Consequências de longo prazo da violência doméstica
Uma revisão guarda-chuva de meta-análises incluindo estudos longitudinais avaliou as consequências de longo prazo da violência doméstica sobre a saúde, mais especificamente maus-tratos na infância e violência entre parceiros íntimos. Publicados no último mês de outubro no Journal of Family Violence, os resultados obtidos mostraram uma ligação significativa entre violência familiar e desfechos mentais, sociais e físicos em acompanhamentos que variaram de 1 a 17 anos.
Sobre o estudo
A revisão incluiu 18 meta-análises que trataram no total de 150 estudos e geraram dados sobre 3 milhões de indivíduos. Os pesquisadores calcularam a Odds Ratio (OR) pelo tipo de violência doméstica e resultado gerado e estimativas de frações atribuíveis populacionais (FAPs —quantificam a redução proporcional de um desfecho se a exposição ao fator avaliado, no caso violência doméstica, pudesse ser eliminado) para medir o verdadeiro impacto clínico da violência.
De acordo com uma dos autores, Sophia Backhaus, este é o primeiro estudo dessa escala a explorar a relação de longo prazo entre violência familiar e saúde, além de fornecer estimativas de significância clínica para os resultados de saúde examinados. “Nossa abordagem ajudou a fornecer uma imagem clara e completa das melhores evidências disponíveis, que acreditamos que servirão como uma ferramenta valiosa para pesquisadores, profissionais e formuladores de políticas em todo o mundo.”, complementou.
Achados
Com uma mediana de acompanhamento de 5 anos entre os estudos, maus-tratos na infância e violência entre parceiros foram ligados a 16 desfechos adversos, psicológicos e físicos. A OR geral variou entre 1,04 e 2,70.
Para casos de maus-tratos a ligação mais forte foi com transtornos de ansiedade (OR 2,70), seguida por tentativas de suicídio (OR 2,63) e maiores índices de mortalidade na vida adulta (OR 2,20). Também foi constatada uma forte correlação com comportamento antissocial, depressão entre outros desfechos psiquiátricos.
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Já em relação a casos de violência entre parceiros íntimos a correlação maior foi com o uso de drogas pesadas (cocaína, crack, heroína), com OR de 2.03. Depressão pós-parto (OR 1,98) e partos prematuros (OR 2,03) também figuraram como desfechos significantes, mas apareceram mais em estudos primários.
As FAPs variaram de 0,9% a 25,6%, quando consideradas as prevalências globais de maus-tratos e violência entre parceiros, com os maiores índices relacionados com tentativas de suicídio e transtornos de ansiedade (ambos maiores que 25%). Considerando os desfechos mais comuns, esse valor ficou entre 10% e 15%
Os autores consideraram que mesmo utilizando percentuais gerados por dados mais conservadores, de 1% a 6%, o impacto de exposição a maus-tratos na infância ou violência entre parceiros ainda seria enorme. Só nos Estados Unidos, 2,8 milhões de pessoas teriam desenvolvido depressão devido a esses fatores.
Conclusão: efeitos da violência e necessidade de prevenção
Para os autores, os achados demonstram uma evidente ligação entre violência doméstica e o desenvolvimento de uma gama enorme de efeitos sobre as saúde das vítimas, o que denota uma necessidade de investimentos em ações de prevenção e apoio a essa população. De acordo com a publicação, estatisticamente falando, observa-se que o número de crianças que não desenvolvem problemas de longo prazo demonstra a existência de fatores de proteção que devem ser identificados e explorados em estudos e iniciativas futuras.
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*Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal Afya.
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