No início da pandemia, com o objetivo de identificar de forma rápida potenciais tratamentos para casos de Covid-19, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou um grande estudo multicêntrico buscando avaliar a eficácia de agentes terapêuticos potenciais.
Chamado de Solidarity, ou Solidariedade, o estudo é um ensaio clínico randomizado com cinco braços em que os participantes podem receber: somente o tratamento padrão (grupo controle), hidroxicloroquina/cloroquina, remdesivir, lopinavir/ritonavir ou a combinação lopinavir/ritonavir e interferon. Para os participantes alocados nos grupos de intervenção, tratamento padrão local foi administrado de forma concomitante.
Após suspensão temporária para análise de segurança, motivada por uma publicação – posteriormente retirada pelos autores – cujos resultados demonstravam maior mortalidade em pacientes que fizeram uso de antimaláricos, a OMS anunciou, esta semana, a suspensão definitiva do braço hidroxicloroquina/cloroquina do estudo.
A decisão foi baseada no anúncio da análise interina dos dados de outro grande ensaio clínico, o RECOVERY, conduzido em 175 hospitais do Reino Unido e que visa a avaliar a eficácia das seguintes modalidades de tratamento: lopinavir/ritonavir, baixa dose de dexametasona, hidroxicloroquina, azitromicina, tocilizumabe e plasma convalescente.
Hidroxicloroquina para Covid-19
Com uma amostra de cerca de 11.000 pacientes, os dados vinham sendo revisados por um comitê independente a cada duas semanas. A análise dos dados do braço de hidroxicloroquina (1.542 pacientes) comparados com o grupo controle, que recebeu somente o tratamento padrão (3.132 pacientes) não mostrou diferença na mortalidade em 28 dias (25,7% vs. 23,5%, respectivamente; HR = 1,11; IC 95% = 0,98 – 1,26; p = 0,1). Também não houve evidências de benefício no tempo de internação ou outros desfechos clínicos. Com isso, o braço foi suspenso, pois a droga foi considerada ineficaz em reduzir a mortalidade de pacientes com Covid-19 hospitalizados.
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Além dos resultados do RECOVERY, a OMS declarou que baseou sua decisão em uma revisão sistemática da Cochrane e nos próprios dados do Solidariedade, que também não mostraram benefício com o uso de antimaláricos.
Os participantes alocados no braço de hidroxicloroquina/cloroquina e que não completaram o tempo de tratamento poderão continuar a receber a droga ou interrompê-la, a critério da equipe assistente. Vale lembrar que a análise interina da OMS não demonstrou maior mortalidade com esses medicamentos.
Outras drogas continuam sendo avaliadas como opções terapêuticas e estudos em relação à profilaxia continuam em andamento.
Referências bibliográficas:
- WHO. “Solidarity” clinical trial for COVID-19 treatments. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/global-research-on-novel-coronavirus-2019-ncov/solidarity-clinical-trial-for-covid-19-treatments
- UNIVERSITY OF OXFORD. RECOVERY. Statement from the Chief Investigators: no clinical benefit from use of hydroxychloroquine in hospitalised patients with COVID-19. Disponível em: https://www.recoverytrial.net/results
- WHO. Hydroxychloroquine arm of Solidarity Trial stops. 17 jun. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/events-as-they-happen
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