O aleitamento materno traz inúmeros benefícios para o binômio mãe-bebê. A criança obtém através do leite materno a proporção ideal de proteína, açúcar e gordura, menor risco alergênico em relação aos outros leites, anticorpos, substâncias que auxiliam na imunidade e no futuro menor risco de doenças crônicas como diabetes. Para a mãe, o ato de amamentar gera bem estar emocional, auxilia na adequação do peso, contração uterina e redução do risco de câncer de mama.
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Amamentação e Covid-19
Em meio à pandemia, dúvidas surgiram em relação ao risco da amamentação em nutrizes com suspeita ou confirmação da Covid-19, estudos foram realizados, grande maioria apresentando totalidade das amostras de leite negativas para Sars-Cov-2. O Uptodate cita raros casos de positividade no leite mas sem avaliação se as partículas encontradas eram viáveis, portanto sem confirmação de risco de transmissão. Até o momento, a Organização Mundial da Saúde, assim como a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia orientam manutenção do aleitamento desde que a mãe tenha desejo de amamentar, condição clínica para tal e siga as recomendações dos cuidados abaixo:
- Uso de máscara cobrindo nariz e boca, trocar se tosse, espirro ou a cada mamada;
- Higienizar mãos e mamas com água e sabonete. Limpar superfícies compartilhadas;
- No quarto, manter distância de pelo menos 1 metro entre cama da mãe e berço do bebê;
- Caso binômio separado e optado por fornecer o leite materno, a mãe deve retirá-lo com bomba higienizada, utilizando máscara e o leite deve ser fornecido à criança por pessoa saudável — a qual deve também seguir precauções, pois além da mãe a criança pode estar infectada;
- Esses cuidados devem ser mantidos por até 10 dias dos inícios dos sintomas maternos (ou 20 dias a depender da severidade da doença — alguns serviços consideram 20 dias sempre).
Artigo publicado na revista Residência Pediátrica visou avaliar a segurança durante a lactação do uso das medicações que estão sendo testadas para o tratamento da Covid-19, sem descrever no estudo qual eficácia das drogas para esta patologia. Começando pela cloroquina, droga que possui baixa passagem no leite e estudos prévios com dosagem diferente da atual não demonstraram efeitos adversos nos lactentes. A hidroxicloroquina, muito utilizada em doenças autoimunes já foi estudada em mulheres com uso da medicação por mais de 1 ano em vigência de aleitamento e não mostrou toxicidade ocular ou anomalias no desenvolvimento das crianças.
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A azitromicina pode levar a alguns efeitos gastrointestinais como diarreia e candidíase, mas é considerada segura durante amamentação. A ivermectina não possui muitos estudos sobre seu uso durante amamentação, mas também é pouco excretada no leite sendo considerada provavelmente segura por nutrizes. O antiviral favipiravir não tem informação suficiente para avaliar sua segurança, mas sabe-se que pode levar a aumento de enzimas hepáticas e de ácido úrico, então quando utilizado devemos dosar esses exames nos lactentes. O oseltamivir, utilizado para tratamento de Influenza A e B, é considerado seguro e seu uso é aprovado pelo CDC. Lopinavir não apresentou nos estudos efeitos adversos nas crianças após uso materno, assim como o remdesevir, mas para esta última os estudos são escassos. A ribavirina, que é utilizada por lactentes infectados por vírus sincicial respiratório possui seu uso compatível com a amamentação desde que utilizada por curto período.
Não se tem muitos dados publicados em relação ao uso da dexametasona na amamentação, sabe-se que pode levar a redução da prolactina e consequentemente diminuição da síntese de leite, mas seu uso por curto período não demonstra nos lactentes efeitos adversos. E a metilprednisolona, já bem estudada, possui baixa concentração no leite materno e sem evidência de riscos às crianças. Idealmente, se possível aguardar 2-4 horas após tomada da medicação antes de amamentar. Por fim, o tocolizumabe (anticorpo monoclonal) e os interferon-alfa e beta (citocinas antivirais e com ação imunomoduladora) são considerados seguros.
Mensagem prática
O aleitamento materno deve ser incentivado, desde que o binômio esteja em bom estado geral, a mãe tenha desejo de amamentar e siga corretamente as recomendações descritas.
Referências bibliográficas:
- Chaves RG, Lamounier JA, Santiago LB. Aleitamento materno e terapêutica para a doença coronavírus 2019 (COVID-19). Resid Pediatr. 2020;10(2):1-6. doi: 10.25060/residpediatr-2020.v10n2-323
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