O termo disbiose se refere a todas as modificações do bioma vaginal levando ao desbalanço ou má adaptação das bactérias componentes. O uso desse termo, entretanto não é completamente adequado já que esses componentes não estão em equilíbrio sempre.
Ciclo menstrual e o ciclo de vida em que a mulher se encontra podem ser fatores fisiológicos capazes de modificar esse ambiente, tornando-o, assim, esse bioma não “estável” continuamente. Com isso, uma definição alternativa seria “disbiose seria caracterizada como a não dominância do microbioma vaginal pelos lactobacilos”. Seu estudo é importante pela possibilidade de desconforto clínico (leucorreia), associação com outras IST’s e ainda levar a aumento de complicações no período gestacional (trabalho de parto prematuro, amniorrexe prematura entre outras).
O conhecimento sobre os diferentes tipos de disbioses vaginais tem-se ampliado com as técnicas de biologia molecular e tipificação viral. A relação com invasão urogenital desses patógenos tem se tornado objeto de cada vez mais estudos para tratamento e conhecimento de novos agentes causais.
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O que é a vaginose bacteriana?
A vaginose bacteriana é uma disbiose polimicrobiana que está entre as mais comuns causas de corrimentos vaginais entre mulheres em idade reprodutiva ao redor do mundo. Seu diagnóstico é difícil pelas particularidades de algumas mulheres com seus biomas vaginais ao redor do mundo, variações entre raças e sua etiologia polimicrobiana.
A vaginose sintomática pode ser caracterizada por presença de corrimento vaginal de odor fétido, sem, no entanto, identificação de um agente causal específico. Pela ausência de células inflamatórias na microscopia recebe o nome de “vaginose” e não “vaginite”. Apesar de décadas de pesquisas sua etiologia ainda é desconhecida, apesar de ser importante fator relacionado a aumento de casos de trabalho de parto prematuro, doença inflamatória pélvica, endometrite, neoplasia intraepitelial cervical e outras IST’s como o HIV e HPV.
Epidemiologicamente aparece mais em pacientes com novos parceiros sexuais, adeptas de duchas vaginais e tabagistas com transmissão iminentemente sexual.
Gardnerella vaginalli
A Gardnerella vaginallis está presente em 95-100% dos casos de vaginose bacteriana. Contudo não é a única bactéria responsável pelo corrimento vaginal. Outras como Atopobium vaginae, Megasphaera types, Leptotrichia amnionii, Sneathia sanguinegens, Porphyromonas asaccharolytica, uma bactéria relacionada a Eggerthella hongkongensis, e outra bactéria relacionada a Prevotella generum também foram encontradas em amostras de pacientes com vaginose.
A Gardnerella tem a capacidade, junto com outras bactérias de produzir um biofilme na mucosa vaginal impedindo a manutenção do sistema imune e manutenção do pH pelos lactobacilos, tornando sua infecção um círculo vicioso. Atualmente o tratamento deve ser personalizado de modo a quebrar esse círculo e impedir a manutenção desse biofilme. Assim, associada a grande resistência bacteriana os estudos futuros deverão caminhar para terapias individualizadas imunogênicas.
Outras disbioses vaginais
- Vaginose Citolítica
Também chamada de “lactobacilose” surge numa situação em que se tem um “excesso” de lactobacilos. Esse aumento exagerado pode ou não ser associado a citólise cursando com diminuição de pH vaginal e hiperacidez da mucosa vaginal. Alguns autores não aceitam a patologia ainda.
Os mecanismos envolvidos parecem relacionar-se a fatores hormonais entre eles a progesterona sendo a protagonista. Tanto que situações clínicas como gestação, fase lútea, pré-menopausa são momentos comuns com clínica de sintomas de coceira, ardor, irritação, dispareunia, disúria e corrimento vaginal branco parecendo lascas de queijo podem indicar a patologia.
- Vaginite inflamatória descamativa e vaginite aeróbica
A vaginite inflamatória descamativa é incomum. Associa-se a grande quantidade de corrimento, queimação e irritação vaginal junto com dispareunia. As características do exame físico podem incluir enantema cervical e vaginal, eritema do introito, manchas hemorrágicas, erosões da mucosa vaginal e cervical e corrimento purulento. Deve-se fazer diagnostico diferencial entre tricomoníase, vaginite atrófica, vaginite por Streptococcus grupo A e condições não infecciosas como líquen plano.
A vaginite aeróbica (assim como a vaginose bacterina) tem mostrado relação com quadros de abortos, partos prematuros, amniorrexe prematura, funiculites e corioamnionites. Estudos tem associado também a infertilidade de origem tubaria, doença inflamatória pélvica, síndrome do choque tóxico, IST’s (como HIV) com a vaginose aeróbica. Alguns estudos mais recentes têm feito associação inclusive com neoplasia intraepitelial cervical. Um único estudo encontrou relação da vaginose aeróbica com vulvodinia. Entretanto, talvez poderia ser apenas a atividade inflamatória a responsável por isso e não a patologia em si.
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Já vai longe o tempo em que o espectro de patologias inflamatórias que causavam desequilíbrio entre os lactobacilos e os agentes agressores (trichomonas, gardnerella, chlamydia) era restrito a poucos germes. Hoje temos um verdadeiro compendio de microrganismos responsáveis por desequilíbrio no microbioma vaginal, além dos próprios lactobacilos, em número exagerado causarem também sintomatologia para a pacientes necessitando ajustes para volta ao equilíbrio prévio.
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