Embora muito utilizada, a administração de antibióticos por via intravenosa está associada a eventos adversos, como extravasamento de infusões e flebite. Ao mesmo tempo, nem sempre as vias oral e intramuscular são adequadas ou desejáveis.
A via subcutânea mostra-se como uma alternativa útil em alguns contextos, como pacientes idosos, pacientes em cuidados paliativos, usuários de drogas com difícil acesso venoso e pacientes obesos. Além disso, apresenta vantagens como menor impacto na mobilidade dos pacientes e pode ser mais bem tolerada em pacientes com delirium ou agitação.
O tema foi discutido durante o European Congress of Clinical Microbiology & Infectious Diseases (ECCMID 2021).
Antibióticos por via subcutânea
Há poucos estudos na literatura sobre o uso de antibióticos pela via subcutânea, a maioria na França, país em que essa prática é mais difundida. Algumas características de farmacocinética e farmacodinâmica precisam ser consideradas.
A administração de antibióticos pela via subcutânea resulta em uma concentração sérica máxima menor do que a alcançada com a via IV e o tempo necessário para atingi-la é maior. Por esses motivos, não é considerada uma via adequada para tratamento de infecções graves e antibióticos concentração-dependentes não devem ser utilizados.
Por outro lado, a área abaixo da curva tempo vs. concentração é semelhante à da via IV, o que faz com que antibióticos tempo-dependentes possam ser uma opção.
Ceftriaxone, ertapenem e teicoplanina são alguns dos antibióticos mais utilizados pela via subcutânea e também os mais estudados na literatura. Uma revisão de literatura sobre o tema apresentada no ECCMID 2021 levantou os seguintes dados.
- Ceftriaxone: foram encontrados dez estudos, cujas populações consistiam em voluntários saudáveis, pacientes em cuidados paliativos e pacientes geriátricos. A biodisponibilidade pela via SC foi de praticamente 100% e as características de farmacocinética foram semelhantes às da via IV. O evento adverso mais frequente foi dor no local da infusão, que foi transitória e que pode ser aliviada com uso de lidocaína. Foram descritos 2 casos de necrose subcutânea, associados à infusão rápida.
- Ertapenem: foram encontrados oito estudos, envolvendo pacientes com ITU por ESBL ou infecções ósseas e pacientes geriátricos. A biodisponibilidade pela via SC também foi praticamente de 100% e as características de farmacocinética foram consideradas não inferiores às da via IV. De forma semelhante, a probabilidade de alcance dos alvos de Pk/Pd foi semelhante entre as vias SC e IV. Em relação aos eventos adversos, a frequência de dor na infusão foi de 20%, com característica transitória. Somente 1 caso de necrose subcutânea foi relatado.
- Teicoplanina: foram encontrados sete estudos na literatura, cujas populações envolveram pacientes com infecções osteoarticulares, pacientes críticos internados em UTI e pacientes geriátricos. Diferente de outros antibióticos, o uso de teicoplanina pela via SC deve ser somente como manutenção, após uma dose de ataque IV para que níveis séricos adequados sejam alcançados. Concentrações maiores estão associadas a maior frequência de eventos adversos, principalmente dor local e eritema.
- Aminoglicosídeos: foram encontrados dez estudos, conduzidos em voluntários saudáveis e pacientes geriátricos. O uso por via SC esteve associado à necrose subcutânea. Pelas características de farmacocinética, seu uso não é recomendado.
Importante notar que a ocorrência de eventos adversos pode estar subestimada e que esteve associada ao uso de cateteres rígidos, infusões rápidas em menos de 5 minutos e o uso de teicoplanina.
Mensagens práticas
- A via SC pode ser uma alternativa para antibioticoterapia em algumas populações, como pacientes geriátricos, em cuidados paliativos, obesos ou usuários de drogas intravenosas.
- Antibióticos tempo-dependentes podem ser utilizados, com maior experiência com o uso de ceftriaxone, ertapenem e teicoplanina. Antibióticos concentração-dependentes, como aminoglicosídeos, não podem ser administrados por essa via.
- A administração deve ser realizada por meio de cateteres não-rígidos, por meio de infusão lenta (> 30 minutos) e com a mesma diluição do que na administração por via IV.
Estamos cobrindo o ECCMID 2021, não deixe de acompanhar com a gente!
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