Um artigo de revisão escrito por autores da Turquia e do Irã foi publicado recentemente no International Journal of Gynecology and Obstetrics com o título: “Global prevalence and risk factors of obstetric violence:A systematic review and meta-analysis”. O objetivo do estudo foi avaliar a prevalência de violência obstétrica (VOB), identificar os fatores de risco associados e fazer sugestões para melhorar as práticas e políticas de assistência materna.
A violência obstétrica refere-se ao tratamento desrespeitoso e abusivo sofrido por mulheres durante o parto, violando seus direitos, dignidade e autonomia, podendo incluir intervenções não consentidas, procedimentos forçados e discriminação. Esse tipo de violência ocorre em hospitais e centros de parto e apresenta variações conforme o contexto: cesáreas forçadas e episiotomias frequentes são comuns nas Américas e Europa, enquanto partos sem assistência prevalecem em países de baixa e média renda.
Embora alguns profissionais de saúde rejeitem o termo VOB, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece esse problema como uma violação dos direitos das mulheres. A VOB afeta a saúde emocional, sexual e a relação mãe-bebê, além de reduzir a confiança nos sistemas de saúde. Estudos revelam variações na prevalência global (12%–75%), com taxas elevadas em países como Gana, Nigéria e México. A falta de dados abrangentes e unificados sobre a VOB limita a compreensão de sua real extensão e impacto, evidenciando a necessidade de metodologias robustas e definições padronizadas para embasar políticas eficazes e melhorar a experiência de cuidado materno globalmente.
Metodologia
Trata-se de uma revisão sistemática. Essa revisão focou em mulheres que deram à luz. Os seguintes critérios foram estabelecidos para a seleção dos estudos: os desenhos de pesquisa deveriam empregar uma abordagem observacional e as participantes deveriam ser mulheres saudáveis que tiveram o parto, independentemente de o parto ter sido vaginal ou cesárea. Foram excluídas as pesquisas que não incluíram dados relevantes sobre o VOB ou o desrespeito vivenciado durante o parto, as investigações que avaliaram a violência doméstica e aquelas que se basearam apenas em métodos qualitativos e não forneceram dados quantitativos. Além disso, estudos que não passaram por um processo de revisão por pares, como resumos de conferências, editoriais ou cartas ao editor, foram omitidos. Estudos classificados como metanálises ou revisões sistemáticas também foram excluídos.
O desfecho primário foi a taxa de violência perpetrada contra mulheres durante o trabalho de parto e parto por profissionais de saúde. O desfecho secundário foi um fator relacionado ou fatores de risco do VOB. As formas de violência obstétrica foram categorizadas em sete dimensões, como abuso físico, cuidado não consentido, violação de confidencialidade, cuidado não digno, discriminação, abandono e detenção nas instalações de saúde
Principais achados
Um total de 810 registros foram identificados usando a estratégia de busca. Após uma revisão minuciosa dos títulos e resumos, foram identificados 32 artigos que foram considerados relevantes para a análise do texto completo. No entanto, após um exame mais aprofundado, sete estudos foram excluídos. Um foi um estudo qualitativo, e um era sobre violência doméstica durante a gravidez. Um artigo não forneceu uma definição clara de VOB e outro explorou a medicalização. Dois estudos examinaram a percepção de estudantes de medicina e profissionais de saúde sobre o VOB. Finalmente, um estudo relatou a prevalência de VOB com base na observação direta.
O número acumulado de participantes nesses estudos foi de 57.119, e os estudos foram realizados em 15 países. A prevalência global de VOB estimada com base em 25 estudos, calculada com um modelo de efeitos aleatórios, foi de 59% (intervalo de confiança [IC] de 95% 0,48–0,70). O subdomínio mais prevalente do VOB foi o cuidado não consentido (37%; IC 95% 0,23–0,50). Os seguintes fatores foram significativamente associados a VOB: a presença de uma parteira como pessoal qualificado ao lado da mulher durante o parto (odds ratio [OR] [IC 95%] = 0,4 [0,2–0,9]) pode reduzir a probabilidade de VOB; níveis médios e altos de renda (OR [IC 95%] = 0,5 [0,2–0,7]) também pode reduzir a probabilidade; e parto vaginal (OR [IC 95%] = 2,08 [1,1–3,08]) pode aumentar a probabilidade de VOB.
Violência obstétrica: conclusões e mensagem prática
A meta-análise revelou uma prevalência global de 60% para VOB, com variações substanciais entre os estudos. Essa alta taxa de prevalência indica que a VOB é um problema generalizado, afetando uma proporção significativa de mulheres durante o parto. Os resultados destacam a necessidade urgente de intervenções em vários níveis (ou seja, prática de saúde, política e pesquisa) para abordar essa questão generalizada. Priorizar cuidados de maternidade respeitosos, melhorar o consentimento informado, apoiar os cuidados liderados por parteiras e abordar as disparidades socioeconômicas ajudará a desenvolver um sistema de saúde que garanta segurança, dignidade e respeito a todas as mulheres.
Saiba mais: Dez passos para combater a violência obstétrica
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.