Transfusão de hemácias deve ser feita para tratar ou prevenir iminente e inadequada liberação de oxigênio aos tecidos, sendo a decisão baseada em fatores clínicos e laboratoriais, como idade e comorbidades do paciente, velocidade de instalação da anemia e volume intravascular.
Em indivíduo adulto de estatura média, um concentrado de hemácias normalmente eleva a hemoglobina em 1 g/dL. Pacientes com neoplasias hematológicas costumam receber transfusões sanguíneas, porém, em alguns casos, não ocorre o aumento esperado no valor da hemoglobina.
Transfusão de hemácias em pacientes hematológicos
Estudo recente publicado na revista Transfusion avaliou possíveis fatores que influenciam a resposta dos pacientes hematológicos à transfusão de hemácias. Duzentos e oito receptores de hemácias foram estudados entre novembro de 2014 e janeiro de 2017.
Alguns critérios de inclusão foram: idade igual ou maior a 50 anos, pacientes ambulatoriais e transfusão prévia nos 6 meses anteriores à entrada no estudo. Critérios de exclusão incluíram: sangramento ativo, transfusão durante diálise e angina instável ou infarto do miocárdico nos 30 dias anteriores à entrada no estudo.
A mediana de idade dos participantes foi de 66 anos, sendo 56% do sexo masculino. A doença hematológica mais frequente foi leucemia mieloide aguda, seguida de síndrome mielodisplásica. Na maioria das vezes, o valor de hemoglobina pré-transfusão encontrava-se entre 7 e 8 g/dL, e o paciente recebeu um concentrado de hemácias. Indivíduos com hemoglobina menor que 7 g/dL, em geral, receberam dois concentrados de hemácias.
Cento e noventa e cinco participantes tiveram seus níveis de hemoglobina avaliados 30 minutos após a transfusão.
Resultados e conclusões
Em 75,4% dos casos, o aumento foi inferior a 1 g/dL, sendo a mediana de aumento de 0,6 g/dL após um concentrado. Como era de se esperar, pacientes que receberam dois concentrados de hemácias tiveram um aumento de hemoglobina maior (1,5 g/dL). Nesses casos, observou-se também que o aumento estimado para cada concentrado foi um pouco mais expressivo (0,75 g/dL).
Alguns fatores mostraram relação inversamente proporcional com o incremento na hemoglobina pós-transfusão. Foram eles, em ordem decrescente de relevância: volemia, valor de hemoglobina pré-transfusão e idade. Indivíduos com 63 anos ou mais e hemoglobina igual ou maior a 7,2 g/dL, que receberam um concentrado, tiveram o menor aumento na hemoglobina (0,4 g/dL).
Por outro lado, participantes com hemoglobina menor que 7,2 g/dL ou idade menor que 63 anos tiveram aumento de 1 g/dL e de 0,7 g/dL na hemoglobina, respectivamente. Além disso, pacientes com volemia menor que 4,5 L, que transfundiram dois concentrados, apresentaram o maior aumento na hemoglobina (2,1 g/dL x 1,2 g/dL quando volemia maior que 4,5 L). Sexo, etnia, esquema quimioterápico e doença não impactaram na resposta à transfusão.
Considerando tais variáveis, foi formulado um cálculo para estimar a resposta à transfusão, especificamente dos participantes: aumento de hemoglobina 30 minutos após a transfusão = 4,28 – (0,01 x idade em anos) – (0,21 x volemia em litros) – (0,26 x hemoglobina pré-transfusão em g/dL) + 0 (se um concentrado de hemácias) ou + 1 (se dois concentrados de hemácias).
Mais da autora: Ferropenia na gestação: qual a melhor abordagem?
No estudo, a idade, a volemia e a hemoglobina pré-transfusão variaram entre 50-89 anos, 2,7-7,2 L e 5,9-10,3 g/dL, respectivamente. Seu uso não foi validado para outras populações.
Dados de outros estudos revelam que o peso do paciente e o tamanho do baço também têm relação inversamente proporcional ao aumento de hemoglobina com transfusão. Parece que características do próprio concentrado (como tempo de estocagem e procedimentos especiais) influenciam na resposta à transfusão, porém faltam estudos na literatura que corroborem tal hipótese.
Referências bibliográficas:
- Karafin MS, Bruhn R, Roubinian NH, et al. The impact of recipient factors on the lower‐than‐expected hemoglobin increment in transfused outpatients with hematologic diseases. Transfusion, 2019;00:1-7.
- Reikvam H, Prowse C, Roddie H, et al. A pilot study of the possibility and the feasibility of hemoglobin dosing with red blood cells transfusion. Vox Sang 2010;99:71-6.
- Lee JH, Kim DH, Kim K, et al. Predicting change of hemoglobina after transfusion in hemodynamically stable anemic patients in emergency department. J Trauma 2010;68:337-41.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.