Em 17 de março deste ano, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) se uniu à Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), para criar uma diretriz para orientações sobre clampeamento tardio ou precoce do cordão umbilical.
Sabemos que, nos últimos anos, esse tema tem sido alvo de muitas discussões e metanálises. E que, em 2012, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reiterou sua recomendação de retardar o clampeamento tardio do cordão umbilical para recém-nascidos (RN) a termo ou pré-termo que não necessitam de reanimação ao nascer, com o objetivo de reduzir a anemia infantil. Quanto maior o tempo do clampeamento, maior o estoque de ferro e, consequentemente, maior prevenção contra a anemia ferropriva. O tempo recomendado é de 1 a 3 minutos após o nascimento, geralmente, quando a circulação do cordão cessa à palpação.
Outra informação que deve ser passada é que a ocitocina continua sendo prescrita após saída do bebê, pois a contração uterina favorece o fluxo de sangue placentário para o concepto. Além disso, aguardar a dequitação espontânea fisiológica, após o clampeamento tardio, não aumenta o risco de hemorragia materna.
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Clampeamento do cordão no RN a termo ou prematuro tardio com idade gestacional (IG) > 34 semanas:
Já é sabido de longa data que o clampeamento tardio do cordão umbilical melhora índices hematimétricos e também melhora o estoque de ferro no lactente. Porém, aumenta a chance de policitemia e icterícia.
Alguns estudos tentaram associar também o clampeamento tardio com a melhora do desenvolvimento, porém ainda não há evidências suficientes.
Até o momento, em RN que necessitam de reanimação, não se deve recomendar o clampeamento tardio.
Na cesariana eletiva e no crescimento fetal restrito, é benéfico esse clampeamento tardio.
Em casos de placenta prévia, descolamento prematuro de placenta ou nó ou prolapso de cordão umbilical, não se sabe o tempo adequado para o clampeamento.
A ordenha do cordão umbilical , até o momento, não é recomendada, pois não se sabe se há melhora dos parâmetros hematológicos em longo prazo.
O clampeamento tardio é considerado quando ocorre acima de 30 segundos até vários minutos, porém o tempo ideal não foi bem estabelecido.
Clampeamento do cordão no RN prematuro com IG < 34 semanas:
No RN de boa vitalidade e sem necessidade de reanimação, já é recomendado o clampeamento tardio em tempo superior a 30 segundos.
Esse clampeamento tardio (de 30 a 180 segundos) mostrou redução da mortalidade intra-hospitalar e diminuição da hemorragia peri-intraventricular.
O clampeamento tardio nessa faixa etária também mostrou melhor estabilidade da pressão arterial e menor chance de hemotransfusão.
A ordenha do cordão umbilical não mostrou dados suficientes, e um estudo com RN com menos de 28 semanas de IG, a ordenha do cordão foi associada a aumento de hemorragia peri-intraventricular. Por isso, há forte recomendação do clampeamento maior que 30 segundos.
Em prematuros que necessitam de reanimação, não há evidências suficientes para recomendar o clampeamento tardio, além de atrasar o minuto de ouro da reanimação neonatal.
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Em gestantes HIV positivas, o clampeamento tardio também é recomendado, pois não aumenta o risco de positividade do feto.
Em situações específicas como gestação múltipla, risco materno-fetal, malformação fetal, aloimunização e crescimento fetal restrito, não há estudos suficientes para esses casos, sugerindo que a conduta seja individualizada.
O que se tem certeza é que são necessários mais estudos em prematuros.
Recomendações atuais
Para o RN ≥ 34 semanas:
- Se boa vitalidade ao nascer: aguardar, pelo menos, 60 segundos para clampear o cordão;
- Se o RN necessitar de reanimação: clampear imediatamente e não retardar a ventilação com pressão positiva;
- Ordenha de cordão: sem evidências até o momento.
Para o RN prematuro < 34 semanas:
- Se boa vitalidade: aguardar, pelo menos, 30 segundos para clampear o cordão;
- Se o RN necessitar de reanimação: clampear imediatamente e não retardar a ventilação com pressão positiva;
- Ordenha de cordão: sem evidências até o momento.
Por fim, é essencial que pediatras e obstetras tenham conhecimento dessa diretriz. O clampeamento tardio se trata de um procedimento sem custo e simples de ser executado, mas que pode fazer toda a diferença no futuro de nossos RN.
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