Herpangina: o que dizem as diretrizes chinesas sobre o manejo?
Herpangina é uma doença infecciosa que acomete as vias aéreas superiores, é causada por enterovírus principalmente Coxsackievirus-A, Coxsackievirus-B, Enterovirus 71 e Echovirus, ocorre o ano todo, mas com predomínio na primavera e no verão. Este artigo foi baseado principalmente nas diretrizes chinesas de tratamento de herpangina.
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Como a herpangina é transmitida?
É transmitida por via fecal-oral, por meio gotículas respiratórias, secreção oral ou nasal do paciente infectado, assim como ao ter contato com as mãos e objetos contaminados com essas secreções. Beber água ou comida contaminada com secreção/gotículas do paciente infectado também causa infecção. O período de incubação é de três a cinco dias. Um mesmo paciente pode ter herpangina mais de uma vez por se infectar com vírus de diferente sorotipo.
Como é o quadro clínico?
É mais comum em crianças com menos de seis anos de idade que frequentam creche ou escola, cursando com:
- Em cavidade oral e orofaringe: hiperemia de orofaringe com vesículas acinzentadas e esbranquiçadas com anel vermelho de 2-4mm que evoluem com úlceras após 1-2dias, enantema em amígdala, arco faríngeo, palato mole, úvula e outras regiões da boca, dor em cavidade oral/orofaringe, disfagia,
- Coriza;
- Linfadenopatia cervical;
- Sinais sistêmicos: febre com duração de 2-4 dias que pode ser alta, cefaleia, diarreia, mialgia, vômitos e/ou hiporexia.
Pode ser a manifestação inicial da síndrome mão-pé-boca, que vai evoluir com exantema eritematoso ou vesicular em palmas das mãos, plantas dos pés, nádegas e joelhos.
Geralmente, a herpangina dura de 4-6 dias com bom prognóstico. Os neonatos, gestantes e imunocomprometidos têm maior chance de evoluir de forma grave.
Como pode complicar?
Raramente pode complicar com crises convulsivas febris (lactentes), edema/hemorragia pulmonar, encefalite, meningite asséptica e/ou miocardite, podendo evoluir com óbito.
Como diagnosticar herpangina?
A herpangina é diagnosticada pelo quadro clínico e epidemiológico (muitas pessoas tiveram história de contato com pessoa infectada).
Na prática, tendemos a pedir a sorologia apenas para os quadros graves ou duvidosos. Pode ser feita sorologia contra Enterovírus, sendo os mais comuns Coxsackievirus-A, Coxsackievirus-B, Enterovirus 71 e Echovirus, sendo que o IgM positivo para um desses vírus confirma o diagnóstico. Também é possível pedir PCR para enterovírus nas fezes, sangue e/ou líquor.
Qual é o tratamento para herpangina?
O tratamento é de suporte com antitérmico, analgesia, repouso, manter hidratação adequada, aumentar a ingestão hídrica, dieta leve sem alimentos ácidos, apimentados, ásperos, duros, quentes ou outros alimentos irritantes, higienizar a boca após as refeições com soro fisiológico.
Orientar procurar Emergência se houver sinais de alarme: oligúria/anúria, sonolência/rebaixamento do nível de consciência, crise convulsiva, fraqueza muscular, rigidez de nuca, agitação, tremor de extremidades, sucção débil e/ou incapacidade de se alimentar. Diante de qualquer complicação, fornecer suporte avançado de vida na Emergência e tratar as complicações. O tratamento de crise convulsiva febril na Emergência deve ser feito com midazolam endovenoso 0,1-0,3mg/kg/dose EV.
A diretriz chinesa para tratamento de herpangina sugere o uso de spray oral anti-interferon alfa na área afetada, mas até o momento não está disponível no Brasil conforme Bulário da ANVISA.
O aciclovir nem o ganciclovir (antivirais que atuam sobre vírus de DNA) não têm efeito sobre a herpangina, que é causada por vírus de RNA.
Avaliar antibioticoterapia se houver infecção bacteriana secundária.
Quais são os diagnósticos diferenciais?
Os diagnósticos diferenciais são:
- Gengivoestomatite herpética;
- Estomatite ulcerativa causada principalmente por cocos gram positivos;
- Sarampo;
- Varicela;
- Doença de Kawasaki;
- Síndrome do choque tóxico.
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Como prevenir
A herpangina pode ser prevenida pelas seguintes medidas:
1) Afastamento da creche/escola/trabalho da pessoa infectada por duas semanas;
2 ) Reforçar a importância da higienização das mãos e de não compartilhar talheres, copo e prato;
3) Em ambiente hospitalar, fazer precaução de gotículas (idealmente o paciente deve ficar em quarto privativo ou com distância mínima de um metro entre o leito dos pacientes, o profissional deve usar máscara cirúrgica e fazer higiene das mãos antes e depois de ter contato com o paciente, idealmente usar equipamentos de saúde (ex. estetoscópio, esfigmomanômetro e termômetro) exclusivos para o paciente com herpangina, restringir o trânsito do paciente no hospital, mas, quando necessário e possível, colocar máscara cirúrgica no paciente.
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