Logotipo Afya
Anúncio
Ginecologia e Obstetrícia6 dezembro 2023

Progesterona micronizada vaginal para distúrbios hipertensivos na gravidez?

A hipótese de que a progesterona vaginal pode reduzir o risco de distúrbios hipertensivos da gravidez é ainda inexplorada na literartura.

Por Ênio Luis Damaso

Os distúrbios hipertensivos da gravidez, incluindo hipertensão arterial gestacional e pré-eclâmpsia, afetam cerca de 18 milhões de gestantes em todo o mundo todos os anos. Essas gestações têm um risco aumentado de parto prematuro espontâneo e, inversamente, mulheres com partos prematuros espontâneos em gestações anteriores têm um risco aumentado de síndrome hipertensiva na gravidez subsequente. A sobreposição dessas morbidades obstétricas sugere vias etiológicas comuns. Diante desses fatos, um grupo de cientistas publicaram recentemente na revista BJOG uma revisão sistemática, cujo objetivo foi resumir as evidências sobre a eficácia da progesterona vaginal para reduzir o risco de síndromes hipertensivas na gravidez. O tratamento com progesterona vaginal reduz o risco de aborto espontâneo e parto prematuro em mulheres de alto risco. A hipótese de que a progesterona vaginal pode reduzir o risco de distúrbios hipertensivos da gravidez é ainda inexplorada na literartura. 

 Saiba mais: Aspirina e hipertensão arterial na gravidez

Progesterona micronizada vaginal para distúrbios hipertensivos na gravidez?

Progesterona micronizada vaginal para distúrbios hipertensivos na gravidez?

Metodologia 

Foram feitas buscas nas plataformas Embase (OVID), MEDLINE (OVID), PubMed, CENTRAL e clinictrials.gov desde o início até 20 de junho de 2023. Os critérios de seleção foram ensaios clínicos randomizados controlados por placebo de progesterona vaginal para a prevenção ou tratamento de quaisquer complicações na gravidez. Foram extraídos dados de eventos para síndromes hipertensivas e pré-eclâmpsia em mulheres que receberam progesterona vaginal ou placebo, e, então, realizada uma metánalise. 

Principais resultados 

A revisão incluiu 11 ensaios clínicos, dos quais três iniciaram progesterona vaginal no primeiro trimestre e oito no segundo ou terceiro trimestres. No total, os estudos incluídos avaliaram um total de 11.640 mulheres. As mulheres participantes estavam grávidas em todos os estudos, com idade gestacional na randomização variando entre <6 semanas a 36 semanas. Três estudos incluíram apenas mulheres com gestações únicas, quatro incluíram apenas mulheres com gestações gemelares e os quatro estudos restantes incluíram mulheres com gestações únicas ou gemelares. 

A dose diária total de progesterona micronizada vaginal variou entre 100 e 800 mg, e todos os ensaios foram controlados por placebo. 

A progesterona vaginal iniciada no primeiro trimestre da gravidez reduziu o risco de qualquer síndrome hipertensiva da gravidez (taxa de risco [RR] 0,71, intervalo de confiança [IC] de 95% 0,53–0,93, 2 ECRs, n = 4.431 mulheres, I2 = 0%; qualidade moderada evidência) e pré-eclâmpsia (RR 0,61, IC 95% 0,41–0,92, 3 ECRs, n = 5.267 mulheres, I2 = 0%; evidência de qualidade moderada) quando comparado com placebo. A progesterona vaginal iniciada no segundo ou terceiro trimestres não foi associada a uma redução de qualquer síndrome hipertensiva da gravidez (RR 1,19, IC 95% 0,67–2,12, 3 ECRs, n = 1.602 mulheres, I2 = 9%; evidência de baixa qualidade) ou pré-eclâmpsia (RR 0,97, IC 95% 0,71–1,31, 5 ECRs, n = 4.274 mulheres, I2 = 0%; evidência de baixa qualidade). 

 Leia também: Comparação entre clampeamento tardio e imediato do cordão umbilical em prematuros

Conclusão 

Essa revisão mostrou que gestantes que iniciaram o tratamento com progesterona vaginal no primeiro trimestre tiveram uma redução de 29% na taxa de síndromes hipertensivas e uma redução de 39% na taxa de pré-eclâmpsia em comparação com o placebo.  

Os autores sugerem que há necessidade de estudos adicionais que investiguem as vias pelas quais a progesterona pode prevenir a má adaptação placentária, e de ensaios clínicos randomizados que avaliem o início da progesterona vaginal no primeiro trimestre para prevenir a pré-eclâmpsia em mulheres de alto risco. 

Anúncio

Assine nossa newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Ao assinar a newsletter, você está de acordo com a Política de Privacidade.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Referências bibliográficas

Compartilhar artigo