias anteriores à inclusão do estudo, ter 18 anos ou mais, não ter feito rastreio e nem tratamento para qualquer IST nos 90 dias anteriores à entrada no estudo e estar sem sintomas de IST.
Foram incluídos 210 participantes, dos quais 59 possuíam HIV (28%), 70 eram HIV negativos e estavam em uso de PrEP (34%) e 81 eram HIV negativos e não faziam uso de PrEP (38%). Os indivíduos com HIV tendiam a ser mais velhos e os usuários de PrEP eram mais frequentemente usuários de drogas, maior prevalência de ISTs recentes e tinham maior número de parceiros sexuais do que os outros grupos.
Aproximadamente 30% dos participantes da coorte foram diagnosticados com infecção assintomática por gonococo ou clamídia. A maioria das infecções era anorretal (62%), com somente 2,5% com infecção uretral identificada em amostra de urina. De todas as infecções, 98% não teriam sido diagnosticadas se somente amostras urinárias tivessem sido analisadas.
Os grupos com maior proporção de infecções foram, respectivamente, os HIV negativos em uso de PrEP (47%), os HIV negativos sem PrEP (22%) e os HIV positivos (20%). Na análise multivariada ajustada por idade, números de parceiros sexuais, uso de drogas recreacionais e uso de PrEP foram os fatores de risco independentes mais fortemente associados à presença de infecção. Sífilis nos últimos seis meses foi um preditor independente de aumento de risco de ISTs enquanto prática de sexo anal penetrativo foi associado a um menor risco de ISTs.
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Mensagens práticas
- A testagem tripla aumentou muito o diagnóstico de infecções assintomáticas por clamídia e gonococo.
- 98% das infecções não teriam sido detectadas se somente amostras do trato genitourinário tivessem sido realizadas.
- Usuários de PrEP tiveram a maior frequência de infecções, o que é consistente com maior número de relações sexuais desprotegidas.
- Estratégias de rastreio de ISTs assintomáticas em populações HSH devem incluir pesquisa em amostras extra-genitais.
Estamos cobrindo o ECCMID 2021, não deixe de acompanhar com a gente!
Mais do congresso:
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