As síndromes hipertensivas complicam 10% das gestações no mundo. As complicações relacionadas ao transtorno hipertensivo aumentam a morbimortalidade do binômio materno fetal. Pelo lado materno, pode-se observar maior número de casos de síndromes metabólicas, doenças imunes e doenças neurológicas e psiquiátricas.
Entretanto, não se acha na literatura pesquisas ou relatos avaliando a repercussão dos quadros hipertensivos maternos em sua prole ao decorrer da vida de seus filhos.
Análise recente
Com a premissa de avaliar desfecho para a prole de mães com síndromes hipertensivas, uma coorte dinamarquesa publicada em outubro desse ano no The British Medical Journal avaliou nascimentos entre 1978 e 2018. O follow-up desses pacientes foi até que um dos seguintes eventos acontecesse primeiro: morte, emigração ou data de 31 de dezembro de 2018.
Os desfechos de interesse primário foram todas as causas registradas no obituário nacional dinamarquês. Como objetivo secundário avaliaram 13 causas de morte específicas. Para tal, os registros utilizaram a classificação CID:
- doenças cardiovasculares;
- câncer;
- doenças infecciosas e parasitárias;
- doenças endocrinológicas doenças nutricionais e metabólicas;
- doença mental e distúrbios comportamentais;
- doenças do sistema nervoso e órgãos dos sentidos;
- doenças do sistema respiratório;
- doenças do sistema digestivo;
- doenças do sistema musculo esquelético ou tecido conjuntivo;
- doenças do aparelho geniturinário;
- certas condições com origem no período perinatal;
- congênito malformações e anomalias cromossômicas;
- e causas externas de morbidade e mortalidade.
A amostragem final trouxe um total de 2.437.718 descendentes, sendo 102.095 (4,2%) filhos de mães hipertensas, incluindo 68 362 (2,8%) expostos a pré eclampsia e eclampsia e 33 733 (1,4%) expostos a hipertensão somente.
Nesse seguimento de 41 anos ocorreram 781 mortes (58,94 por 100.000 pessoas/ano) de filhos de mães com pré eclampsia, 17 óbitos (133,73 por 100 000 pessoas/ano) filhos expostos a eclampsia, 223 (44,38 por 100.000 pessoas/ano) expostos a hipertensão e 19.119 (41,99 por 100 000 pessoas/ano) mortes de pessoas não expostas.
Os autores concluíram que os filhos de mães com síndromes hipertensivas durante a gestação têm um potencial maior de desenvolver complicações incluindo o óbito. Particularmente, a pré eclampsia e a eclampsia estão associadas com aumento na taxa de mortalidade por várias causas dede o nascimento até a idade adulta de sua prole.
Saiba mais: ACC 2022: tratamento de hipertensão crônica leve em gestantes – the CHAP project
Mensagem prática
Esse trabalho traz a consolidação do que já tínhamos de arsenal na literatura de informações sobre o benefício para a gestação atual do uso de aspirina e cálcio na prevenção da gravidade da pré-eclâmpsia e eclâmpsia. Agora, com esse estudo, confirma-se a necessidade de cuidado e prevenção ao máximo dos casos de síndromes hipertensivas na gravidez, uma vez que podem complicar não só a gestação atual, mas o futuro da mãe e até mesmo de sua prole em longa data.
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