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Candidíase invasiva, incluindo candidemia, é uma condição potencialmente fatal que afeta primariamente pacientes críticos e/ou imunossuprimidos e está associada a uma alta mortalidade, a qual pode ultrapassar 50% em alguns cenários de UTI.
Além de neutropenia, outros fatores de risco associados ao desenvolvimento de candidíase invasiva incluem quebras de barreira mucosa e uso de antibióticos de amplo espectro.
O diagnóstico definitivo é estabelecido com a identificação ou crescimento em cultura de Candida spp. em amostras clínicas normalmente estéreis. Entretanto, muitas vezes métodos invasivos são inexequíveis, e a demora nos resultados de cultura pode levar ao atraso no início do tratamento. O uso de biomarcadores é uma alternativa atraente para aumentar a capacidade diagnóstica e orientar a terapia em pacientes com suspeita de infecção por Candida spp.
A dosagem de 1,3-beta-D-glucana (BDG) – um produto da parede celular fúngica presente pela maioria dos fungos, exceto Mucormycetes e Cryptococcus spp. – é um dos biomarcadores mais utilizados, com valores maiores de 80 pg/ml sendo considerados positivos. Contudo, o guideline de diagnóstico laboratorial microbiológico de infecções fúngicas da American Thoracic Society (ATS) recomenda contra o uso de BDG como único teste para tomada de conduta terapêutica em pacientes com suspeita de candidíase invasiva.
Essa recomendação é baseada na visão do painel de autores de que, como candidíase invasiva é uma infecção grave e que necessita de terapia precoce, e como as equinocandinas são em geral medicamentos bem tolerados, o mais importante é um teste com elevada sensibilidade.
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Após revisar a literatura vigente, com a avaliação combinada de dez estudos que focaram em pacientes críticos, os autores chegaram à conclusão de que o teste de BDG não é capaz de, em casos equívocos, determinar ou excluir o diagnóstico de infecção por Candida sp. A sensibilidade combinada do teste foi de 81%, enquanto a especificidade foi de 61%, com um valor preditivo positivo de 19% e um valor preditivo negativo de 50%, considerando uma incidência de 10% da doença.
A ATS destaca que a BDG não é específica de espécies de Candida, com infecções por Aspergillus, Pneumocystis ou outros fungos também podendo gerar resultados positivos. Ao mesmo tempo, estudos avaliando o tratamento empírico de candidíase invasiva não mostraram benefício na redução de mortalidade em pacientes de UTI em ventilação mecânica, independente da estratificação pelos valores de BDG.
O painel reconhece que BDG pode ter valor para descartar infecção fúngica, principalmente em pacientes de alto risco. Essa ressalva está de acordo com o consenso europeu de manejo de candidíase invasiva em pacientes críticos, publicado pelo European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases (ESCMID) esse ano.
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Referências bibliográficas:
- Hage, CA, Carmona, EM, Epelbaum, O, Evans, SE, Gabe, LM, Haydour, Q, Knox, KS, Kolls, JK, Murad, MH, Wengenack, NL, Limper, AH. Microbiological Laboratory Testing in the Diagnosis of Fungal Infections in Pulmonary and Critical Care Practice An Official American Thoracic Society Clinical Practice Guideline. Am J Respir Crit Care Med Vol 200, Iss 5, pp 535–550, Sep 1, 2019
DOI: 10.1164/rccm.201906-1185ST - Martin-Loeches, I, Antonelli, M, Estrella-Cuenca, M, Dimopoulos, G, Einav, S, De Waele, JJ, Garnacho-Montero, J, Kanj, SS, Machado, FR, Montravers, P, Sakr, Y, Sanguinetti, M, Timsit, JF, Bassetti. ESICM/ESCMID task force on practical management of invasive candidiasis in critically ill patients. Intensive Care Medicine 2019. https://doi.org/10.1007/s00134-019-05599-w
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