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Ginecologia e Obstetrícia4 setembro 2024

Infecção puerperal: diagnóstico e tratamento

A infecção puerperal refere-se a qualquer infecção bacteriana do trato genital feminino no período pós-parto.

A infecção puerperal, também conhecida como febre puerperal, refere-se a qualquer infecção bacteriana do trato genital feminino no período pós-parto. Ela ainda representa uma causa considerável de mortalidade materna. Essa infecção é a principal causa de febre no puerpério, indicando a presença de endometrite, endomiometrite ou endoparametrite. Para destacar a relevância clínica dessa condição, foi introduzido o termo “morbidade febril puerperal”, que se define como a elevação da temperatura corporal para pelo menos 38°C, excluindo as primeiras 24 horas pós-parto, por pelo menos dois dias durante os primeiros 10 dias do período pós-parto, com a temperatura medida por via oral. 

infecção puerperal

Mortalidade Materna 

O óbito materno durante o ciclo gravídico-puerperal representa o desfecho mais grave dentro da assistência à saúde materna. A análise das causas de mortalidade materna revela que as principais etiologias incluem hipertensão, hemorragia, infecções puerperais, doenças do aparelho circulatório complicadas pela gravidez, parto e puerpério, e aborto espontâneo ou induzido. 

Saiba mais: Estudo aponta que mortalidade materna é maior entre indígenas 

Fatores de Risco para Infecção Puerperal 

A cesárea é identificada como o principal fator de risco para o desenvolvimento de infecção puerperal. A profilaxia antibiótica durante o procedimento, tanto eletivo quanto de urgência, reduz significativamente a incidência de infecção puerperal. Outros fatores predisponentes incluem ruptura prematura de membranas ovulares, anemia, uso de fórceps, lacerações do canal de parto, trabalho de parto prolongado e infecção vaginal, todos associados ao aumento do risco de endometrite após o parto vaginal. 

Microbiologia 

A infecção puerperal, ou endometrite, é predominantemente polimicrobiana. Os microrganismos frequentemente envolvidos são bactérias do trato gastrointestinal que colonizam o períneo, a vagina e o colo uterino. Os patógenos mais frequentemente isolados em casos de endometrite incluem Streptococcus agalactiae, Enterococcus spp., Escherichia coli, Bacteroides bivius e Bacteroides disiens. 

Diagnóstico de Endometrite (Infecção Puerperal) 

O diagnóstico de endometrite é fundamentalmente clínico, baseado na anamneses e no exame físico. Não são necessários exames complementares se houver alta suspeita clínica.  

A presença de febre é o principal critério diagnóstico, desde que outras causas sejam rapidamente excluídas. Febre acima de 38,5°C, mesmo nas primeiras 24 horas pós-parto, não deve ser desconsiderada, pois Streptococcus pyogenes (grupo A) e Streptococcus agalactiae (grupo B) podem causar febre precoce. Aproximadamente 10 a 20% das pacientes com endometrite apresentam sinais de bacteremia, como febre, calafrios, tremores, taquipneia e taquicardia. Portanto, pacientes no pós-parto com temperatura oral ≥ 38°C e taquicardia devem ser investigadas para infecção até que se prove o contrário. A dor abdominal pode ser um sintoma auxiliar na endometrite pós-parto vaginal, mas após cesárea, muitas mulheres relatam dor abdominal moderada, o que pode complicar a diferenciação entre um pós-parto normal e uma endometrite. A tríade clássica de endometrite pós-parto (tríade de Bumm) inclui um útero doloroso, pastoso e hipoinvoluído. Adicionalmente, a loquiação pode se tornar fétida e apresentar aspecto purulento. 

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Tratamento 

O tratamento baseia-se na prescrição de antibióticos de largo espectro, uma vez que a infecção é polimicrobiana. Em virtude do potencial de complicação, dá-se preferência a instituir o tratamento com a paciente internada. Em casos de endometrite não complicada, a antibioticoterapia parenteral deve ser administrada até a paciente tornar-se afebril por 24 a 48 horas. Após esse período, não há necessidade de manutenção de antibióticos, sequer por via oral, podendo a paciente ser liberada. 

As combinações mais comumente utilizadas são: 

  • Clindamicina (900 mg, IV, a cada 8 horas ou 600 mg, IV, a cada 6 horas) em associação com gentamicina (3,5 a 5 mg, IV, a cada 24 horas) OU 
  • Ampicilina/sulbactam (3 g, IV, a cada 6 horas) 

A curetagem só está indicada quando da existência de restos ovulares, devendo ser praticada após iniciada a antibioticoterapia e com a paciente em uso de ocitocina venosa. 

Conclusão 

A infecção puerperal ainda hoje é importante causa de óbito materno. Geralmente, trata-se infecção de caráter polimicrobiano, sendo que as bactérias envolvidas são as mesmas que habitam o intestino e colonizam a vulva, o períneo e a vagina. O diagnóstico é clínico. Descartadas rapidamente outras causas de febre, deve-se instituir terapêutica com antibióticos de largo espectro. 

Autoria

Foto de Ênio Luis Damaso

Ênio Luis Damaso

Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).

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