Infecções do trato genitourinário (ITU) são algumas das mais frequentes na prática clínica, e ganharam destaque no primeiro dia do European Congress of Clinical Microbiology & Infectious Diseases (ECCMID 2021).
Veja a seguir alguns dos estudos apresentados, abordando infecções urinárias em mulheres e em transplantados renais.
Padrões de tratamento para ITU não complicada em mulheres
Infecções do trato urinário são mais prevalentes em mulheres do que em homens. A prescrição de quinolonas para esse tipo de infecção é comum, mas a preocupação com resistência e com os eventos adversos associados a essa classe de antimicrobianos levou a uma tentativa na redução em seu uso amplo.
Nesse sentido, em 2016 o FDA lançou uma nota sobre eventos adversos graves associados à prescrição de fluoroquinolonas, incluindo tendinite, ruptura de tendão e dissecção aórtica. O estudo apresentado reviu dados secundários para avaliar os padrões de prescrição de antibióticos em períodos antes e depois da nota da FDA.
A prescrição foi considerada como apropriada e ótima se estivesse de acordo com os guidelines de tratamento do IDSA em relação à escolha de classe de antibióticos de primeira linha e duração de tratamento. Pelos guidelines, as opções de primeira linha para ITU limitada são fosfomicina por um dia, sulfametoxazol-trimetoprim por três dias ou nitrofurantoína por cinco dias.
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Se a prescrição não estivesse de acordo com as orientações de guidelines, foi considerada como inadequada e, se houve falha terapêutica nos 28 dias após o diagnóstico inicial, foi considerada como subótima.
Um total de 557.669 ITUs não complicadas foram identificadas. Tanto antes quanto depois da nota da FDA, a média de idade e do índice de comorbidades foi ligeiramente maior nos que receberam prescrições inadequadas ou subótimas. Da mesma forma, em ambas as coortes, houve mais prescrições inadequadas ou subótimas do que apropriadas e ótimas.
Prescrições apropriadas e ótimas aumentaram em 5% após a nota sobre as fluoroquinolonas. De forma geral, antes da nota, mais pacientes tinham inadequação em relação à classe de antimicrobianos prescritos, com grande proporção de fluoroquinolonas. Na segunda coorte, mais pacientes tinha inadequação em relação à duração de tratamento. Entretanto, apesar da diminuição na prescrição das fluoroquinolonas, ainda houve uma grande proporção de prescrição inapropriada de betalactâmicos, considerada inadequada nos EUA.
A ampliação do conhecimento sobre possíveis eventos adversos das fluoroquinolonas parece ter tido impacto na prescrição dessa classe de antimicrobianos, resultando satisfatoriamente em sua redução. Contudo, cursos mais longos de tratamento ainda são frequentes.
Ertapenem para tratamento de ITU por ESBL em pacientes transplantados renais
Ertapenem é considerada uma opção terapêutica para ITU causada por enterobactérias produtoras de ESBL. Entretanto, há preocupação em relação a sua adequabilidade em infecções graves e há poucos dados sobre sua eficácia em pacientes imunossuprimidos. Receptores de transplante de rim estão sob maior risco de desenvolvimento de ITU, incluindo por organismos produtores de ESBL.
Um estudo multicêntrico, internacional e retrospectivo de uma coorte suíça procurou avaliar o uso de ertapenem em comparação com meropenem em pacientes transplantados renais com bacteremia por enterobactéria produtora de ESBL, mas sem doença grave.
O desfecho primário foi cura clínica no D14 e desfechos secundários incluíram mortalidade por todas as causas, hospitalização por mais de 10 dias e recorrência da infecção em até 30 dias.
Na análise ajustada, não houve diferença na proporção de cura clínica em 14 dias entre os pacientes que receberam ertapenem em relação aos que receberam meropenem. Dessa forma, ertapenem parece ser uma opção eficaz para o tratamento de ITU não grave, mesmo na presença de bacteremia, em pacientes transplantados renais.
Estamos cobrindo o ECCMID 2021, não deixe de acompanhar com a gente!
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