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Ginecologia e Obstetrícia26 março 2025

Vaginose bacteriana e tratamento dos parceiros: é sempre necessário? 

A vaginose bacteriana é a principal causa de corrimento vaginal alterado, afeta um terço das mulheres em idade reprodutiva e tem altas taxas de recorrência.

A vaginose bacteriana (VB) é caracterizada por um predomínio de bactérias anaeróbicas em substituição aos lactobacilos. Assim, se observa uma elevação do pH, um aumento de citocinas inflamatórias e comprometimento da integridade da barreira epitelial, aumentando o risco de complicações infecciosas, especialmente nas gestantes e após procedimentos ginecológicos invasivos. É mais frequente em mulheres com múltiplas parcerias, novas parcerias e que não usam preservativos. No entanto, também podem ocorrer em mulheres sem os fatores de risco descritos acima. Além disso, estudos de microbioma vaginal mostram que algumas populações, como as mulheres africanas e hispânicas, apresentam um predomínio inato de bactérias anaeróbicas em detrimento dos lactobacilos. 

Estudos sugerem que a transmissão entre parceiros pode influenciar a persistência da infecção, indicando que o tratamento do parceiro masculino poderia melhorar as taxas de cura. 

No início de março de 2025, The New England Journal of Medicine publicou um artigo sobre um ensaio clínico realizado para analisar o tratamento dos parceiros em mulheres com VB recorrente. 

Este ensaio clínico randomizado e controlado envolveu mulheres diagnosticadas com VB e seus parceiros masculinos em relacionamentos monogâmicos. O grupo de tratamento incluiu mulheres recebendo terapia antimicrobiana padrão (metronidazol ou clindamicina), enquanto seus parceiros também foram tratados com metronidazol oral e creme de clindamicina 2% aplicado na pele peniana. O grupo controle envolveu apenas o tratamento da mulher. O principal desfecho foi a recorrência da VB em até 12 semanas. 

Leia também: Probióticos vaginais ou orais no tratamento complementar da vaginose bacteriana

Foram incluídos 164 casais, divididos em grupo de tratamento (81 casais) e grupo controle (83 casais). O estudo foi interrompido precocemente após 150 casais completarem o seguimento, pois a estratégia de tratar apenas a mulher mostrou-se inferior ao tratamento combinado. A recorrência da VB foi significativamente menor no grupo tratado junto com o parceiro (35% – 24/69 – IC 95% 1,1-2,4) em comparação com o grupo controle (63% – 43/68 – IC 95% 3,2-5,7). O risco absoluto de recorrência foi reduzido em 2,6 casos por pessoa-ano no grupo de tratamento (p<0,001).  

A inclusão do tratamento do parceiro masculino, com terapia antimicrobiana oral e tópica, resultou em uma menor taxa de recorrência da VB em 12 semanas em comparação ao tratamento convencional. Esses achados sugerem que a abordagem pode ser uma estratégia eficaz para reduzir a recorrência da VB em casos selecionados. 

Vaginose bacteriana e tratamento dos parceiros: é sempre necessário? 

Mensagem prática: vaginose bacteriana e tratamento dos parceiros 

O microbioma vaginal é complexo e variável entre as mulheres. Apesar de ser descrita a transmissão sexual desse perfil bacteriano entre as parcerias perpetuando a manifestação clínica, a VB não é considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST). Precisamos individualizar os casos, classificar corretamente a VB como recorrente e avaliar se há necessidade de tratamento do parceiro. Há de se ter muita cautela na abordagem dessas pacientes ao se decidir tratar os parceiros para que não haja um prejuízo de entendimento como uma IST, além de não haver garantia de cura ou redução das recorrências para todas as mulheres que terão seus parceiros incluídos no tratamento. Estudos maiores são necessários para confirmar os dados acima e desenvolver melhores terapêuticas para o tratamento da VB nos diversos cenários.

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Referências bibliográficas

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