A dificuldade do diagnóstico da torção anexial pode levar a procedimentos cirúrgicos desnecessários ou atrasar um procedimento necessário. O desafio do diagnóstico ocorre devido aos sintomas, características ultrassonográficas e achados laboratoriais serem inespecíficos.
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O valor da combinação de características clínicas, ultrassonográficas e laboratoriais não está bem estabelecido na literatura atual, e a controvérsia continua em relação ao seu valor no diagnóstico. Em outubro de 2022 foi publicado um artigo na Obstetrics and Gynecology Research com o objetivo de revisar as características ultrassonográficas, clínicas e laboratoriais, além de analisar seu valor separadamente e em combinação, no manejo e diagnóstico das torções anexiais.

Métodos do estudo sobre torção anexial
Os pesquisadores selecionaram 278 mulheres submetidas a cirurgia laparoscópica de urgência por suspeita de torção anexial, conforme suspeita clínica, com ou sem concordância ultrassonográfica. Os achados da laparoscopia confirmaram o diagnóstico definitivo de torção e as características clínicas, laboratoriais e ultrassonográficas foram comparadas entre aqueles com e sem torção anexial.
Resultados
Segundo os autores, a torção anexial foi confirmada em 110/278 (39,6%) mulheres. E esse foram os resultados obtidos por eles:
- No grupo com torção comparado ao grupo sem torção, as proporções foram maiores de mulheres com dor abdominal aguda nas últimas 24 h ([50] 45,5% vs. [35] 20,8%, p < 0,001), com vômitos ([45] 40,9% vs. [24] 14,3%, p < 0,001) e com suspeita de torção por ultrassonografia transvaginal ([49] 44,5% vs. [23] 13,7%, p < 0,001).
- Houve uma alta relação neutrófilos/linfócitos (>3), identificada em 65 (59,1%) do grupo de estudo e 60 (35,7%) do grupo controle (p< 0,001).
- Combinando os três últimos achados, a probabilidade prevista de torção foi de 58% a 85%, dependendo das combinações.
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Conclusão
De acordo com os resultados obtidos pelos autores, um modelo preditivo simples baseado em combinações de achados clínicos, laboratoriais e ultrassonográficos podem contribuir para o diagnóstico pré-operatório de torção anexial, com probabilidade prevista de 85%.
Considerações e mensagem prática sobre torção anexial
Apesar de ser um artigo recente, acredito que essa combinação de exame clínico, exames laboratoriais e exames de imagem já seja feito no Brasil e no mundo há algum tempo. Contudo, é importante verificarmos que os nossos protocolos condizem com as evidências científicas, para podermos manter esse padrão de atendimento.
Autoria

Letícia Suzano Lelis Bellusci
Graduação em Medicina pela Universidade José do Rosário Vellano ⦁ Residência em Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital Regional de Presidente Prudente ⦁ Especialização em Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva pelo Hospital Sírio-Libanês ⦁ Especialização em Ultrassonografia em Ginecologia e Obstetrícia pela Faculdade de Tecnologia em Saúde ⦁ Especialização em andamento em Medicina fetal pela Fetus
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