A endometriose é uma doença inflamatória benigna (MARIN, 2021) com prevalência variável, entre 05 a 20% (CUNHA, 2021), interferindo diretamente na qualidade de vida da paciente. A mulher com endometriose aparentemente possui uma ativação do sistema imunológico insuficiente, tendo dificuldade de remover tecidos similares ao endometrial fora da cavidade uterina durante a menstruação (MACHAIRIOTIS, 2021). Essa doença, apesar de benigna, pode atingir diversas estruturas anatômicas. A endometriose ureteral (EU) é rara, porém pode trazer consequências severas para as pacientes (CUNHA, 2021).
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Revisão
Em abril de 2021 foi publicada uma revisão sistemática no Journal of Minimally Invasive Gynecology sobre o tratamento laparoscópico da endometriose ureteral. O objetivo deste estudo foi revisar as principais características das pacientes com EU antes da cirurgia, as técnicas cirúrgicas utilizadas e os resultados pós-operatórios.
De acordo com Cunha (2021) 49,1% das pacientes que são submetidas ao tratamento laparoscópico devido EU já haviam sido submetidas a outro tratamento cirúrgico anteriormente. Dismenorreia foi relatado por 76,3% das mulheres, dispareunia por 46,2% e disquesia por 44,8% durante a consulta pré-operatória. Dor pélvica ou supra-púbica tem uma prevalência estimada de 59,6%. Os sintomas do trato urinário baixo (STUB), como disúria, poliúria, urgência miccional e infecção urinária recorrente, tiveram prevalência de 21,3%. Já os sintomas de obstrução ureteral, como dor lombar ou em flanco, esteve presente em 9,9% das pacientes. Ureterohidronefrose teve uma prevalência variada e estimada de 50% nas mulheres com EU.
Durante a cirurgia foi reportado EU esquerda em 55% dos casos, direita em 28,9% e bilateral em 8,7%. 69,1% das pacientes foram submetidas a ureterólise laparoscópica apenas ou foi realizado primeiro antes de um segundo procedimento. Ressecção ureteral com posterior re-implantação foi realizado em 06% dos casos. Ureteroneocistostomia foi realizada em 21% das pacientes e nefrectomia em 0,45% (CUNHA, 2021).
Segundo Cunha (2021), o uso do duplo-J para prevenir lesões ureterais ou fístulas no pós-operatório não é indicada de rotina por não ter evidências suficientes que mostram seu benefício. As lesões ureterais inadvertidas estavam ligadas na sua maioria com a complexidade da cirurgia, e somente 6,6% das pacientes precisaram ter sua cirurgia convertida para laparotomia.
O pós-operatório foi acompanhado entre dois a sete anos e a principal complicação foi fístula e estenose ureteral com prevalência de 2,8% e 24,2%, respectivamente. Em 3,8% das pacientes foi necessário re-operar devido EU e em 3,9% foi necessário uma nova abordagem devido fístula ou estenose ureteral. Os estudos mostraram uma importante melhora nas dores pélvicas e nos sintomas urinários das mulheres com EU (CUNHA, 2021).
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Considerações
EU está associada à dor pélvica crônica, dismenorreia, dispareunia e STUB. A melhor técnica cirúrgica para o tratamento da UE ainda não é consenso, sendo necessários mais estudos. Contudo, a abordagem laparoscópica com ureterólise prévia, deixando a ressecção ureteral apenas para casos refratários, parece ser um tratamento seguro e eficaz, com melhora da dor pélvica e dos sintomas urinários, além de poucas complicações intra e pós-operatórias (CUNHA, 2021).
Referências bibliográficas:
- Cunha FLD, Arcoverde FVL, Andres MP, Gomes DC, Bautzer CRD, Abrao MS, Tobias-Machado M. Laparoscopic Treatment of Ureteral Endometriosis: A Systematic Review. J Minim Invasive Gynecol. 2021 Apr;28(4):779-787. doi: 10.1016/j.jmig.2020.11.022. Epub 2020 Nov 27. PMID: 33253957.
- Marin, M.L.C., Coelho, V., Visentainer, J.E.L. et al. Inhibitory KIR2DL2 Gene: Risk for Deep Endometriosis in Euro-descendants. Reprod. Sci. 28, 291–304 (2021). https://doi.org/10.1007/s43032-020-00255-x
- Machairiotis, N.; Vasilakaki, S.; Thomakos, N. Inflammatory Mediators and Pain in Endometriosis: A Systematic Review. Biomedicines 2021, 9, 54. https://doi.org/10.3390/biomedicines9010054
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