Doença de Chagas: Tendências de mortalidade na Bahia
A Doença de Chagas é considerada uma doença tropical negligenciada, estima-se que pelo menos 5 milhões de pessoas estejam infectadas com T. cruzi na América Latina e que aproximadamente 30 a 40% desenvolveram ou irão desenvolver complicações, como cardiopatia ou alterações no trato digestivo.
No Brasil, a taxa de mortalidade é elevada, contribuindo com 74,9% dos óbitos por doenças tropicais negligenciadas entre os anos de 2000 e 2019. A ausência de sintomas contribui para esses números. Cerca de 7 em cada 10 indivíduos infectados recebem o diagnóstico e apenas 1% recebe tratamento.
Considerando o impacto que a doença de Chagas pode ter para a saúde pública, um estudo brasileiro procurou avaliar as tendências temporais e diferenças regionais nas taxas de mortalidade por doença de Chagas no estado da Bahia, entre os anos de 2008 e 2018.
Materiais e métodos
Trata-se de uma série temporal das taxas de mortalidade por doença de Chagas na Bahia (BA) entre os anos de 2008 e 2018. A população do estudo consistiu em indivíduos com óbito por doença de Chagas (seja como causa primária ou condição associada) que foram registrados no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) no período avaliado.
Para a análise, foram consideradas as seguintes variáveis independentes: anos, idade, sexo, regiões de saúde e município de residência. A taxa de mortalidade foi calculada como o número de óbitos registrados no SIM por ano em indivíduos residindo nas cidades da Bahia dividido pela população sob risco no mesmo lugar e ano por 100.000 habitantes. A taxa de mortalidade por causa foi calculada como óbitos por doença de Chagas registrados no SIM por lugar de residência, de acordo com o ano da ocorrência do óbito, dividido pela população no mesmo lugar e tempo por 100.000.
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Resultados
Durante o período de estudo, a taxa de mortalidade por doença de Chagas, ajustada por idade, variou de 4,3 a 5,1 óbitos/100.000 habitantes. A taxa de mortalidade nacional pela doença, no mesmo período, foi menor, variando de 2,7 a 2,1 óbitos/100.000 habitantes.
A análise espacial mostrou que os maiores coeficientes de mortalidade ocorreram nas áreas do leste do estado em comparação com as do extremo sul. Os locais com maiores coeficientes foram as regiões de saúde de Barreiras, Jacobina, Irecê, Seabra, Itaberaba, Feira de Santana, Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus e Guanambi.
Em relação aos óbitos, 46,0% foram atribuídos a doenças cardiovasculares, 12,5% a doenças respiratórias, 10,8% a neoplasias, 10,0% a doenças digestivas e 20,7% a outras causas. Quando se analisou a distribuição de mortes de acordo com as formas clínicas ou complicações da doença de Chagas, entre os casos em que a doença foi considerada como causa primária do óbito, 79,7% dos pacientes tinham forma crônica e comprometimento cardíaco, enquanto 12,0% tinham comprometimento do trato digestivo. Destaca-se que 376 mortes (5,4%) foram por formas agudas da doença.
A análise temporal mostrou uma tendência estacionária na taxa de mortalidade no estado quando se considerou o ano de 2008 e o de 2018. Na análise por idade, houve uma tendência a aumento progressivo na taxa de mortalidade com o aumento da idade. Todos os grupos etários — exceto o de 60-69 anos — apresentaram um aumento estatisticamente significativo na taxa de mortalidade por doença de Chagas.
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Homens apresentaram maior taxa de mortalidade em comparação com mulheres (6,7 óbitos/100.000 habitantes vs. 4,0 óbitos/100.000 habitantes) no ano de 2008. Contudo, a tendência temporal foi de redução no coeficiente entre os homens e de aumento entre as mulheres, com diferença considerada estatisticamente significativa somente nas mulheres. Quatro (Extremo Sul, Nordeste, Oeste e Sudeste) das nove macrorregiões de saúde mostraram uma tendência de aumento na taxa de mortalidade por doença de Chagas no período do estudo.
Mensagens práticas: Doença de Chagas
- A taxa de mortalidade por doença de Chagas como causa primária, ajustada por idade, no estado da Bahia foi maior do que a taxa nacional, com tendência de aumento nos últimos 3 anos do estudo.
- Houve uma tendência de aumento progressivo na taxa de mortalidade pela doença com o aumento da idade. As taxas de mortalidade foram maiores entre homens em comparação com mulheres.
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