A tuberculose é uma das mais importantes doenças infecciosas no mundo, especialmente em pessoas vivendo com HIV (PVHIV), população em que continua sendo uma das principais causas de morte.
Diante disso, o CROI 2025 dedicou uma plenária para discussão de temas atuais relacionados à tuberculose (TB), com a apresentação de duas palestras.
Medicamentos de longa ação para tuberculose
Barreiras no diagnóstico e no tratamento atuam para dificultar o controle de TB e novas medidas e estratégias vêm sendo estudadas e implementadas em diferentes contextos. Dada
Uma dessas estratégias é o tratamento preventivo de tuberculose (TPT), feito como forma de prevenir o desenvolvimento de TB ativa. Entretanto, TPT ainda precisa ser otimizado, principalmente em relação a adesão, tempo de tratamento e opções para contatos de TB resistente ou contatos que não podem utilizar rifamicinas. Em relação a quadros de TB ativa, a adesão também configura um grande desafio, diminuindo com o tempo, ou mesmo substituindo todo o tratamento oral, se 3 ou mais drogas estiverem disponíveis.
Nesse contexto, medicamentos de longa ação tornam-se muito atraentes, podendo ser aplicadas tanto como parte do tratamento de TB ativa quanto como opção de TPT. Para TPT, poderiam permitir administração de uma única dose, enquanto para o tratamento de doença ativa, poderiam substituir as fases de manutenção, diminuindo o tempo total de tratamento.
Bedaquilina é, das drogas já autorizadas para o tratamento de TB, a que apresenta características mais favoráveis para a produção de formulações de longa ação, como baixa solubilidade em água, clearance baixo e alta potência. Outras drogas que possuem características esperadas para uma formulação de longa ação são rifabutina, rifapentina e delamanida. Novos fármacos, que ainda estão em estudo, também apresentam características favoráveis para serem usados como medicamentos de longa duração, como TBAJ-876, quabodepistat, ganfeborole e telacebec.
Estudos iniciais com formulações de longa ação de bedaquilina, rifabutina e TBAJ-876 estão sendo conduzidos para avaliar a eficácia dessas moléculas para TPT.
Doença pulmonar pós-TB
Outro problema discutido na plenária foi a condição denominada doença pulmonar pós-TB. Alguns dos principais pontos apresentados são:
- A doença pulmonar pós-TB é definida como evidência de anormalidade pulmonar crônica, com ou sem sintomas, atribuível, ao menos parcialmente, a um episódio prévio de tuberculose.
- Apesar de ser uma condição recentemente descrita, estimativas indicam sua alta prevalência na população. Uma revisão sistemática envolvendo 41014 pacientes com tratamento bem-sucedido de TB mostrou uma prevalência de alterações em espirometria de 59,1% e de dispneia classificada como 3 – 5 na escala MRC de 24,7%.
- Estima-se que 10 – 15% dos sobreviventes de TB, mesmo com tratamento bem-sucedido, apresentam disfunção pulmonar, com taxas maiores entre os que tiveram TB resistente.
- A mortalidade é quase 3x maior em sobreviventes de TB do que nos que não tiveram a doença, incluindo por causas como câncer de pulmão. A incidência de eventos cardiovasculares também é maior nessa população em comparação com indivíduos que nunca tiveram TB.
- Além de sinais e sintomas relacionados à disfunção respiratória, sobreviventes de TB apresentam desordens de saúde mental que não devem ser negligenciados, podendo inclusive ser mais frequentes do que os primeiros.
- Estudos mostraram que, normalmente, há melhora de parâmetros respiratórios avaliados por espirometria ao final e após tratamento, com pico aos 9 meses após a terapia. Contudo, alguns indivíduos apresentam declínio rápido da função respiratória, com uma mediana de redução na relação VEF/CVF de 60ml/ano.
- Não ter infecção pelo HIV, ter baixo IMC e presença de lesão pulmonar extensa foram fatores preditores associados a esse perfil de declínio rápido de função pulmonar.
- A doença pulmonar pós-TB apresenta grande heterogeneidade clínica, podendo incluir variações entre áreas pulmonares diferentes em um mesmo indivíduo. Sabe-se que, além de alterações estruturais maiores, como a presença de bronquiectasias, episódios de TB também podem levar a doença de pequenas vias aéreas, resultando em aprisionamento aéreo e sintomas como dispneia e dor torácica.
- Uma particularidade é que as alterações radiológicas de doença pulmonar pós-TB são indistinguíveis das causadas por doenças fúngicas crônicas, como aspergilose. Além disso, ocorre sobreposição de sintomatologia entre as duas condições.
- Há maior prevalência dessa condição em indivíduos que são HIV negativos (66,9% vs. 32,8% em PVHIV). A doença pulmonar pós-TB também parece ser mais frequente em adultos, em indivíduos que moram na área rural e ser mais prevalente em regiões do Oeste do Pacífico e Sudeste asiático (57%), nas Américas (51%) e na África (38%).
- Ainda não se sabe a influência de outras condições associadas a piores desfechos de TB sobre o desenvolvimento de doença pulmonar pós-TB, como diabetes, tabagismo, desnutrição e consumo de álcool.
- Ainda não há tratamento estabelecido para os sintomas de doença pulmonar pós-TB estabelecida e nem para prevenir seu desenvolvimento durante um episódio de TB. Todavia, alguns estudos com doxiciclina e ácido acetil-cisteínico mostraram benefício na redução de alterações de parênquima pulmonar ao final de um quadro de TB. Mais estudos são necessários para determinar se esses agentes podem ser utilizados como tratamento adjuvante contra TB.
Confira aqui as principais discussões do CROI 2025!
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